Grupo heterogêneo e com interesses bem distantes em terrenos como o Conselho de Segurança das Nações Unidas ou o comércio internacional, o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) pretende destinar à crise financeira internacional e à ajuda a países pobres boa parte da reunião de chefes de Estado que fará no fim da próxima semana, em Brasília. A reunião coincidirá, em parte, com a do Ibas, que reúne Brasil, Índia e África do Sul.
A reunião do Bric servirá, ainda, para um encontro de técnicos dos países para discutir e apresentar a experiência brasileira com comércio em moeda local, usado hoje como referência principal. "De modo algum vamos discutir a substituição do dólar. Ninguém tem interesse em fazer marola, que gere especulação", garantiu o subsecretário-geral de Política do Itamaraty, Roberto Jaguaribe, lembrando que houve forte e injustificado movimento especulativo contra o dólar na última reunião do Bric que discutiu, de forma genérica, o uso de moeda local em transações comerciais, em 2009.
A experiência do Brasil não autoriza otimismo sobre uma futura adoção de moeda local para transação com países de peso e estrutura comercial tão distinta. Mesmo na vizinhança, o Brasil adota as transações em moeda local para uma parte irrisória de seus negócios. O Bric aproveitará a reunião para troca de informações e experiências nas áreas financeira, bancária e de financiamento ao desenvolvimento.
Membros do G-20, os países do Bric também divergem sobre o tratamento da crise financeira. A Rússia, com mais votos no Fundo Monetário Internacional (FMI) do que corresponderia sua importância nas finanças mundiais, não se entusiasma com a forte pressão do Brasil por uma reforma no FMI que dê mais poder aos emergentes. A China, acusada por muitos de agravar o desequilíbrio mundial com sua moeda desvalorizada, dá as costas a algumas propostas de maior coordenação macroeconômica internacional.
Os quatro países querem, porém, ter maior influência no modelo para o mercado financeiro global que surgirá após a crise e pretendem usar a reunião para buscar pontos em comum e um papel conjunto a cumprir nas negociações do G-20, encarregado de elaborar as propostas para evitar a repetição de colapso de bancos, empresas e economias.
O encontro do Bric e do Ibas será acompanhado de visitas do presidente chinês, Hu Jintao, e do primeiro-ministro indiano, Mahomann Singh. Há expectativa sobre os chineses, que anunciarão um Plano de Ação Conjunta (PAC) com os brasileiros, que deve trazer metas de comércio, investimento e cooperação entre os países para 2010 a 2014.
Fonte: Valor Econômico/ Sergio Leo, de Brasília
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