Independentemente do mérito, a sucessão presidencial teve um papel determinante para a criação da CPI da Petrobras no Senado. O governo esperava que pelo menos quatro senadores, três do PSB e um do PSC, não assinassem o requerimento. As conversas estavam bem encaminhadas. Sem os quatro, o pedido de CPI teria 24 assinaturas, número insuficiente para sua criação. Todos voltaram atrás por decisão de partidos que têm ou planejam ter candidatos a presidente da República em outubro.
Até a quarta-feira, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) contava com os quatro, sem falar de outras conversas em curso. Mas a ministra sabia que se tratava de um compromisso precário, pois os três senadores do PSB condicionaram sua decisão à posição da direção partidária sobre a criação ou não da CPI.
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O governador Eduardo Campos (PE) era favorável ao apoio do PSB à comissão de inquérito, mas manteve a prática que costuma adotar nessas ocasiões: consultou a executiva nacional do partido. A decisão foi pró-CPI. Avalizados pelo partido, os senadores Antônio Carlos Valadares (Sergipe), João Capiberibe (AP) e Lídice da Mata (BA) avisaram Ideli de que, ao contrário do que prometeram, assinariam o requerimento.
O quarto senador com o qual contava o Palácio do Planalto era Eduardo Amorim, do PSC de Sergipe, partido que namora a ideia de lançar o pastor Everardo Amorim candidato a presidente da Republica para capturar os votos evangélicos.
A crise na Petrobras também deu a oportunidade para o senador Aécio Neves retomar a ofensiva na campanha sucessória, ainda hoje dominada por Eduardo Campos. Pela primeira vez, Aécio cobrou dos tucanos obediência em relação a uma decisão do PSDB. Cobrança que atingiu em cheio o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um de seus principais cabos eleitorais na disputa presidencial.
FHC manifestou ponto de vista contrário à criação da CPI, mas Aécio rebateu dizendo que aquela seria uma decisão partidária. O ex-presidente voltou atrás.
Em gabinetes próximos da presidente da República, a avaliação é que a criação da CPI num ano eleitoral será péssima para a candidatura Dilma. A chefe do governo está na defensiva, a pior posição para um político em campanha eleitoral. Para piorar, a aprovação do governo caiu nas pesquisas.
No PT há dúvidas sobre a capacidade do novo esquema de articulação política do governo de controlar a CPI. As CPIs têm uma dinâmica própria, depois de instaladas. No caso da comissão de inquérito que investigou as atividades do contraventor Carlos Cachoeira, a base aliada conseguiu barrar a apuração até com certa facilidade. A diferença hoje é que as operações duvidosas da Petrobras começam a ser investigadas a seis meses da eleição e a chamada base aliada está mais desarrumada do que estava antes.
Com uma CPI com forte viés eleitoral - independentemente do mérito das denúncias contra dirigentes da Petrobras - em queda nas pesquisas e com perspectivas de inflação no preço dos alimentos, Dilma se tornou uma presidente mais fraca. E mais solitária. O grupo mais próximo que a presidente levou para a sua assessoria direta no Palácio do Planalto se desfez: Gleisi Hoffmann (PT-PR) e Ideli Salvatti (PT-SC), duas de suas auxiliares cuja lealdade nunca foi posta em dúvida. As duas estão de endereço novo. Gleisi já discursa no Senado, Ideli deve mudar para a Secretaria dos Direitos da Pessoa Humana nos próximos dias.
Petistas avaliam que Dilma chefia, no momento, um governo acuado, que precisa com urgência retomar a iniciativa política, sob pena de ser emparedado pela CPI da Petrobras. Esse será o teste decisivo para o novo esquema de coordenação política do Palácio do Planalto, com Aloizio Mercadante e o futuro ministro das Relações Institucionais, deputado Ricardo Berzoini, na linha de frente de defesa do governo. A favor do governo conta o fato que não interessa a ninguém, governo ou oposição, aprofundar ainda mais a crise financeira da maior estatal brasileira.
Fonte: Valor Econômico/Raymundo Costa | De Brasília