A crise que se agravou na Europa e a recuperação muito lenta da economia nos Estados Unidos fizeram o setor siderúrgico mundial rever seus projetos para 2012. Isso influencia diretamente a economia brasileira tanto em função da produção menor entre as 26 usinas instaladas no país quanto à queda na demanda mundial por minério de ferro, matéria-prima básica da produção de aço.
Se a siderurgia é importante para a economia brasileira, muito mais é a mineração, responsável por grande parte do volume de ferro colocado no mercado mundial, seja na forma de finos ou pellets. A maior produtora de minério de ferro do mundo, a Vale, além de ter negócios vultuosos em Minas Gerais e no Pará, possui sete pelotizadoras (em parceria) no Espírito Santo, além de um porto para embarque de minério.
O Instituto Aço Brasil, que reúne as principais empresas do segmento no país, divulgou avaliação em que diz que o cenário é de incertezas, o que faz com que os investimentos sejam revistos em termos de prazos de implementação.
Isso significa que, apesar do setor ter uma previsão de investimentos superiores a US$ 5 bilhões por ano, o efetivo início da implantação de novos projetos deve levar em conta as condições competitivas do mercado brasileiro. Como comparação, o montante anual está abaixo da média aplicada durante o período pós-privatização.
Revisão
Em novembro do ano passado, o grupo ArcelorMittal, o maior do mundo do setor, anunciou o adiamento, por tempo indeterminado, do investimento de US$ 1,2 bilhão na duplicação da siderúrgica instalada no município de João Monlevade, em Minas Gerais. O investimento geraria, no pico das obras, 6 mil empregos.
Segundo o principal executivo do grupo no Brasil, Benjamin Baptista Filho, o momento é mesmo de reavaliar a situação tendo em vista que a crise europeia é mais grave do que se pensava inicialmente. "Os planos para Tubarão estão aprovados, mas esperam uma mudança no cenário mundial".
O grupo quer ampliar o laminador de tiras a quente (LTQ) para produzir mais 500 mil toneladas por ano, passando de 4 milhões para 4,5 milhões de toneladas por ano de bobinas. "Também planejamos um novo LTQ, que demandará investimentos da ordem US$ 1 bilhão. Mas, só quando o cenário macro der certeza que a demanda interna e externa vai existir ao entrar em operação, é que podemos deslanchar esse projeto".
Mesmo com a situação delicada na Europa, a ArcelorMittal decidiu manter o projeto de reforma do alto-forno 1, em Tubarão, que está há 28 anos em operação ininterrupta, recorde no mundo. Para isso, serão investidos US$ 180 milhões, além de outros US$ 70 milhões para a reforma de outros equipamentos, como sinterizador e equipamentos do sistema de lingotamento contínuo e o forno 3.
A previsão é que em 100 dias a reforma do alto-forno termine para que o equipamento possa ser ligado no início do segundo semestre. "Queremos que a companhia esteja pronta para produzir na sua capacidade total, de 7,5 milhões de toneladas por ano", explica o executivo.
O mercado interno, mais do que o externo, é que está na mira da companhia. A intenção é ampliar o fornecimento de aço para o mercado interno, com a produção menor de placas de aço e a ampliação na produção de aços laminados e bobinas. A laminação do grupo é feita na planta de Vega do Sul, em Santa Catarina.
Benjamin Baptista avaliou as medidas adotadas pelo governo federal, no ano passado, para estimular a indústria automobilística e de eletrodomésticos. Com redução de impostos para diminuir os preços, o governo ajudou o segmento a manter a produção e os empregos.
Segundo os especialistas, será preciso também adotar medidas que resguardem a indústria brasileira para não permitir a entrada de aço importado no país. As taxas de entrada de aço no Brasil vem crescendo ano a ano: 2% em 2004; 5% em 2006; 9% em 2008; e 12% em 2009. "Chegamos ao final de 2010 com uma taxa de 20%", diz Benjamin Baptista.
De acordo com dados divulgados pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Produtos Siderúrgicos (Sindisider), as importações de aço em 2011 foram 47,5% menores do que no ano anterior. Basicamente, o recuo deve-se principalmente à queda do preço do produto nas siderúrgicas nacionais.
Perspectivas
O consumo de aço no mundo deve voltar, até 2014, aos níveis pré-crise de 2009, conforme avaliação do presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Lopes. Ele explicou que a recuperação era esperada para 2012, mas a crise na União Europa prejudicou o setor.
Afirmando que o mundo está de "cabeça para baixo", o presidente do instituto acredita que a deterioração das economias na zona do euro, em 2010 e 2011, alterou significativamente o comércio mundial. Lopes acrescentou que o consumo de aço está estreitamente ligado ao desenvolvimento econômico e ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em todo o mundo. Para 2012 a expectativa é que o setor cresça 6% no Brasil.
Analistas do mercado do aço dizem que uma boa palavra para o setor em 2012 seria "investimento". Companhias como Siderúrgica Nacional (CSN) e a Gerdau foram favorecidas, em 2011, pela oferta pública (recompra de ações), que alavancou o caixa das empresas. Está previsto para elas grandes investimentos para desenvolver a capacidade produtiva e fazer frente a demandas futuras de aço. Tudo vai depender, porém, do comportamento também de economias como a da China, de longe o maior mercado consumidor de aço do mundo.
Em evento realizado no final do ano passado, Marco Polo de Mello Lopes resumiu o quadro para o futuro do setor: "O mundo pós-crise é muito mais complexo e competitivo, o que torna ainda mais importante preservar o mercado interno com a correção das assimetrias competitiva e tributárias, disse ele".
As tais condições assimétricas que precisam ser corrigidas, segundo Lopes, se traduzem no aumento da participação do aço importado no mercado brasileiro. O instituto calcula que o consumo aparente de produtos siderúrgicos no Brasil cresça 7,1%, atingindo em 26,7 milhões de toneladas neste ano, sendo 7,5 milhões de toneladas produzidas no Espírito Santo.
O crescimento deve ser duas vezes superior ao previsto para a economia brasileira e é importante, já que em 2011, o consumo aparente foi inferior em 4,3% a 12 meses, totalizando 25 milhões de toneladas ao ano. Ainda no ano passado, as vendas internas foram 3,8% maiores, somando 21,5 milhões de toneladas, mas essas vendas ainda não haviam alcançado o patamar pré-crise de 2008.
Produção
Mesmo com toda a crise, o Instituto Aço Brasil prevê uma alta de 6,3% na produção de aço em 2012, num total de 37,49 milhões de toneladas. A venda de produtos siderúrgicos deve subir 8,4% neste ano, chegando a 23,31 milhões de toneladas. Claro que os números se confirmarão se o país crescer entre 3% e 4%, como está previsto.
No caso das exportações, os produtos siderúrgicos têm alta estimada de 1,8% nas vendas externas em 2012, atingindo 10,92 milhões de toneladas. Já a receita de exportação deve subir 2,4% somando US$ 8,5 bilhões. E as importações devem cair 0,7% em 2012, totalizando 3,64 milhões de toneladas. Para o consumo aparente do setor, projeta-se elevação de 7,1%. O consumo aparente é calculado a partir da soma das vendas diretas dos produtores de aço e das importações de distribuidores e consumidores.
Fonte: A Gazeta (Vitória) ES/Denise Zandonadi
PUBLICIDADE