O melhor desempenho das operações da JBS no Brasil no primeiro trimestre deste ano, impulsionado pela queda nos preços do boi gordo, não foi capaz de ofuscar, aos olhos do mercado, o impacto dos negócios de bovinos da companhia nos EUA, que sofreram com a escassez de animais para abate. Ontem, as ações da JBS caíram 8,83%, a maior baixa entre os papéis do Índice Bovespa.
Segundo balanço divulgado na terça-feira, o lucro consolidado da JBS antes de juros, impostos e amortizações (Ebitda, em inglês) nos primeiros três meses do ano apresentou retração de 16,7% sobre o mesmo intervalo do ano passado, para R$ 696,5 milhões.
No mesmo período, a unidade de negócios JBS USA Carne Bovina (que inclui as operações na Austrália) reportou um Ebitda negativo de R$ 45,4 milhões no trimestre, ante um Ebitda positivo de R$ 269,7 milhões um ano antes.
"O maior desafio neste ano é o negócio de bovino nos EUA", admitiu o presidente da JBS, Wesley Batista, em teleconferência ontem com analistas de mercado. Segundo ele, a indústria americana enfrenta dificuldades para repassar ao consumidor o aumento dos custos de produção decorrente da escassez de animais para abate.
Se o desempenho dos negócios de bovinos nos EUA decepcionou, o inverso ocorreu no Brasil, onde o mercado observa um aumento da oferta de boi gordo e uma queda nos preços da matéria-prima. No primeiro trimestre, a JBS Mercosul, que contempla as operações da empresa no Brasil, foi responsável por 73% do Ebitda total da companhia, porcentual bastante inferior à participação de 22,5% que a divisão teve na receita total da JBS, que chegou a R$ 16,011 bilhões no primeiro trimestre do ano.
Entre janeiro a março, a JBS Mercosul registrou um Ebitda de R$ 508,6 milhões, salto de quase 65% em relação aos R$ 308,3 milhões apurados um ano antes. Na mesma comparação, a margem Ebitda passou de 8,6% para 13,3%.
De olho nesse cenário favorável, a JBS está intensificando suas operações no país. Só neste ano, a companhia adquiriu ou arrendou 12 novas unidades de abate, que vão ampliar em 2 milhões de cabeças sua capacidade anual de abate (cerca de 8 mil cabeças-dia). Segundo o presidente da JBS, as 12 unidades devem representar um acréscimo de R$ 3 bilhões na receita anual da companhia, que em 2011 alcançou R$ 61,7 bilhões.
Batista explicou que as novas operações devem ter um "altíssimo retorno sobre o capital investido, que é basicamente capital de giro", mas não revelou o preço pago aos proprietários das unidades "Se fôssemos comprar essas unidades, a depreciação seria maior do que o valor que vamos pagar pelo arrendamento", ponderou o executivo brasileiro.
Questionado sobre a multa aplicada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) à Bertin em um processo de 2007 no qual a empresa - adquirida pela JBS em 2009 - é acusada de combinar preços com outros dois frigoríficos, o executivo afirmou que a JBS não deverá arcar com a multa.
Uma decisão publicada nesta semana condenou o Bertin a pagar uma multa equivalente a 5% sobre o faturamento bruto da companhia no ano anterior à instauração do processo, que se arrastava desde 2005. De acordo com analistas, esse valor pode chegar a R$ 150 milhões.
Batista disse que o acordo firmado com a Bertin isenta a JBS de qualquer responsabilidade, mas admitiu que o caso pode respingar na companhia. O executivo afirmou, ainda, que, nas contas dos advogados da JBS, a multa a ser aplicada é de apenas R$ 5 milhões.
(Fonte:Valor Econômico/Por Gerson Freitas Jr. | De São Paulo/Colaborou Luiz Henrique Mendes)
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