Sem sucesso na tentativa de vender a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), a ThyssenKrupp decidiu estabelecer como prioridade deixar seu balanço positivo. Futuramente, o processo de venda será retomado, afirma Heinrich Hiesinger, presidente global do grupo alemão. "Redirecionamos totalmente o foco do time em melhorar a CSA e torná-la uma empresa lucrativa", afirmou. "Mas sabemos que em médio a longo prazos não vamos mantê-la", acrescentou.
Na avaliação de Hiesinger, presidente do grupo desde 2011, é arriscado para a ThyssenKrupp operar a CSA sem uma atuação no próximo elo da cadeia. Daria mais segurança à companhia, por exemplo, uma operação de transformação das placas em produtos de valor agregado (laminados), o que não está nos seus planos. Outro inconveniente de continuar com o ativo é a necessidade de mantê-lo competitivo, o que demanda gastos de € 100 milhões ao ano.
Globalmente, a Thyssen também continuará a colocar ativos para venda, sempre que o retorno não for o desejado, afirma. "No passado, demoramos muito [para vender operações] e sacrificamos negócios por não aceitar a realidade." A laminadora do Alabama (EUA), vendida para o consórcio de ArceloMittal e Nippon Steel & Sumitomo Metal, é um exemplo da estratégia. Segundo o executivo, a fundição era muito lucrativa, mas a companhia precisava investir em áreas onde poderia ter melhores retornos de seu capital.
Hiesinger não precisou o momento da retomada do processo de venda CSA e enfatizou que, no passado, o processo foi prejudicado por fatores operacionais e questões externas. Câmbio, preço de minério de ferro, custos de energia e trabalhistas, juntamente com um problema no segundo alto-forno, dificultaram a vida dos executivos nas negociações com os interessados. "Tivemos soluções para vender, mas as condições não eram aceitáveis", disse o CEO.
A siderúrgica tem complexo fabril, incluindo termelétrica e porto, no distrito de Santa Cruz, Rio.
Entre os complicadores da operação, ele citou o período de aceleração de produção ("ramp up") "muito agressivo" na CSA, em 2010, com uma equipe técnica "não tão experiente". Agora, a companhia está mais cautelosa. Com capacidade de 5 milhões de toneladas, estima fazer 4 milhões de toneladas este ano. Do total, 2 milhões de toneladas serão vendidas por ano, até 2019, para a laminadora do Alabama graças a um acordo firmado com os novos donos. A empresa também tem como cliente a California Steel Industries (CSI), da Vale e JFE Steel. No mercado local, a Thyssen pretende ganhar espaço na demanda de placas de aço para o setor automotivo.
Nas contas de Heisinger, a CSA será lucrativa no próximo ano fiscal, que terá início em outubro. Ele afirma que os principais problemas da unidade foram resolvidos e que a situação de mercado está mais positiva, com uma demanda sólida nos EUA. Taxa de câmbio e dólar também favorecem a operação neste momento, diz. "Já tivemos um último trimestre mais positivo", afirmou. Nos nove meses terminados em junho, a CSA teve perdas de € 30 milhões, segundo o executivo, resultado melhor do que as perdas de € 300 milhões no mesmo período do ano anterior.
Sobre a relação societária com a Vale, que tem 27% de participação na CSA, Hiesinger disse que as duas empresas estão em contato para resolver as pendências. É o caso do empréstimo de R$ 1 bilhão que a Thyssen tem a receber da CSA, aportes feitos no passado pela Vale e reclamações da mineradora brasileira sobre gestão da companhia a partir de 2009. "Estamos em diálogo e queremos achar o melhor caminho para encontrar as soluções", afirmou Hiesinger.
Fonte: Valor Econômico/Por Olivia Alonso | De São Paulo
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