RIO DE JANEIRO - A Vale poderá ter como garantia de investimento na exploração de terras-raras um contrato de fornecimento de longo prazo com a Petrobras, acordo que viabilizaria a produção dos compostos minerais no Brasil, disseram duas fontes com conhecimento do assunto.
A Petrobras atualmente importa da China a matéria-prima utilizada no processo de refino de petróleo.
Como parte de um protocolo de intenções recém-formalizado entre as duas companhias para projetos de interesse comum, Vale e Petrobras estudam como tornar viável a exploração de grandes jazidas de terras-raras herdadas pela mineradora depois da compra de ativos da Bunge.
A Vale não quis comentar o assunto, de acordo com a assessoria de imprensa. A Petrobras não quis dar mais detalhes sobre o acordo com a mineradora anteriormente.
A maior produtora de minério de ferro do mundo desenvolve estudos de viabilidade para a exploração dos compostos minerais em Araxá (MG) e Catalão (GO), onde estão as maiores reservas brasileiras, ainda inexploradas.
O fornecimento da matéria-prima usada na elaboração catalizadores indispensáveis à produção de gasolina se tornou uma preocupação da Petrobras depois que a China, a maior produtora do mundo, decidiu limitar as exportações de terras-raras.
Para refinar petróleo, a Petrobras depende de catalizadores produzidos a partir de 900 toneladas anuais de óxido de lantânio, um dos 17 compostos que compõem o grupo das terras-raras, segundo relatório do Ministério de Minas e Energia e Ministério de Ciência e Tecnologia sobre minerais estratégicos.
O preço da tonelada do lantânio, segundo o relatório, passou de 5,7 mil dólares para 50 mil dólares após a China, responsável por 97 por cento da produção mundial de terras-raras, limitar a exportação por cotas, no final de 2010.
O preço pago pela Petrobras hoje estaria em torno de 20 mil dólares a tonelada, segundo uma das fontes, que pediram para não ser identificadas.
De acordo com relatório do ministério, a limitação no fornecimento de terras-raras pela China poderia impedir as refinarias brasileiras de produzirem plenamente, com "eventuais restrições no atendimento à demanda de gasolina e GLP".
As terras-raras também são utilizadas na produção em uma ampla gama de bens, desde telefones celulares a telas de TV.
DESAFIOS DA PARCERIA
A produção de terras-raras no Brasil requer pesados investimentos, com o desenvolvimento de processos complexos de beneficiamento, concentração e separação dos elementos em questão de minerais radioativos.
"Atenção especial deverá ser dada às questões ambientais e de saúde, uma vez que a grande maioria das fontes de terras-raras identificadas no Brasil está associada à presença de tório e urânio", assinala o estudo do governo.
Para garantir viabilidade econômica ao projeto, a Vale poderia contar com um contrato de fornecimento que lhe dará garantias para investir, disseram as fontes.
Em outras parcerias que estão sendo discutidas, a mineradora poderá ter prioridade no abastecimento de gás natural pela Petrobras, e a petroleira, por sua vez, poderá usar os portos da Vale para escoar equipamentos necessários à exploração de campos de petróleo localizados em mar, inclusive no pré-sal, conforme noticiou a Reuterss.
As duas companhias selaram em Sergipe na segunda-feira contrato pelo qual a Vale poderá extrair potássio em área onde a Petrobras já explora petróleo.
"Tenho certeza de que esse é apenas um projeto dos vários que realizaremos juntos nos próximos anos", afirmou Graça Foster, como é chamada a presidente da Petrobras, durante a solenidade de assinatura do projeto Carnalitas.
Fonte: Reuters/Sabrina Lorenzi e Leila Coimbra
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