Um comissão de técnicos da Vale viaja esta semana para a Índia para prospectar clientes para o carvão que começou a produzir em Moçambique. A Índia é vista pela empresa como um importante potencial cliente. O país tem grandes grupos siderúrgicos e necessidade crescente de carvão. A Vale, no entanto, conhece pouco do perfil do mercado indiano.
A mina de carvão de Moatize, na província de Tete, Moçambique, começou a produzir em agosto. O primeiro carregamento foi vendido para um fundo de investimentos e a empresa diz que já há embarques programados para o Sudeste Asiático e para o Japão. Mas é a Índia merece atenção especial.
"Queremos desbravar o mercado da Índia. A exportação de carvão para lá traria uma vantagem logística pela proximidade com Moçambique", disse Rogério Tales Silva Carneiro, gerente-geral de pesquisa e desenvolvimento de produtos e processos da Vale. O país tem grandes siderúrgicas, entre elas a Tata e Jindal Steel, e depende de importações de carvão.
O Ministério do Carvão indiano, segundo informa em seu site, prevê que até o ano que vem a demanda pelo insumo terá atingido 713 milhões de toneladas, enquanto a produção nacional será de 630 milhões. As 83 milhões de toneladas restantes provavelmente terão ser importadas, diz o ministério. Indonésia e China são alguns dos grandes fornecedores para a Índia.
A Vale pretende se tornar um "player" global no setor e está investindo US$ 1,65 bilhão na mina africana, cuja capacidade de produção nominal será de 11 milhões de toneladas por ano de carvão mineral e térmico. É o maior empreendimento da empresa em carvão. Suas principais concorrentes em minério de ferro, a BHP Billiton e a Rio Tinto, já exploram carvão e estão a sua frente neste segmento.
A Vale tem pouco know-how na Índia. "Não vendemos minério de ferro para a Índia e, portanto, é um mercado que não conhecemos bem", diz o executivo. O país concorre com a Vale em minério.
Esta é a primeira missão técnica que empresa envia para lá para tratar de carvão. O objetivo é avaliar quais as necessidades das siderúrgicas indianas pelo insumo. "Conhecemos pouco as siderúrgicas deles e por isso essa missão específica", disse Carneiro.
A empresa tem mais conhecimento sobre o Japão, um dos mercados prioritários para o carvão de Moçambique. O mesmo acontece com a Europa, embora este não seja prioridade inicial na estratégia de vendas de carvão, disse Carneiro. Além do Japão, o Brasil será outro mercado para as primeiras cargas de carvão de Moatize.
A Vale já produz carvão na China (onde tem participações minoritárias em duas joint ventures), Austrália e Colômbia. A mina de Moçambique colocará, no entanto, a empresa em outro patamar. Moatize é uma das maiores reservas carboníferas do mundo e seu carvão tem características de "premium", o que significa que será comercializado numa faixa superior de preços, estima a empresa.
A Vale está investindo R$ 15 milhões na montagem de um laboratório exclusivo para análises do carvão e em uma coqueria piloto, que devem entrar em operação no fim de 2012. Ambos serão erguidos no Centro de Tecnologia de Ferrosos, na cidade de Nova Lima, na Grande Belo Horizonte.
O objetivo é oferecer aos futuros clientes informações detalhadas sobre o carvão para atender a demandas específicas. A empresa planeja vender minério de ferro e carvão num mesmo pacote, com informações e conhecimento sobre quais combinações produzem aço com características que atendam às necessidades dos clientes.
No terceiro trimestre, as vendas de carvão da empresa foram de US$ 284 milhões ante os US$ 256 milhões do segundo trimestre. O resultado reflete aumento tanto dos volumes quanto dos preços.
Fonte: Valor Econômico/Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
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