Rio Grande do Sul exportador sim, mas com menos brilho no cenário nacional. O diagnóstico foi feito nesta quinta-feira pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), que apontou recuo global de quase 30% na participação gaúcha entre a elite do comércio externo brasileiro nos últimos 20 anos. Segundo o economista Álvaro Antônio Garcia, a participação da receita gaúcha caiu de uma média de 12% do total gerado pelo País entre 1992 e 1996, para 8,6% no quinquênio de 2007 a 2011.
O estudo, que foi um dos destaques da Carta de Conjuntura, principal boletim de análise mensal da fundação, aponta que o recuo se manteve a cada cinco anos - de 1997 a 2001, e a venda externa do Estado respondeu por 10,9% do resultado nacional. Entre 2002 e 2006, a fatia foi de 9,6%. “Se formos analisar os extremos - 1992 e 2011 - a perda é maior: passando de 12,1% para 7,6%”, destacou o responsável pelo estudo. Garcia elencou como razões para o comportamento, a limitação da fronteira agrícola (que se expandiu no Centro-Oeste e Norte do País), perda de competitividade da indústria intensiva em mão de obra em relação ao mercado internacional e os altos e baixos recentes dos negócios com os vizinhos. A saída, sugeriu o analista, é compensar a menor receita externa com mais negócios no mercado interno, “em crescimento e bem protegido”.
“A produção local pode não ter perdido mercado lá fora, mas avançou menos que outras regiões e acabou reduzindo seu espaço de forma relativa”, analisou o especialista. Um dos alvos da Carta de Conjuntura é o ramo calçadista, que foi um dos líderes no decréscimo na balança nacional. Depois de responder por uma média de 85,1% da cifra embarcada nos artigos de couro (com liderança ainda garantida), caiu a 70,1% no confronto entre 1992 e 1996 e o quinquênio mais recente. Em 1992, o peso, que era de 84,3%, passou a 61,5% em 2011. “O Estado sofreu mais que o País com a concorrência externa”, justificou o economista. Também há a disputa interna, com a migração de unidades fabris para o Nordeste, deslocando o peso da produção brasileira focada em outros tipos de produtos.
O ramo calçadista, citou Garcia, também brilhou menos no confronto com outros itens exportados pelo Estado. “O setor de calçados e partes passou de 26,4%, no período inicial analisado, para 5,9%. É difícil recuperar terreno mesmo com a aposta no calçado de maior valor, que é a única saída”, informou o especialista. A soja, que lidera as vendas externas, foi atingida pela expansão da área de cultivo nas diversas regiões brasileiras. Em 1992, o grão gaúcho significou 29,3% da cifra comercializada desta mercadoria ao exterior pelo País. No ano passado, a importância ficou em 18,1%. Garcia ressaltou que nos períodos avaliados há uma maior oscilação, já que entre 1992 e 1996 o grão teve fatia média de 18,8%, enquanto entre 2007 e 2011 a renda da commodity caiu, levemente, para uma média de 17,5%. Já entre 1997 e 2001, a fatia foi de 13,1% e nos cinco anos seguintes, de 11,2%. “A recuperação recente (que desconsidera a estiagem deste ano) está associada à alta de preços e até a um aumento de área cultivada, mas que só ocorreu com corte do plantio de culturas como o milho”, associou Garcia. “A saída é aumentar produtividade e contornar prejuízos com a falta de água”, recomendou o autor do estudo.
Máquinas agrícolas e frango podem seguir caminho de retração
O economista da FEE Álvaro Antônio Garcia advertiu que segmentos como carne de frango e máquinas agrícolas podem seguir o mesmo caminho de redução de força nas exportações gaúchas diante do avanço da produção em outros estados e das barreiras da Argentina nos últimos anos.
No primeiro caso, Garcia identificou um maior investimento em modernização de plantas no Centro-Oeste, deslocando a importância do setor gaúcho, que passou por crise recente com a suspensão de abates e pagamentos de produtores pela Doux (hoje JBS Friboi).
O setor metalmecânico de tratores e colheitadeiras sofre com a política argentina. A investida mais recente é a exigência de instalação de unidades no país vizinho. O economista vislumbra esvaziamento da base local e identificou como alternativa a conquista de mercados como o da África. “O peso da Argentina nas exportações gaúchas sempre foi maior que na balança do Brasil, uma dependência que gerou mais prejuízos ao Estado”, debitou Garcia.
Fonte: Jornal do Commercio/RS / Patrícia Comunello
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