Ao fazer um balanço da longa greve dos mineiros de Sudbury e Port Colborne, no Canadá, encerrada sexta-feira, Tito Martins, diretor-executivo de Metais Básicos da Vale, avaliou que a empresa conseguiu tudo que queria na queda-de-braço de quase um ano com os trabalhadores. "O que era importante para a Vale nessa negociação era conseguir o alinhamento dos empregados do Canadá como um todo ao tipo de relação que a empresa mantém com seus funcionários no resto do mundo, que envolve três pontos cruciais: plano de pensão, bonus e linha de comando entre empregador e empregado sem intervenção direta do sindicato." Para Martins, "a grande discussão não foi econômica. Foi, na verdade, uma briga por poder".
Além de ter conseguido a introdução do regime de contribuição definida no plano de pensão dos novos empregados de Sudbury e Port Colborne, que para Martins faz parte de um movimento natural na América do Norte, pois a contribuição definida é mais ajustada à dinamica do contrato atual de trabalho, a Vale teve aprovação dos empregados à proposta de amarrar a bonificação a performance da empresa e não ao preço do níquel.
Antes do acordo, aceito pelo UnitedSteelWorkers (USW) e acatado por 75% dos 3 mil trabalhadores de Sudbury, o direito do bonus era deflagrado a partir de um gatilho de cotação de US$ 2,2 por libra peso no preço do níquel. Segundo Martins, não havia teto. Agora, nas novas regras, a bonificação está ligada ao resultado da empresa. Os mineiros terão direito a 25% da performance da Vale como um todo no mundo e mais 75% ligados ao resultado do negócio de níquel. O gatilho subiu para US$ 3,75 por libra peso e foi introduzido teto no valor da bonificação. "O empregado não pode ganhar mais do que 25% da sua remuneração anual". Segundo o executivo, "entre 2007 e 2008, quando o preço do níquel disparou, tinha empregado ganhando mais de 100% de remuneração de bonus".
A mudança que mais agradou a Vale foi a alteração sensível no relacionamento entre empresa, empregado e sindicato. O novo acordo tem mais de 30 páginas e nelas há muitas cláusulas que limitam o poder do USW na relação empregador e empregado, disse Martins. "A interferência do sindicato passa a ser menor na gestão da empresa. Antes, qualquer reclamação da empresa o empregado levava direto ao sindicato, ao invés de fazê-la ao supervisor ou gerente. Até quando queria mudar de mina quem decidia era o sindicato. Agora vai ter que esperar dois anos para isto ser aprovado".
"Foi a quebra desse paradigma que levou a Vale a ir para o confronto com os trabalhadores por tanto tempo", afirmou Martins. "Não chamaria isto de vitória, porque nesta disputa não tem vencedores nem vencidos, mas esta foi a grande mudança neste acordo." O executivo, que comanda hoje a Vale no Canadá, disse que em Sudbury a relação entre comunidade, sindicato e empresa é "meio família com preponderância do sindicato". Mas no conceito da Vale, se é ela quem administra o negócio isto tem de mudar. "Não digo que esta relação não deixou de ter esta conotação, mas agora vamos começar a mudar isto. Estamos numa fase de transição. Nós é que temos de dar o caminho do negócio. Agora, a linha de comando não será mais cortada pelo sindicato. O sindicato estará ao lado e não entre o empregador e o empregado."
O executivo espera que a negociação com o sindicato de Voyce ' s Bay, ainda em greve no Canadá, termine nas próximas duas semanas. Este caso não envolve mudança em plano de pensão. Daqui a seis semanas os mineiros de Sudbury e Port Colborne devem voltar ao trabalho.
Fonte: Valor Econômico/ Vera Saavedra Durão, do Rio
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