A ação da Vale está sob forte influência da instabilidade nos preços do minério de ferro, mas há outras incertezas que podem travar o avanço dos papéis.
A Receita Federal cobra a fantástica cifra de R$ 30 bilhões em tributos “atrasados”, referentes a dívidas de Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e ao Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) de seus resultados no exterior, que nunca teriam sido pagos.
Segundo a Standard & Poor’s, a perspectiva de que a perda seja registrada no balanço da Vale é pequena. Em março, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgou a favor da companhia, mas, mesmo assim, o mercado ainda qualifica como uma possibilidade ela perder a disputa. “Esse é o maior risco para quem quer investir na empresa, junto com a questão dos royalties”, avalia Thomas Chang, da UM Investimentos. Os royalties são cobrados pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) por conta do volume extraído em minério de ferro no Brasil. O órgão calcula em R$ 4 bilhões o total que a empresa teria de repassar ao governo federal.
A mineradora decidiu incluir em seu balanço do segundo trimestre uma provisão para essa disputa. O valor calculado pela Vale é de R$ 1,4 bilhão.
“O mercado, na verdade, trabalha com R$ 5,5 bilhões, mais ou menos, mas não deve ser abaixo de R$ 2 bilhões”, lembra o analista da UM. A expectativa é que até o fim do primeiro semestre de 2013 haja uma definição sobre o assunto. Procurada, a Vale não quis comentar.
Outro problema que entrou em foco recentemente é o negócio da companhia na Guiné. O país africano tem uma das maiores reservas de minério de ferro não explorado do mundo, chamado de projeto Simandou, mas problemas com o governo e com o atual sócio, a BSG Resources, fizeram com que o empreendimento deixasse de ser prioridade.
O parceiro da Vale no local, que possui minério de alta qualidade, assim como o de Carajás, no Pará, já ameaçou processar a B&A Mineração, holding formada com a associação do banco BTG Pactual e de Roger Agnelli, ex-presidente da Vale. Foi a gestão de Agnelli que conseguiu comprar a fatia no projeto da BSG.
Mas os problemas não indicam que a companhia tenha desistido do negócio. “A Vale não deixou de olhar para Simandou, porque o potencial é grande demais, mas todo o imbróglio envolvendo a região e com a licença prévia de Serra Sul ela mudou seu foco”, analisa Victor Penna, do BB Investimentos.
O problema, de acordo com a BSG, é que o BTG e Agnelli estão tentando mudar as regras da concessão local com o governo da Guiné. O empreendimento já foi dividido em duas frentes — uma metade pertencente à Vale e à BSG e outra, à Rio Tinto e à chinesa Chalco — e a administração pública do país teme perder ganhos com o alto volume de recursos naturais da região.
“Faz mais sentido ela tentar procurar projetos, como o de Carajás, que dão um retorno mais certo, do que concentrar muitas forças em brigar com o governo [da Guiné], que está endurecendo. É provável que eles tenham ganhos com Carajás antes”, diz Penna.
Fonte: Valor / Renato Rostás
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