A TNK-BP, terceira maior produtora de petróleo da Rússia, vai pagar em duas parcelas, ao longo de dois anos, o valor de US$ 1 bilhão pela aquisição da participação de 45% na brasileira HRT O&G, apurou o Valor com fontes do setor. O negócio, que será o maior investimento russo no Brasil, estava virtualmente fechado ontem e pode ter um anúncio oficial ainda nesta semana.
Em maio, a HRT exerceu seu direito de comprar essa participação de sua então sócia, Petra Energia, por R$ 1,288 bilhão, equivalentes a US$ 795,6 milhões pela cotação do dólar no dia do anúncio. Ainda não está claro quem vai se apropriar da diferença de valores - US$ 204,325 milhões, ou 25,68% além do valor pago à Petra - mas é possível que as duas ex-sócias estejam negociando uma forma de compartilhamento desses recursos.
Desde que as negociações entre a TNK-BP e a HRT começaram, em março, as ações da companhia brasileira perderam 57,33% de seu valor em bolsa. Considerando a performance dos papéis desde maio, quando foi oficializada a saída da Petra do capital da empresa, a desvalorização alcança 50,31%.
Dependendo do sucesso exploratório da HRT, que opera 21 blocos na bacia do rio Solimões (Estado do Amazonas), em uma área equivalente a duas vezes o tamanho da Dinamarca, os investimentos dos sócios nos próximos anos deve chegar a US$ 12 bilhões, o que incluirá gastos para desenvolver e escoar a produção de óleo e, principalmente, de gás natural da região.
Se descobrir grandes jazidas de gás e óleo a companhia terá que investir no escoamento dessa produção por uma região muito sensível ecologicamente e que impôs grandes desafios de engenharia para a própria Petrobras, que detinha o monopólio de fato na região até a chegada da novata. Em público, a HRT tem informado que estuda alternativas de usar o gás natural na área para geração elétrica e na produção de fertilizantes.
Até 2014, a companhia tem planos de investir no Brasil e na Namíbia US$ 3,2 bilhões. A entrada da TNK-BP traz a 'expertise' e um sócio, capitalizado, com credibilidade e porte internacionais para a novata HRT.
A TNK-BP é uma associação da petrolífera britânica BP (British Petroleum), que tem 50% da empresa em sociedade com um grupo de três empresas russas, a Alfa Group, Access Industries e Renova, que formam a holding AAR. Trata-se de um consórcio que administra US$ 35 bilhões em ativos de petróleo e gás, o qual é controlado por um grupo de oligarcas de origem ucraniana: Mikhail Fridman (do Alfa Group e atual CEO e presidente executivo da TNK-BP), Leonard Blavatnik (da Access) e Victor Vekselberg (da Renova).
Na divulgação do seu último balanço trimestral, nesta semana, a TNK-BP informou que produziu 1,782 milhão de barris de óleo equivalente por dia de petróleo e gás. O número não inclui dados da joint venture com a russa Slavneft e nem a produção na Venezuela.
O lucro líquido apurado no terceiro trimestre pela TNK-BP somou US$ 2,268 bilhões - o valor significou um aumento de 56,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) foi de US$ 3,57 bilhões, ante valor obtido de US$ 2,56 bilhões obtidos no mesmo período de 2010. As receitas da petrolífera anglo-russa alcançaram US$ 15,3 bilhões no último trimestre, representando expansão de 34,2%.
O Valor apurou que a aquisição da participação na HRT gerou controvérsia no conselho de administração da TNK BP. Os representantes da Renova e da Access teriam votado contra o negócio, manifestando dúvidas quanto à confiabilidade do Brasil, mas foram voto vencido. Entre os que se manifestaram favoráveis estava o ex-chanceler da Alemanha, Gerhard Schröder, que é um dos conselheiros independentes da empresa.
Recentemente,o presidente da HRT, Márcio Rocha Mello, informou que a empresa vai perfurar menos poços na Amazônia, reduzindo de 31 para 19 as perfurações em 2012. Por trás disso está a reclamação dos russos de que gostariam de participar mais das decisões de investimentos da companhia.
A TNK-BP é a terceira grande empresa internacional a fazer uma investida no setor petrolífero brasileiro. Primeiro foi a chinesa Sinopec, que pagou US$ 7,1 bilhões por 40% dos ativos da Repsol no país. Em seguida, outra chinesa, a Sinochem, adquiriu 40% do campo de Peregrino, da Statoil, por US$ 3 bilhões.
Fonte:Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner | Do Rio
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