Depois de muito segredo, o governo federal divulgou na sexta-feira informações sobre a fábrica de semicondutores que está sendo construída em Minas Gerais. Com investimentos da ordem de R$ 1 bilhão, a SIX Semicondutores tem como acionistas o empresário Eike Batista, por meio de sua empresa, a Six Soluções Inteligentes; a IBM; o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG); a Matec Investimentos e a Tecnologia Infinita WS-Intecs, do ex-presidente da Volkswagen do Brasil Wolfgang Sauer.
"Essa fábrica produzirá uma ´alteração radical no complexo eletrônico brasileiro e tem a possibilidade de produzir desdobramentos em toda a indústria no país", disse ao Valor Luiz Souto, superintendente área de capital empreendedor do BNDES. O banco financiará o projeto com R$ 267 milhões (R$ 202 milhões diretamente e outros R$ 75 milhões via BDMG). Outros R$ 202 milhões virão da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Dos R$ 583 milhões em aporte de capital, o banco entrará com R$ 245 milhões.
Projetada para ficar pronta em outubro de 2013 e iniciar as operações em março de 2015, a fábrica terá uma área de 18 mil metros quadrados e produzirá 360 wafers - lâminas de silício da qual são feitos os chips - por dia, disse Souto. Serão semicondutores para usos específicos e não de produção em escala, como os feitos por grandes grupos multinacionais para a indústria de celulares, por exemplo.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, estará em Belo Horizonte, hoje, para a cerimônia de anúncio da SIX, ao lado do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia. Em setembro, o Valor antecipou que o projeto teria o nome de SIX e mostrou que os trabalhos no terreno do empreendimento já haviam começado.
Da fábrica na cidade de Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, sairão chips que, segundo o BNDES, terão entre os potenciais clientes os setores médico (para sensores que medem sinais vitais, por exemplo), e de cartões inteligentes. Um uso possível seria na elaboração de documentos, como o novo passaporte brasileiro e uma identidade com chip embarcado, que o governo planeja emitir no futuro. A lista também é integrada por setores da indústria, como o automotivo e o de comunicações em geral. Alegando segredo comercial, o BNDES não informou se já conversas ou negociações com empresas interessadas na futura produção da SIX.
A SIX Semicondutores vai desenvolver e fabricar circuitos integrados de chips com tecnologia de 130 a 90 nanômetros. A medida está ligada ao espaçamento no circuito. As tecnologias de processo mais avançadas na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia usam medidas menores. Indústrias de ponta trabalham com circuitos de até 22 nanômetros - o que significa circuitos menores e com grande capacidade de processamento ou de memória, disse Souto.
Não será o caso da SIX, que não quer disputar mercado com empresas cujos clientes são fabricantes de notebooks e celulares, que precisam do máximo de miniaturização das peças. Outra planta de semicondutores, esta liderada pelo Cemtec no Rio Grande do Sul, vai operar com tecnologia de 600 nanômetros, segundo Souto.
"Teremos uma fábrica estado da arte para aquilo que vamos fazer", diz ele. Quem está no segmento da SIX na Europa, EUA e Ásia são empresas de médio e pequeno portes, com faturamento inferior ao de grupos como Intel e AMD, mas com margens maiores por fazerem circuitos sob medida para empresas e, por isso, mais caros, disse ele.
A capacidade de produzir semicondutores com características específicas para eletrônicos brasileiros poderá levar a um salto na indústria eletrônica nacional, disse o executivo do BNDES. "Um equipamento eletrônico se diferencia pela inovação que traz e essa inovação basicamente é embarcada no software e nos componentes, como os chips. No Brasil, a inexistência desse elo de semicondutores na cadeia eletrônica faz com que nossa solução em termos de chip seja exclusivamente dependente de exportação", disse Souto.
Os insumos básicos da SIX serão gases especiais e o silício, que virão do exterior. O processo de fabricação será da IBM. Mas a nova fábrica buscará desenvolver seus próprios produtos e patentes, segundo o BNDES.
Segundo o banco, já existe mão de obra especializada no design de semicondutores no Brasil, graças, em parte, aos centros de design criados dentro de um programa federal chamado CI Brasil. Segundo o site desse programa na internet, a iniciativa ajudou a criar 22 empresas especializadas no país. Mas Souto diz apostar que a SIX também vai atrair especialistas que atuam no exterior. E não só estrangeiros. "A fábrica da SIX com certeza abrirá a porta para a repatriação de brasileiros", afirmou.
Fonte: Valor Econômico/Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
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