Um terço dos fundos climáticos negociados no Reino Unido estão investidos em companhias de petróleo e gás, segundo pesquisa que salienta preocupações de que os investidores possam ser enganados por produtos de investimento sustentáveis.
A análise do grupo de pensadores de esquerda Common Wealth também descobriu que os fundos de baixo carbono têm exposição muito maior a empresas de tecnologia e financeiras, setores que podem ter um papel indireto na mudança climática, do que a ações de energia limpa.
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As conclusões aumentarão a pressão sobre os reguladores para tomar medidas mais ousadas para evitar a "lavagem verde", em que os administradores de fundos exageram suas credenciais de sustentabilidade para conquistar uma parcela do crescente mercado de fundos ambientais, sociais e de governança (ESG).
A Common Wealth, que examinou 33 fundos de baixo carbono vendidos no Reino Unido para investidores no varejo, disse que embora sua pesquisa não indique necessariamente publicidade falsa dos administradores de capitais, ela levanta questões sobre se os fundos satisfazem as expectativas dos investidores.
"O investidor individual médio que se esforça para escolher uma opção de fundo focado no clima poderia racionalmente esperar que seu dinheiro fosse usado para investir em descarbonização, energia limpa e outras áreas relacionadas", diz Adrienne Buller, autora da pesquisa. "Mas os investidores poderão se surpreender e decepcionar com a destinação de seus fundos."
A Common Wealth indicou 12 fundos que possuem uma ou mais companhias de gás e petróleo, apesar de terem um objetivo ambiental. Ela destacou três produtos, administrados pelo HSBC Asset Management, Ossiam e Lyxor, que detinham a produtora de petróleo americana ExxonMobil, conhecida por práticas não ecológicas. Os fundos HSBC e Ossiam, porém, disseram que já venderam a companhia.
Além disso, a pesquisa descobriu que fundos de baixo carbono eram fortemente investidos em tecnologia e serviços financeiros, setores que não estão diretamente ligados à mudança climática, mas contribuem de outras maneiras, como no caso dos bancos que dão empréstimos para empresas poluidoras.
Esses setores formam quase 30% do valor de um fundo de baixo carbono em média, comparados com menos de 6% investidos em utilidades públicas e cerca de 3% em energia, ambos os quais podem incluir provedores de energia limpa, segundo a Common Wealth.
O grupo de estudos pediu que os políticos britânicos ponham fim à confusão sobre que investimentos contam como verdes, elaborando um sistema de classificação abrangente que defina um espectro de atividades que incluem verdes, prejudiciais e neutras.
Tal proposta iria além do que as próximas regras ESG da União Europeia, que não vigorarão no Reino Unido devido ao brexit. Enquanto o Reino Unido se prepara para cortar seus laços com a UE, aumenta a discussão sobre a abordagem britânica das finanças sustentáveis quando assumir o controle de suas regras.
"Existe uma verdadeira janela de oportunidade com o brexit e a COP26 [negociações internacionais sobre o clima] para o Reino Unido assumir uma posição ousada e desenvolver regulamentação compulsória", disse Buller.
No entanto, alguns argumentam que uma repressão à exposição a empresas poluidoras impediria os gerentes de fundos de usar sua voz para pressionar por mudanças. A pressão dos acionistas, afinal, contribuiu para a ExxonMobil concordar em reduzir parcialmente suas emissões nesta semana.
François Millet, chefe de ETFs (fundos negociados em bolsa) ESG na Lyxor, disse que possuir ações de petróleo e gás "nos permite falar com as companhias, exercer nossa influência como acionistas e usar nosso poder de voto".
O ETF da Lyxor que detém a ExxonMobil investe em todo o mercado, mas reavalia as ações com base em seus esforços para descarbonizar, recompensando companhias que fazem progresso e penalizando as retardatárias. A posição do fundo na companhia representa 0,06% dos ativos.
Fonte: Folha SP