Fonte: Valor Econômico/Rhiannon Hoyle | The Wall Street Journal, de Sydney
À medida que gigantes do setor, como Rio Tinto PLC e BHP Billiton Ltd., extraem e exportam ainda mais o ingrediente necessário para a produção de aço, o excesso de oferta tem derrubado os preços mundialmente, pressionando pequenos produtores e aumentando as já enormes fatias de mercado dessas firmas.
As quatro maiores empresas produtoras de minério de ferro - Rio Tinto, BHP, Vale SA e a australiana Fortescue Metals Group Ltd. - responderam por 71% da venda mundial de minério de ferro em 2014, acima da média de 65% registrada entre 2009 e 2013, segundo estimativas do Citigroup Inc. O banco agora prevê que a participação de mercado conjunta das quatro empresas suba para 80% até 2018.
E não há sinais de que elas estejam prontas para recuar.
A BHP afirmou ontem que sua produção de minério de ferro subiu 14%, atingindo um recorde de 233 milhões de toneladas no ano fiscal encerrado em junho. A BHP prevê outro aumento de 6% no atual ano fiscal. Na semana passada, a Rio Tinto informou que ainda planeja ampliar a produção de Pilbara, uma mina importante situada na região da Austrália Ocidental, para 360 milhões de toneladas nos próximos dois anos, ante os 280 milhões de toneladas do ano passado. A Vale, enquanto isso, espera produzir 450 milhões de toneladas até 2018, mais de 30% acima da produção de 2014.
Para as titãs do setor, esse cenário soa como um "déjà vu". Antes do começo dos anos 2000, os preços baixos e os altos custos dos investimentos faziam com que a indústria fosse dominada por apenas um punhado de grandes produtores. De 1980 a 2005, os exportadores de minério de ferro da Austrália conseguiam uma média de US$ 30 a tonelada (em dólares pela cotação atual), segundo a BHP. Depois disso, o crescimento vertiginoso da China levou a demanda e os preços para níveis estelares, atraindo novos fornecedores. O domínio dos maiores produtores arrefeceu, enquanto os preços subiram, atingindo o pico de US$ 190 a tonelada em 2011.
Agora que a demanda da China vem caindo, os preços recuaram para US$ 52 a tonelada, próximo do seu menor nível em dez anos. Mais uma vez, os maiores do mercado apostam em produzir o máximo possível mesmo com os preços baixos, em vez de extrair menos minério de ferro para tentar fortalecer os preços com uma redução na oferta.
Os custos operacionais para as grandes produtoras são baixos o bastante para que consigam manter uma margem razoável em cada tonelada vendida, apesar dos preços baixos, graças às economias de escala. Elas também não querem ceder nenhuma participação de mercado para as rivais ao reduzir a produção. Além disso, as regras contra cartéis as impedem de usar sua posição oligárquica para coordenar uma restrição na oferta.
Mas investidores e analistas têm se tornado mais críticos. A BHP divulgou queda de 35% no lucro das suas operações com minério de ferro nos seis meses encerrados em dezembro em relação a um ano antes. Ela divulgará os resultados do ano todo no próximo mês.
Tanto a BHP quanto a Rio Tinto estão registrando os menores níveis de retorno sobre o patrimônio desde os anos 80, de acordo com estimativa recente do Citi, com suas ações sendo negociadas perto dos menores níveis dos últimos seis anos.
"Provavelmente, é hora para o oligopólio começar a reconsiderar sua abordagem orientada para a oferta", diz Ben Lyons, gestor de portfólio da ATI Asset Management, em Sydney.
O debate se acirrou em maio, quando concorrentes menores, pressionados pela derrocada dos preços, pediram ao governo australiano para promover um inquérito parlamentar sobre o implacável aumento da produção da indústria. O governo rejeitou o pedido.
Entre os críticos da BHP e da Rio Tinto estão as mineradoras americanas Cliffs Natural Resources Inc. e Fortescue - elas próprias também aumentaram fortemente sua produção nos últimos anos, mas enfrentam dificuldades diante de enormes dívidas e custos mais altos que das concorrentes australianas.
Outras grandes empresas internacionais também estão com problemas. A Anglo American PLC, a quinta maior mineradora diversificada do mundo em valor de mercado, informou que deve realizar uma baixa contábil de até US$ 4 bilhões em ativos neste ano, a maior parte relacionada ao projeto brasileiro de minério de ferro Minas- Rio, onde a empresa já investiu US$ 8,8 bilhões.
Tanto a Rio Tinto quanto a BHP afirmam que suas expansões, planejadas há anos, são de interesse dos acionistas.E qualquer alteração exigiria uma enorme virada por parte dos executivos.
"Nós vemos valor em reduzir o nosso volume com a meta de aumentar o preço? A resposta para isso é absolutamente não", disse em março Jimmy Wilson, líder dos negócios de minério de ferro da BHP. "Se reduzirmos o volume, ele será preenchido por outras empresas. No fim do dia, estaremos penalizando, em essência, nossos acionistas."
Espera-se que os produtores menores acabem saindo do mercado. A queda dos preços já provocou o fechamento de algumas mineradoras privadas na China, onde os custos de produção estão entre os mais altos do mundo.
"Nós acreditamos que outras mineradoras com custos mais altos continuem a cortar capacidade em resposta aos preços baixos", diz o analista Christopher LaFemina, da Jefferies.
Na Austrália, pequenos produtores outrora prósperos agora buscam um futuro em qualquer outra área. A Gindalbie Metals Ltd., por exemplo, está disputando um contrato do governo australiano para cuidar de resíduos nucleares nas terras que possui, enquanto a Mount Gibson Iron Ltd. está considerando opções para uma base logística no local de sua mina.
Analistas dizem, porém, que cortes maiores serão necessários para estimular uma alta nos preços.
Os analistas do Citi dizem que não esperam que o "a estrutura oligárquica do mercado" de minério de ferro consiga impedir que os preços caiam abaixo de US$ 40 toneladas neste ano.
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