A Rússia, um dos cinco maiores exportadores de trigo do mundo, deixou o mercado de commodities agrícolas em alerta na sexta-feira ao sugerir uma reviravolta política que poderá levar à restrição de suas exportações de grãos se os preços domésticos subirem ainda mais.
Andreu Belousov, ministro do Desenvolvimento Econômico do país, disse a jornalistas que uma eventual proibição das exportações de grãos é ainda possível. Foi o primeiro sinal de uma autoridade graduada do governo de que Moscou poderá reintroduzir restrições parecidas com as que impôs na temporada 2010/11, depois que uma seca derrubou sua produção.
Nos bastidores de uma conferência, Belousov disse ser "completamente possível" que o governo russo venha a limitar os embarques de grãos. A atual safra (2012/13) também foi afetada por uma severa estiagem e os traders de commodities agrícolas temem que o excedente de grãos para exportação esteja limitado.
No entanto, horas depois da declaração de Belousov, Arkady Dvorkovich, vice-primeiro-ministro russo encarregado da política agrícola do país, disse que a Rússia não imporá restrições às exportações, o que deixou os traders apreensivos quanto às vendas futuras de grãos de um dos principais produtores mundiais.
A posição oficial de Moscou nos últimos dois meses tem sido a de que o governo não pretende proibir as exportações, mas alguns especialistas temem que ele venha a recorrer a instrumentos informais e menos óbvios. Eles não descartam que o acesso às ferrovias seja limitado propositalmente e que o transporte para os portos fique mais lento que o normal, o que poderia reduzir, assim, o fluxo dos embarques.
Belousov disse que qualquer decisão dependerá dos preços domésticos. "É claro que somos simplesmente obrigados a proteger o mercado interno (...) Não permitiremos uma alta nos preços dos grãos e dos alimentos".
Andrey Sizov, diretor da Sovecon, uma consultoria de Moscou especializada em agricultura, disse que os preços domésticos dos grãos, que começaram a subir no último mês, aumentaram cerca de 4% na semana passada porque os agricultores estão segurando suas produções antevendo preços mais altos.
"Os preços subiram cerca de US$ 2 a US$ 3 por tonelada nas últimas semanas. Esta semana [semana passada], os preços subiram cerca de US$ 10", disse Sizov, acrescentando que a alta dos preços começa a afetar a pecuária na parte central do país.
Em Paris, o preço do trigo para moagem com entrega em janeiro de 2013 recuou 0,6%, para 261,50 a tonelada na sexta; nas bolsas dos EUA houve valorização.
Fonte: Financial Times / Emiko Terazono e Courtney Weaver
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