O gigantismo da oferta da Petrobras, uma das maiores já realizadas no mundo, modifica significativamente o saldo das captações brasileiras desde a revitalização do mercado de ações, em 2004. A capitalização, que somou R$ 120,4 bilhões, equivale a 53% de tudo o que foi levantado com emissões de ações no Brasil nos últimos seis anos e meio.
De 2004 até a última operação deste ano (Renova Energia), foram realizadas 203 emissões de ações no país que movimentaram um total de R$ 226 bilhões. Junto com Petrobras, as captações realizadas pelas companhias brasileiras somarão quase R$ 350 bilhões.
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A operação também coloca a Petrobras disparada como a maior empresa do mercado brasileiro. Com isso, o valor em bolsa da estatal sobe, numa só tacada, dos R$ 252,6 bilhões do fechamento de ontem para R$ 370 bilhões. Entretanto, ainda está longe da máxima já alcançada pela companhia. Num fechamento de mês, o maior valor já registrado ocorreu em maio de 2008, quando a estatal valia mais de R$ 470 bilhões.
Mesmo considerando-se só a parcela da oferta da estatal aberta ao público em geral, da ordem de R$ 21 bilhões, já seria a maior transação já realizada no Brasil. Até então, a maior oferta foi a da Vale, de julho de 2008, que movimentou R$ 19,4 bilhões. A segunda maior foi a operação do Santander, de R$ 13,1 bilhões, seguida pela do Banco do Brasil, de R$ 7 bilhões.
Uma operação desse porte é inédita em diversos sentidos: pelo tamanho, pela infraestrutura financeira necessária de suporte e pela quantidade de envolvidos. São seis bancos coordenadores. O mercado, como não poderia deixar de ser, também está vivendo situações diferentes.
Além de modificar a posição do Brasil entre os emissores globais, a concretização da oferta, um ano depois de anunciada, também deve trazer alívio.
A expectativa é que outras companhias interessadas em buscar o mercado de ações possam, finalmente, sair em busca de investidores. A espera pela operação da Petrobras estava paralisando os emissores, que não queriam concorrer com o volume pretendido pela estatal.
Os mais otimistas acreditam que haveria operações que somam até US$ 10 bilhões para sair após a Petrobras. O bom resultado da oferta da estatal, se confirmado, deve estimular em especial as companhias do setor de petróleo que também pretendem obter recursos com ações.
A primeira a vir ao mercado deve ser a Repsol com a atividade brasileira. A empresa pretende obter entre US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões.
Mas a lista da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) traz ainda outras duas do setor de petróleo: uma companhia com projetos a se concretizarem, a HRT, e a Karoon, unidade local da companhia australiana que possui poços e participações em projetos em Santos, incluindo parcerias com a Petrobras.
De acordo com banqueiros de investimentos, há outras companhias do ramo atentas às oportunidades de mercado, entre as quais o braço de petróleo do grupo Queiroz Galvão.
Sozinha, independentemente das potenciais demais operações, a Petrobras também modifica o ranking dos anos recordes de captação no Brasil. Até então, 2007 havia sido o ano de maior movimento, com as ofertas de ações somando R$ 70 bilhões.
A megacapitalização da Petrobras faz com que 2010 seja, definitivamente, o ano de maior atividade. Até então, sem a estatal, foram realizadas 15 ofertas de ações, entre aberturas de capital e captações por empresas já listadas, que somaram R$ 22,5 bilhões. Com a Petrobras, esse total vai superar R$ 140 bilhões.
Fonte:Valor Econômico/Graziella Valenti | De São Paulo