As adversidades climáticas que atingiram importantes regiões produtoras de soja no Brasil não impedirão uma safra "espetacular" na atual temporada 2014/15. A avaliação é da consultoria Agroconsult, que revisou para cima sua expectativa de produção da oleaginosa, de 94,8 milhões para 95,8 milhões de toneladas.
Se confirmado, o volume será 11% maior que o de 2013/14 e ajudará o país a alcançar um novo recorde na colheita de grãos, de 202,9 milhões de toneladas. O número é bem mais otimista que as 198,5 milhões atualmente esperadas pela Conab, que entre dezembro e fevereiro também projetava mais de 200 milhões.
"Realmente vemos chance de ultrapassar as 200 milhões de toneladas, se confirmada a expectativa para a safrinha de milho", disse André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult. A confiança de Pessôa vem dos dados recolhidos pelo "Rally da Safra", expedição técnica realizada há 12 anos pela consultoria, cujos números foram apresentados ontem.
Neste ano, o rally percorreu 85 mil quilômetros, que permitiram coletar 960 amostras de soja e 124 de milho de primeira safra.
O bom desempenho do Sul do Brasil deve ser determinante para a safra brasileira de grãos este ano, reforçou a Agroconsult. De forma geral, a soja cultivada na região foi favorecida por chuvas regulares, o que se refletiu em produtividades elevadas. "Exceção feita à soja tardia no Rio Grande do Sul e a precoce no oeste do Paraná, que enfrentaram alguns problemas com estiagem, o Sul foi super bem", afirmou Pessôa.
Entretanto, ele destacou a forte pressão de ferrugem asiática na reta final das lavouras de soja no Rio Grande do Sul, o que tende a baixar um pouco a produtividade. "Ainda assim, o Estado terá a melhor safra da história, com média de 49,1 sacas por hectare. Só que poderia ter sido muito mais", acrescentou Pessôa.
A expectativa da Agroconsult é que o Rio Grande do Sul colha 15 milhões de toneladas de soja neste ciclo, alta de 16,3% sobre 2013/14. A colheita das áreas com ferrugem ainda não ganhou ritmo no Estado, porque são as mais tardias. Por isso, o problema ainda não se refletiu nos rendimentos. No Paraná, a previsão é da segunda melhor safra da história, de 17,3 milhões de toneladas, ante 14,8 milhões em 2013/14.
Em Mato Grosso, maior produtor de grãos do país, a safra ficou dentro da expectativa da consultoria, mesmo com a irregularidade das chuvas em janeiro e a umidade das últimas semanas, que atrapalha a colheita. A projeção é de uma safra de 28,5 milhões de toneladas, quase 8% superior à de 2013/14. Para Mato Grosso do Sul, a estimativa é de uma safra recorde de 7,3 milhões, em relação às 6,2 milhões do ciclo anterior.
Já nas regiões de Goiás, Minas Gerais e Bahia, onde houve problemas mais graves com a estiagem nesta safra, as lavouras de ciclo precoce foram afetadas. Mas com as chuvas em fevereiro e março, os plantios de ciclo médio e tardio evoluíram melhor. O resultado será uma grande oscilação de produtividade, com algumas áreas registrando 20 sacas por hectare e outras - irrigadas -, ultrapassando 80 sacas.
No "Mapito" (confluência dos Estados de Maranhão, Piauí e Tocantins), o desempenho também foi bastante irregular, na avaliação da Agroconsult. As condições climáticas favoreceram mais Maranhão e Tocantins, já que o veranico de dezembro e janeiro provocou alguns replantios no Piauí e prejudicou a safrinha. "Já houve um plantio [de soja] atrasado, porque demorou a chover. Depois faltou chuva no fim do ano passado e começo deste, o que prejudicou o plantio da safrinha de milho", explicou Pessôa.
A previsão da Agroconsult é que a safrinha de milho, em fase de plantio no país, totalizará 50,4 milhões de toneladas, 4% acima do ano passado. Em relação à primeira safra de milho, já em fase final de colheita, a previsão é de um total de 29 milhões de toneladas, baixa de 8,5% ante 2013/14.
Fonte: Valor Econômico/Mariana Caetano | De São Paulo
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