Esse tipo de referências a famosos marcos europeus usados para "apimentar" o site da Tata Steel, refletem a elevada ambição da empresa indiana de tornar-se a segunda maior produtora de aço do mundo.
Mas a seção "fatos e números" desapareceu - talvez um sinal revelador de como a Tata vem moderando suas aspirações, na esteira de um colapso dos preços do aço resultante de um excesso de oferta que foi consequência de uma torrente de exportações baratas da China. A confirmação da retração da Tata ocorreu em março, quando a companhia pôs à venda suas operações deficitárias no Reino Unido.
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Então, numa mudança de atitude após dificuldades para atrair lances aceitáveis para a operação britânica, a Tata revelou neste mês estar em conversações "preliminares" com a ThyssenKrupp, sua concorrente alemã, sobre uma possível joint venture no setor siderúrgico europeu.
Uma fusão das operações siderúrgicas europeias da Tata com a ThyssenKrupp criaria o segundo maior produtor na UE depois da ArcelorMittal, com três grandes usinas espalhadas por toda a Alemanha, Países Baixos e Reino Unido, e receitas anuais estimadas de € 18 bilhões, com base nos relatórios de resultados financeiros de 2014-2015.
Uma fusão equivaleria ao maior abalo no setor em uma década e poderia em alguma medida solucionar o velho problema de excesso de capacidade de produção da indústria siderúrgica europeia, fechando usinas desnecessárias. Isto poderia aumentar o poder de fixação de preços das demais operadoras no setor e, portanto, sua capacidade de gerar lucros sustentados.
A Europa está consumindo cerca de 25% menos aço, hoje, do que em 2007, segundo a Eurofer, uma associação comercial que representa as siderúrgicas europeias. "Para termos operações sustentáveis na Europa, precisaremos fechar usinas", diz Mike Shillaker, do Credit Suisse.
Cyrus Mistry, presidente da Tata Steel, diz em novo relatório anual da empresa que a consolidação da indústria siderúrgica mundial é importante em meio a um excesso de oferta, baixos preços das commodities e esfriamento do crescimento econômico. "A consolidação de empresas proporcionaria uma oportunidade para a indústria siderúrgica permanecer relevante e competitiva em termos de custos e de valor para os clientes, e de permitir investimentos em inovação de produtos, tecnologia e eficiência da cadeia de suprimentos", acrescenta ele.
Uma joint venture envolvendo Tata e ThyssenKrupp teria uma participação de 25% da capacidade no mercado europeu de aços planos, usados em automóveis, embalagens, obras de engenharia e aparelhos de uso doméstico, segundo analistas da Jefferies.
As duas empresas estão sob pressão da ArcelorMittal, cuja participação nesse mercado subiria de 33% para 40% caso tenha sucesso em uma oferta conjunta com o grupo Marcegaglia visando a aquisição da Ilva, uma siderúrgica italiana.
"Uma joint venture [envolvendo a Tata e a ThyssenKrupp] evitaria uma série de dificuldades processuais necessárias a um pleno negócio de fusão e/ou aquisição", diz Alessandro Abate, analista da Berenberg.
Para a Tata, forjar uma aliança com a ThyssenKrupp seria uma maneira de o grupo indiano desfazer-se de seu braço no Reino Unido, conquistado, mediante um negócio envolvendo € 6,7 bilhões na compra da Corus, siderúrgica anglo-holandesa, que foi adquirida em 2007.
À época, essa foi a maior aquisição estrangeira por uma empresa indiana, elevando a Tata da posição 56, entre as maiores siderúrgicas do mundo, para o sexto lugar. Mas esse negócio, que envolveu um prêmio substancial, é agora visto como tendo sido concretizado em momento inoportuno, e freou os lucros das operações siderúrgicas da Tata em seu mercado doméstico.
Para a alemã ThyssenKrupp, uma joint venture com a Tata poderia ser um primeiro passo significativo para concentrar-se em seus negócios com bens de capital, mais rentáveis e estáveis, envolvendo a fabricação de elevadores, escadas rolantes e o suprimento de componentes para várias indústrias, entre elas as fabricantes de carros e turbinas eólicas.
Em meio à sua migração da siderurgia para o setor de tecnologia, a ThyssenKrupp está "desesperada por uma fusão", afirma Carsten Riek, analista do UBS. "Se eles conseguem uma joint venture 50%-50%, eles poderiam remover a [divisão] siderúrgica do balanço patrimonial".
O grupo alemão há muito tempo cobiça a usina Ijmuiden, da Tata, na Holanda, considerada um das mais eficientes da Europa. Ela está localizada a cerca de 200 km da siderúrgica da ThyssenKrupp em Duisburg, e, portanto, poderia proporcionar reduções de custos através de sinergias de suas operações.
"Em Duisburg, há escala; Ijmuiden pode produzir 7 milhões de toneladas por ano e usar [um porto de] águas profundas, tendo, efetivamente, escala", diz Shillaker. "Ambas estão localizados a distâncias razoáveis, através de rodovias e ferrovias, do coração industrial da Europa".
Estatísticas do setor evidenciam algum alívio proporcionado pelo endurecimento da postura da União Europeia contra o dumping de aço por outros países, principalmente a China, que está enfrentando significativo excesso de capacidade após esfriamento econômico do país.
Menos óbvio é como as persistentemente deficitárias operações britânicas da Tata - nas quais a ThyssenKrupp já havia demonstrado desinteresse - poderiam se encaixar em alguma joint venture europeia.
A Tata descreveu as operações no Reino Unido como quase inúteis e estimou que seriam necessários 2 bilhões de libras em novos investimentos para transformar a maior usina de aço no Reino Unido, em Port Talbot, no sul do País de Gales, em uma produtora de alta qualidade.
Um problema para os negócios da Tata no Reino Unido é um grande fundo de pensões com passivos de 14 bilhões de libras, um déficit estimado de 700 milhões de libras e 130 mil membros - mais que 10 vezes o contingente ativo de mão de obra.
"A ideia de que alguém estaria disposto a assumir uma empresa difícil, e [vinculada a] um grandes esquema de pensões, simplesmente não faz nenhum sentido", diz John Ralfe, um consultor no setor de pensões. "A ThyssenKrupp estaria maluca".
Para tentar amenizar essas preocupações, o governo britânico ofereceu um pacote financeiro significativo a qualquer proprietário futuro das operações britânicas da Tata, inclusive uma proposta para isolar o regime de pensões.
Independentemente do resultado das negociações entre a indiana Tata e a ThyssenKrupp, uma reformulação do setor parece provável, agora que as siderúrgicas europeias começam a atacar os problemas que as afligem desde a crise financeira.
Fonte: Valor Economico/Por Michael Pooler e Patrick McGee | Financial Times, de Londres e Frankfurt