A diretoria-executiva da Petrobras sabia, já em 2014, que a rentabilidade dos seus 59 maiores projetos em andamento seria reduzida em US$ 45 bilhões frente ao esperado. A informação consta de relatórios sigilosos aos quais o Valor teve acesso, encaminhados aos conselhos de administração e fiscal da estatal na semana passada, na forma de denúncia anônima de funcionários.
Os projetos foram aprovados com previsão de retorno de US$ 109 bilhões, mas tiveram mais de 40% do ganho estimado reduzido por conta de variações negativas em relação às premissas usadas para prazo, produção, custo operacional e investimento.
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Essa perda de rentabilidade não tem relação com a oscilação do preço do petróleo. Diz respeito à eficiência de planejamento e execução, porque considera apenas fatores "gerenciáveis" - o preço do petróleo é um fator "não gerenciável" pela empresa. A fotografia de 2014 - antes da queda no preço do barril - ajustava para US$ 64 bilhões o retorno esperado para a carteira analisada.
Do total de redução da rentabilidade verificada em 2014, US$ 34 bilhões (75%) ocorreram nos projetos de exploração e produção, o coração da companhia.
A medida usada para a análise da rentabilidade de um projeto - antes e depois de executado - é o seu valor presente líquido (VPL). Trata-se de um cálculo estimado sobre a expectativa de retorno total que um investimento terá ao longo de sua vida útil, ajustado pelo custo de capital da companhia. Ele indica se o projeto tem capacidade de adicionar valor aos acionistas da Petrobras - ou reduzir, quando o número final é negativo.
A conclusão sobre a perda de rentabilidade - redução do VPL - não é fruto de um estudo pontual realizado em 2014. Consta de relatórios que são semestralmente produzidos pela diretoria-executiva e gerências da Petrobras, mas que não chegavam até o conselho de administração. Daí o caráter de "denúncia", mesmo para documentos cotidianos do corpo executivo.
Fonte: Valor Econômico/Graziella Valenti e André Guilherme Vieira | De São Paulo