Os preços do aço despencaram neste mês, deflagrando uma corrida entre as siderúrgicas dos Estados Unidos para manter preços e participação de mercado diante do excesso de oferta no país.
O rápido declínio dos preços, numa época do ano em que eles costumam subir, levou vários produtores a enviar cartas aos clientes na semana passada informando que não iriam mais oferecer descontos sobre os preços de referência publicados por firmas de dados. Isso pode, porém, ser dificultado por outros produtores que continuem com descontos e promoções, inclusive frete gratuito.
A batalha entre as siderúrgicas está sendo bem vista pelos clientes. Brad Clark, diretor de negociações de aço da Katanam Metals LLC, americana que comprou e vendeu 150.000 toneladas de aço no ano passado, disse que a alemã ThyssenKrupp AG vem oferecendo regularmente preços 3% menores que o de outras companhias pelo aço que faz na sua fábrica no Estado americano do Alabama. A empresa alemã, que tenta vender a planta, está sob pressão para continuar produzindo e assim gerar receita e cobrir custos até encontrar comprador.
Para atrair novos clientes em Ohio, Illinois e outros Estados do chamado Centro-Oeste americano que geralmente não querem pagar o transporte desde o Alabama, a ThyssenKrupp vem melhorando suas ofertas com um "equalizador do frete", o que significa que ela arca com o custo do transporte. "Eles vêm tentando ganhar participação de mercado", disse Clark. A ThyssenKrupp, que produz material de alta qualidade usado em carros, caminhões e bens de consumo, não quis comentar.
Num esforço para conservar sua fatia de mercado numa economia fraca, as siderúrgicas têm, desde a crise financeira, oferecido cada vez mais descontos de 5% a 8% nos contratos atrelados aos preços de tabela. "Todo mundo está baixando preços porque há muito aço no mercado", diz Charles Bradford, analista da Bradford Research Inc. As siderúrgicas também oferecem reembolsos e abrem mão de algumas tarifas extras nos produtos de maior qualidade, segundo compradores.
Nas últimas semanas, entretanto, as coisas chegaram a tal ponto - com algumas ofertas caindo a até US$ 570 a tonelada para o tipo padrão de bobinas laminadas a quente, comparado com US$ 640 no começo do ano - que pelo menos três grandes produtores anunciaram que estão suspendendo esses programas de descontos. "Não vamos mais fazer nenhum negócio com desconto [sobre o preço de tabela]", escreveu a equipe de vendas da ArcelorMittal numa carta aos clientes a que o The Wall Street Journal teve acesso. Muitas outras siderúrgicas estavam oferecendo descontos, dizia a carta, "criando um preço teto anormal" e "minando nossa capacidade de cobrar um preço justo pelo valor dos nossos produtos".
A ArcelorMittal afirmou que iria cobrar preços fixos durante o resto do ano em contratos "mensais, trimestrais e semestrais". A empresa não quis comentar.
Contratos de aço são confidenciais, mas firmas como Platts e Steel Market Update publicam tabelas, com as médias dos preços pagos nos contratos à vista, baseadas em pesquisas anônimas. Dois anos atrás, quando os preços voltavam a subir na esteira da recuperação do setor automobilístico nos EUA, as siderúrgicas começaram a atrelar os preços a essas tabelas para aproveitar a melhora da economia.
Agora, com os preços em queda, o incentivo desapareceu. Assim como a ArcelorMittal, a russa Severstal, com uma grande usina no Estado de Michigan, também afirmou que iria parar de dar descontos ou usar preços de tabela porque eles "nem sempre refletem as condições de mercado", segundo carta enviada a clientes que anunciava um aumento nos preços base de US$ 40 a US$ 50 por tonelada.
Os negociadores estão observando atentamente a ThyssenKrupp, que pôs à venda sua usina no Alabama e uma fábrica no Brasil. A Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) e uma sociedade da ArcelorMittal com a japonesa Nippon-Sumitomo já fizeram ofertas de compra. Temendo a desvalorização dos seus estoques de aço, estão torcendo para que a oferta da Arcelor Mittal saia vencedora. Como já tem várias siderúrgicas nos EUA, eles "acreditam que ela eliminaria seu excesso de capacidade, enquanto uma vitória da CSN traria um novo participante ao mercado e não eliminaria o excesso de capacidade", diz John Packard, consultor do setor.
Fonte: Valor Econômico/(Colaborou James R. Hagerty.
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