A Vale vem ampliando acordos de cooperação técnica com siderúrgicas da Ásia e da Europa valendo-se do uso de tecnologias aplicadas em pesquisa na área de ferrosos. As parcerias permitem ganhos de ambos os lados: a Vale vende mais minério e os clientes reduzem custos de produção e aumentam a qualidade dos produtos siderúrgicos. Uma das parcerias envolveu o desenvolvimento de uma pelota especial, usada na produção de aço, que garantiu melhor desempenho para uma companhia siderúrgica asiática.
Com o trabalho, feito em 2008, antes da crise, a Vale obteve um adicional de US$ 24 por tonelada no preço de venda da pelota, o que, à época, representou mais de 25% do valor do produto. A atividade de pesquisa que possibilita esses ganhos é coordenada pelo Centro de Tecnologia de Ferrosos (CTF), um núcleo de desenvolvimento e aplicação de produtos da Vale, situado em Nova Lima, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Por meio do CTF, a Vale desenvolve pesquisas em toda a cadeia do minério de ferro - da mina ao aço. E sustenta toda essa atividade científica com o uso de tecnologias de ponta que permitem agregar valor ao produto. Outro exemplo de cooperação fechado pela Vale, com coordenação do CTF, envolveu a coreana Hyundai Steel. Em 2008, o CTF iniciou um programa de treinamento com os coreanos, que estavam montando usina integrada de produção de aço apta a fazer 12 milhões de toneladas/ano. No início, a Hyundai tinha interesse em comprar 33% do minério que precisava da Vale e o restante de BHP e Rio Tinto.
"Pedimos a eles para simular outras condições e provamos, pelos testes feitos, que, mesmo com o diferencial de frete em relação à Austrália, poderíamos fornecer um produto que lhes garantiria desempenho mais adequado em termos de custo e qualidade", diz Rogério Carneiro, gerente-geral de pesquisa e desenvolvimento de ferrosos da Vale. Hoje, o produto da Vale tem participação de 45% no mix de produção da Hyundai.
O objetivo da Vale é desfazer a ideia de que o minério de ferro é uma commodity. Em 2009, a mineradora foi pressionada pelo governo a investir mais no Brasil para elevar o valor agregado do produto, embora a empresa tenha em seu portfólio várias novas usinas siderúrgicas. Os novos projetos são: Aços Laminados do Pará (Alpa), a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e a Companhia Siderúrgica Ubu (CSU), no Espírito Santo. A ThyssenKrupp CSA, no Rio, foi inaugurada em junho.
A visão da Vale é que as pesquisas do CTF criam valor à cadeia siderúrgica e aos próprios clientes. No modelo atual de precificação do minério, que prevê reajustes trimestrais, premia-se a composição química. Ou seja, minérios com teores de ferro superiores a 62% valem mais, diz Carneiro. O produto com essa composição também garante um desempenho diferente para a siderúrgica.
"Acreditamos que o minério não é commodity e que a venda do produto exige o desenvolvimento de soluções para os clientes", afirma Carneiro. É esse trabalho que o CTF está apto a fazer. Hoje, estão em andamento no centro 35 projetos de pesquisa e desenvolvimento, dos quais 15 são voltados diretamente para clientes. Os outros 20 são projetos feitos para a própria Vale, como o desenvolvimento de produtos para as pelotizadoras da empresa, unidades que fazem a aglomeração de finos de minério.
No CTF há plantas-piloto que permitem desenvolver um produto em condições semelhantes às encontradas no alto-forno de uma siderúrgica. O objetivo é mostrar como os produtos vão se comportar nas linhas de produção dos clientes. O trabalho é complementado com simulações numéricas que envolvem modelos matemáticos que indicam custos de produção, o consumo de combustível e qualidade do aço.
Um equipamentos que sobressai no CTF é o espectrômetro Mössbauer, que faz especificação de diversos tipos de minério. O instrumento usa o efeito de emissões nucleares para detectar propriedades químicas e físicas da amostra. Investimentos em P&D na área de ferrosos da Vale superam US$ 30 milhões desde 2001.
Fonte: Valor Econômico/ Francisco Góes, de Nova Lima (MG)
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