Na expectativa de resultados melhores e com maior atratividade a ativos de risco, o setor de siderurgia vive uma nova onda positiva na bolsa no último mês. Os investimentos mais arriscados, em CSN e Usiminas, são exatamente os que mais se beneficiam dessa tendência. No ano, as duas empresas mais a Gerdau ganharam R$ 16,3 bilhões em valor de mercado.
No acumulado de 2016, as ações da CSN têm ganho de 172%. Os papéis preferenciais da Gerdau sobem 57% e os preferenciais de Usiminas, 82%.
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Mas se a alta é expressiva, em comparação histórica ainda é insuficiente para compensar perdas recentes. Nesta década, as três empresas perderam R$ 57 bilhões em valor de mercado, mesmo considerando a alta de 2016. Se esse movimento positivo mais recente for ignorado, a destruição de valor até o fim de 2015 foi de R$ 73,3 bilhões.
Porém, os últimos dados mostram melhora na demanda. Em junho, por exemplo, o consumo aparente - que reúne produtos locais e importados - subiu 2,9% ante maio, sua segunda alta mensal consecutiva. As vendas no mercado interno cresceram 8,8% na mesma comparação.
E o desempenho vem sendo mais positivo para as fabricantes de aços planos, como CSN e Usiminas. As vendas desse tipo de produto chegaram a subir 5,5% sobre junho de 2015, enquanto o segmento de longos - dominado pela Gerdau - ainda amargou queda de 5,5%.
"Uma melhora econômica no Brasil afeta mais a CSN e a Usiminas", explica Celson Plácido, analista da XP Investimentos. "A Gerdau tem metade do resultado vindo dos Estados Unidos e por lá temos mais incertezas, como a candidatura de Donald Trump e até de crescimento econômico."
Em relatório, o BTG Pactual escreve que a confiança no setor começa a aumentar. Apesar de a disparada das ações já ser relevante, o banco se mostrou otimista com a possibilidade de pela primeira vez em anos a expectativa do mercado pelos resultados melhorar.
A previsão de queda na demanda ainda é de 14% em 2016, segundo o Instituto Aço Brasil, e o câmbio pode atrapalhar outra fonte de recuperação: as exportações. Mas pela estimativa do Aço Brasil, o segundo semestre traria consumo de 9,2 milhões de toneladas, 2,2% acima da primeira metade do ano.
Outro ponto que impulsiona a expectativa para as siderúrgicas são os reajustes do segundo trimestre. O J.P. Morgan opina, em relatório, que o mercado brasileiro começa a se equilibrar e o "fundo do poço" pode ter ficado para trás. Mas conquistar rentabilidade, a ameaça de um câmbio mais forte e a China continuam desafios.
O pontapé inicial da temporada de balanços do setor no segundo trimestre será dado pela Usiminas, na quinta-feira. Média de projeções de BTG Pactual, Itaú BBA e Morgan Stanley apontam para receita líquida de R$ 2,04 bilhões, Ebitda de R$ 81 milhões e prejuízo de R$ 297 milhões. A melhora já seria sentida ante o primeiro trimestre, mas na comparação anual é esperada queda em todas as linhas do resultado.
Para a CSN, a receita é estimada em R$ 4,16 bilhões e o Ebitda, em R$ 838 milhões. Itaú e Morgan Stanley veem prejuízo perto de R$ 300 milhões e o BTG, lucro de R$ 890 milhões. No primeiro trimestre, a CSN teve receita, Ebitda e resultado líquidos piores do que essas previsões. Em comparação anual, também haveria melhora.
No caso de Gerdau, a média das estimativas aponta para uma receita de R$ 10,27 bilhões, 1,8% a mais de um trimestre para o outro. O Ebitda subiria 15,2% nessa mesma relação, para R$ 1,07 bilhão, e o lucro seria de R$ 121 milhões, ante R$ 14 milhões no primeiro trimestre. Na comparação anual, a expectativa dos bancos é de encolhimento de todas as linhas do resultado.
Fonte: Valor Economico/Renato Rostás | De São Paulo