Com a decisão tomada há um ano de se livrar de seus ativos siderúrgicos no Brasil e nos Estados Unidos, devido a erros de investimento e a perdas financeiras que podem durar até 2015, o grupo alemão ThyssenKrupp tenta no momento viabilizar a venda de parte da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), o mais complicado dos dois empreendimentos. Pela proposta, em avaliação, a companhia receberia cerca de US$ 1,6 bilhão ao vender aproximadamente 40% do capital e ainda continuaria com 33% da siderúrgica.
A operação vislumbrada para a CSA prevê que a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), única candidata ao ativo, e a Vale, que já é sócia com 27%, passem a ter também 33% cada uma. A operação envolve ainda o BNDES, como financiador da CSA em novos investimentos a serem feitos na usina. Avalia-se um valor de até US$ 1 bilhão para que passe a operar em nível de qualidade exigida para ser competitiva.
Nesse desenho, a CSN desembolsaria de US$ 1,35 bilhão a US$ 1,4 bilhão por um terço da CSA e se tornaria co-controladora e responsável por gerir a siderúrgica, situada no distrito de Santa Cruz, disse uma fonte ao Valor.
A grande questão é saber se a Vale aceitaria aportar mais dinheiro na CSA - o correspondente a US$ 250 milhões - por mais 6%, conforme proposta da ThyssenKrupp, negociada com CSN e levada informalmente ao conhecimento da Vale. Na sexta-feira, a direção da mineradora não comentou o assunto, dizendo que não é ator no processo e que só deseja preservar seus direitos na empresa.
Em 2009, em plena crise econômica e financeira mundial, a Vale teve de socorrer a ThyssenKrupp com R$ 2,5 bilhões para viabilizar a conclusão da CSA, com capacidade de 5 milhões de toneladas de placas de aço por ano. Com isso, elevou sua parcela na empresa de 10% para 27%. Motivo: a CSA passaria a comprar da Vale 8,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano tão logo entrasse em operação plena, com base em contrato firmado para até 2024. Negócio de US$ 1 bilhão por ano.
A nova proposta surge como a mais provável solução para levar avante o negócio com a CSN, que também tem interesse pela laminadora no Estado do Alabama, EUA. Steinbruch é o último interessado depois que o grupo Techint-Ternium informou na semana passada que desistiu da CSA.
No negócio completo, a CSN pagaria mais US$ 1,5 bilhão, aproximadamente, pela laminadora americana. Para isso, já teria assegurado uma linha de crédito de US$ 1 bilhão com dois bancos brasileiros, disseram fontes. O interesse da CSN é de levar os dois ativos ou nada. Seu plano é formar uma operação integrada Brasil-EUA para atender montadoras de automóveis e a indústria de linha branca nas Américas com as chapas de aço produzidas no Alabama.
As negociações ganharam nova dinâmica na última semana, mas não devem ser concluídas em menos de 30 a 45 dias, disse ao Valor uma fonte próximas às conversas. Segundo um representante do governo, "as negociações estão bem avançadas" com a CSN e se obtiverem sucesso, será uma "solução boa, uma solução nacional". Resta assegurar o consentimento da Vale e do BNDES para a proposta.
Para não afetar seu perfil financeiro e, ao mesmo tempo, garantir o novo investimento na CSA, Steinbruch aposta nessa composição societária. Como não fica controlador da CSA, não precisa consolidar toda a dívida da siderúrgica em seu balanço, além de desembolsar menos dinheiro no negócio. Só com o BNDES, as dívidas da CSA somam R$ 2,4 bilhões. A empresa tem ainda um valor expressivo tomado da própria ThyssenKrupp.
Há outro motivo para a Thyssen continuar por algum tempo na CSA: garantir a continuidade dos incentivos fiscais recebidos do Estado do Rio de Janeiro na instalação da usina. O governador Sérgio Cabral (PMDB) e sua equipe chegou a ameaçar a retirada dos benefícios se Steinbruch adquirisse a siderúrgica. Por ter levado a sede da CSN do Rio para São Paulo, o empresário virou desafeto de Cabral.
Para a ThyssenKrupp, que injetou US$ 12 bilhões em seu projeto siderúrgico nas Américas e já teve de fazer baixa contábil de US$ 7 bilhões, não é nada interessante vender apenas a fábrica dos EUA e deixar para trás a CSA. Pela laminadora americana, há também o interesse do consórcio da ArcelorMittal e Nippon Steel, disposto a pagar acima de US$ 1,5 bilhão pelo ativo.
A avaliação é que os dois ativos da holding ThyssenKrupp Steel Americas ainda vão perder dinheiro por mais três anos nas atuais condições de mercado e de seu parque fabril. Hoje, há excesso de capacidade mundial de produção de aço e uma acirrada competição no mercado global, além de alto custo de minério de ferro e carvão. Hoje, dá prejuízo fazer placas somente para exportação. No ano fiscal encerrado em 30 de setembro, com uma baixa contábil monumental de seus ativos, a Steel Américas reportou uma perda operacional antes do resultado financeiro de € 4 bilhões (R$ 10 bilhões).
Fonte: Valor Econômico/Ivo Ribeiro | De São Paulo
PUBLICIDADE