A Vale superou as expectativas com bons números operacionais no segundo trimestre do ano e deu claros sinais de que poderá continuar avançando em melhorias na redução de custos, nos preços de venda e na qualidade do minério de ferro oferecido ao mercado. Essas três variáveis estão passando por mudanças "estruturais" dentro da companhia, disse ontem o presidente da Vale, Murilo Ferreira, ao comentar os resultados da empresa no segundo trimestre, quando a Vale registrou lucro de R$ 5,1 bilhões, 61% acima do mesmo período do ano passado. No primeiro semestre, porém, a empresa acumulou prejuízo de R$ 4,3 bilhões, influenciado pelo resultado negativo do primeiro trimestre.
A transição da Vale rumo a uma posição ainda mais competitiva no minério de ferro é importante para a empresa frente a um mercado em que os preços da commodity - da qual a companhia ainda é fortemente dependente -, estão com as cotações em queda. A redução nos preços vem reduzido as receitas da Vale. De abril a junho, a empresa registrou receita líquida de R$ 21,4 bilhões, queda de 3% sobre o igual período de 2014. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) totalizou R$ 6,8 bilhões, queda de 25,4% sobre abril-junho do ano passado.
Apesar de os analistas que acompanham a empresa terem recebido bem os resultados, a ação da Vale na BM&F Bovespa caiu forte ontem. A ação ordinária perdeu 4,9% sobre a véspera e a preferencial, caiu 4,63%. Em 2015, a ação ordinária perde 18,12% e a preferencial, 22,57%. O mercado fez duas leituras sobre a desvalorização das ações no pregão. Uma foi que os investidores não gostaram dos termos da operação de venda anunciada pela Vale envolvendo fatia minoritária na Minerações Brasileiras Reunidas (MBR) - ver matéria nesta página -, pois o negócio teria sido realizado por múltiplos inferiores aos que a Vale negocia, o que representaria "destruição" de valor, disse analista.
Outra leitura é que o mercado pode não ter gostado da indicação dada pela empresa de que poderá rever para baixo a meta de produção de minério de ferro, de 376 milhões de toneladas, em 2016. Essa meta foi fixada no fim do ano passado, no "Vale Day", em Nova York, quando também a empresa também determinou a meta de 340 milhões de toneladas para 2015, número que deve ser cumprido. "Vamos tomar decisões de produção a partir da margem praticada. A ideia é que as operações [das minas] sejam rentáveis isoladamente", disse Ferreira. A meta de produção de minério de ferro para 2016 será definida no próximo "Vale Day", em dezembro.
Mercado elogiou performance no minério de ferro, mas ficou desapontado com desempenho em metais
O entendimento da Vale é que a empresa pode ser mais eficiente no minério de ferro. Peter Poppinga, diretor-executivo de ferrosos e estratégia da mineradora, disse que no segundo trimestre o teor de ferro no minério produzido pela Vale aumentou pela primeira vez em dez anos. "Foi uma virada de jogo", afirmou. O teor de ferro está ligado à qualidade do produto. O teor de ferro do minério da Vale subiu de 63% no primeiro trimestre para 63,2% no segundo trimestre. "Estimamos mais 0,5% de teor de ferro até o fim deste ano e mais meio por cento em 2016. "Mais 0,5% de teor de ferro ao longo de um ano inteiro, aos preços atuais, representa mais US$ 200 milhões", disse Poppinga.
Os analistas destacaram como positivo, no segundo trimestre maiores volumes de venda de minério de ferro, que totalizaram 83,6 milhões de toneladas (incluindo pelotas), 9% acima do ano passado. Os preços de venda realizados pela Vale também surpreenderam. O preço dos finos de minério da empresa foi de US$ 50,6 por tonelada de abril a junho, US$ 4,6 por tonelada acima dos US$ 46 do primeiro trimestre. Poppinga disse que vê uma tendência de que os preços de venda realizados pela Vale melhorem gradativamente.
Os analistas também destacaram os cortes nos custos de produção do minério de ferro. O custo do minério fino da Vale posto no porto (FOB), excluindo royalties, ficou em US$ 15,8 por tonelada no segundo trimestre. Os custos de produção do minério de Carajás (PA) ficaram abaixo de US$ 12 por tonelada em junho tendo como referência o porto de embarque no Brasil. No segundo trimestre, a Vale entregou minério na China ao custo de US$ 39,1 por tonelada, abaixo dos US$ 43,4 por tonelada registrados de janeiro a março.
A Vale deu indicações de que poderá reduzir mais a meta estabelecida para este ano de entregar minério de ferro na China a um custo entre US$ 37 e US$ 41 por tonelada. Ferreira disse que a empresa trabalha para reduzir o "piso" de US$ 39 por tonelada registrado de abril a junho. O mercado continua preocupado, porém, com a dependência da Vale do minério de ferro em um cenário marcado pela queda nos preços. Os analistas mostram-se decepcionados, por outra parte, com os resultados da divisão de metais básicos (níquel e cobre). O Ebitda ajustado dessa área de negócios totalizou US$ 406 milhões de abril a junho, queda de 9,3% sobre igual período de 2014.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes, Rafael Rosas e Alessandra Saraiva | Do Rio
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