A fabricante holandesa de tintas AkzoNobel rejeitou ontem outra oferta de compra da rival americana PPG, que elevou em € 1,5 bilhão, para € 22,4 bilhões, o valor da proposta. A união, que ainda deve ser alvo de insistência da PPG, formaria uma gigante do setor com mais que o dobro de faturamento da segunda colocada, e teria efeitos inclusive no mercado brasileiro.
No Brasil, a Akzo detém uma série de marcas de tintas imobiliárias, com destaque para a Coral. Já a PPG tem como foco o setor automotivo e industrial.
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Uma eventual união das duas companhias daria origem a um gigante global no mercado de tintas, com receita consolidada de aproximadamente US$ 30 bilhões, bem à frente da Sherwin-Willians, que no ano passado teve vendas líquidas de US$ 11,9 bilhões.
Mesmo após ter a oferta recusada pela segunda vez, a PPG informou em comunicado que "continua confiante" na união com a AkzoNobel. Os holandeses, além de se sentirem subvalorizados, temem que a operação provoque venda de ativos por conta de sobreposições geográficas e de segmentos, principalmente nos setores de pinturas decorativas e revestimentos.
A PPG afirmou que a última proposta representa um prêmio de cerca de 40% em relação ao valor de mercado da rival logo antes do início das negociações.
"Estas questões antitruste terão um impacto negativo significativo sobre os funcionários e clientes, o que afetará a integridade da AkzoNobel", destacou a empresa em comunicado. Contudo, desde a primeira proposta, publicada em 9 de março, a Akzo já oficializou que estuda estratégias de separação da sua divisão de produtos químicos especiais.
À primeira vista, disse uma fonte da indústria, as companhias não enfrentariam restrições por parte de órgãos antitruste já que as operações são bastante complementares.
Também no Brasil, disse a fonte, PPG e Akzo não teriam dificuldades em aprovar o negócio junto ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), por causa do portfólio complementar. No país, a PPG tem uma operação pequena na área de tintas imobiliárias, com a marca Renner.
A Akzo, por sua vez, é líder em tintas imobiliárias com a marca Coral, só superada pela Basf, dona da Suvinil, quando consideradas também as vendas da Glasurit. Por outro lado, a companhia americana é líder de mercado em segmentos industriais.
Dilson Ferreira, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati), enxerga o negócio como positivo. "A consolidação de empresas de tintas vêm tendo um resultado positivo no sentido de fortalecer o mercado. Isto as torna mais eficiente em relação a linhas de produtos, tecnologia e sustentabilidade", afirmou. "[Akzo e PPG] têm contribuído há muito tempo com o mercado brasileiro, têm colaborado com a cadeia. São as duas maiores empresas de tintas no mundo e esses fatores refletem aqui."
Com relação ao peso de cada segmento no mercado brasileiro, o faturamento das tintas imobiliárias representou 63,8% do total do setor no ano passado, movimentando US$ 1,8 bilhão, segundo a Abrafati. O segmento automotivo, somando a indústria e a área de repintura, faturou US$ 454 milhões, ou 15,8% do total.
"A construção civil passa por um momento muito difícil, que afetou a demanda por tintas, tanto na venda para as construtoras, como no varejo, para os consumidores finais", conta Ferreira.
A projeção da entidade, no entanto, é que a retomada do Minha Casa, Minha Vida e a implantação de programas governamentais como o Construcard e o Cartão Reforma, associados à recuperação do poder aquisitivo, devem recuperar o setor no médio prazo.
No setor automotivo, que também sofreu com a crise, a projeção é de uma recuperação mais lenta, na visão do presidente da Abrafati.
Por outro lado, o setor tem valor agregado superior ao do imobiliário. Levando em conta os dados de 2016, o litro de tinta automotiva custou em média de US$ 5,10, quase o triplo do preço do produto voltado ao mercado imobiliário, de cerca de US$ 1,84 por litro.
Fonte: Valor