A Vale deu mais um passo na estratégia de reduzir o endividamento da companhia, fortalecer o balanço financeiro e focar nos negócios prioritários do seu portfólio. Ontem a mineradora anunciou outro acordo com a canadense Silver Wheaton para vender produção adicional de 25% de ouro contido no concentrado de cobre da mina de Salobo em Marabá (PA). A transação vai permitir à Vale receber US$ 823 milhões. Com essa nova operação, a Vale completa venda de 75% do ouro obtidos como subproduto em Salobo para a Silver Wheaton desde 2013, pelo montante total de US$ 3 bilhões.

Em fato relevante, a empresa afirmou que o acordo com os canadenses é consistente com a estratégia da empresa de geração de valor ao acionista e de fortalecimento do balanço financeiro. "A Vale usará o montante da venda para reduzir seu endividamento", informou a mineradora. A Vale já anunciou o objetivo de reduzir o endividamento da companhia em US$ 10 bilhões em 18 meses.

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O mercado reagiu bem ao acordo. A ação ordinária da Vale fechou ontem em alta de 0,5% cotada a R$ 17,99. Já a ação preferencial subiu 0,76%, para R$ 14,66.

Venda é a segunda neste ano para fazer caixa e reduzir endividamento; a outra foi de US$ 269 milhões de três navios

Em relatório, o J.P. Morgan disse que a transação está em linha com a estratégia da Vale de fortalecer o balanço e de focar em operações prioritárias (minério de ferro, metais, carvão e fertilizantes). O banco considerou que a operação ficou um pouco abaixo, em termos de valor, do que as anteriores envolvendo os fluxos de ouro de Salobo, apesar dos maiores preços para o ouro hoje. O aumento da participação da Silver Wheaton no risco das operações de Salobo possivelmente resultou em um menor preço, avaliou o J.P. Morgan no relatório.

Em 2013, a Vale havia vendido 25% dos fluxos de ouro de Salobo para a Silver Wheaton por US$ 1,33 bilhão. E no começo do ano passado a mineradora vendeu mais de 25% por US$ 900 milhões. Agora a operação saiu por US$ 823 milhões, dos quais US$ 800 milhões em dinheiro e US$ 23 milhões em valor de opções sobre títulos da Silver Wheaton Corporation detidos pela Vale desde 2013 e com vencimento em 2023. O acordo anunciado ontem previu ainda pagamentos futuros em dinheiro por onça de ouro entregue à Silver Wheaton, baseados no menor valor entre US$ 400 por onça e o preço de mercado.

Essa cláusula poderia garantir à Vale, em uma conta aproximada, US$ 90 milhões. O valor considera a produção média estimada de Salobo, em torno de 300 mil onças até 2020, nas contas da Silver Wheaton; a fatia de 75% dos canadenses nos fluxos de ouro e o valor de US$ 400 por onça. Mas é preciso considerar que a produção de Salobo vai cair naturalmente ano a ano no futuro e, portanto, para fazer esta estimativa com precisão, seria preciso ter uma premissa de volume e uma taxa de desconto.

Ao mercado, a Vale informou que também poderá receber pagamento adicional em dinheiro, dependendo da decisão da empresa de expandir a capacidade de processamento do minério de cobre de Salobo acima de 28 milhões de toneladas por ano antes de 2036. Salobo I e Salobo II, que estão em fase de crescimento da produção, terão capacidade de processamento total de 24 milhões de toneladas de minério bruto, o que no jargão da mineração é conhecido pelo termo em inglês "run-of-mine". Esse valor contingente adicional poderá variar entre US$ 113 milhões e US$ 953 milhões, dependendo do teor de minério, tempo e tamanho da expansão, disse a Vale.

De acordo com a Vale, não há comprometimento firme da companhia em relação às quantidades de ouro entregues. "A Silver Wheaton tem direito a um percentual no prêmio do ouro contido no concentrado de cobre produzido na mina de Salobo, e não a volumes específicos, assumindo o risco operacional do negócio", disse a mineradora. É a segunda transação realizada pela companhia neste ano com o objetivo de fazer caixa e reduzir seu endividamento. A outra foi a venda de três navios supermineraleiros para um consórcio chinês liderado pela ICBC por cerca de US$ 269 milhões.

Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes | De São Paulo