A licença ambiental obtida pela Vale para o projeto de Serra Sul, no Pará, reduziu o ceticismo dos investidores que trabalhavam com a perspectiva de "capacidade zero" da mineradora de ampliar a produção de minério de ferro nos próximos cinco a seis anos. Murilo Ferreira, presidente-executivo da Vale, disse que este é o maior investimento de uma empresa privada no Brasil, com previsão de desembolso de R$ 40 bilhões. Ferreira se reuniu ontem com a presidente Dilma Roussef para detalhar o empreendimento, que deverá começar a operar em 2016.
Apesar das ações da Vale terem registrado ligeira queda ontem, analistas de bancos, como Luiz Fornari, do Barclays, avaliaram que "a licença de Serra Sul foi um passo importante para aumentar a confiança de investidores na Vale". O Barclays recomenda a compra do papel e trabalha com um preço alvo de US$ 31 para o ADR ON até o fim de 2012. A cotação atual é de US$ 19,02.
Com o projeto de Serra Sul, conhecido no jargão técnico da Vale como S11D, a empresa vai duplicar a produção de minério no Pará em quatro anos. Em 2011, o Sistema Norte da Vale produziu 109,8 milhões de toneladas de minério de ferro, número que saltará para 230 milhões de toneladas em 2017, disse Ferreira.
O cronograma, segundo a mineradora, prevê a obtenção da licença de instalação no primeiro semestre de 2013
Deste total, Serra Sul vai contribuir com 90 milhões de toneladas anuais e haverá um acréscimo de mais 40 milhões de toneladas da expansão da produção de Serra Norte. Ferreira explicou que o projeto, situado nos municípios de Parauapebas e Canãa de Carajás, pertence ao corpo mineral S11 que possui reservas de 10 bilhões de toneladas de minério de ferro. O S11 é dividido em quatro blocos. "O que vamos começar agora a explorar é o S11D." Os dados da Vale indicam que este bloco tem reservas de 2,78 bilhoes de toneladas de minério de ferro de alta qualidade.
O projeto é inovador em termos tecnológicos e de sustentabilidade, disse a diretora executiva de Sustentabilidade e Energia, Vania Somavilla. "É um conceito de projeto moderno porque se tirou tudo o que era possível de dentro da Floresta Nacional de Carajás, ficando ali apenas uma parte da mina". Este modelo foi possível porque a Vale optou por usar um sistema testado na Austrália para transportar o minério por meios de correias, ao invés de caminhões fora de estrada. O sistema é conhecido pelo nome de "truckless". "Mesmo com o S11D, a área minerada pela Vale em Carajás não vai chegar a 5% da floresta. Estamos tranquilos que o projeto não terá impacto sobre os sítios arqueológicos".
Outra vantagem do projeto citada por Ferreira é a redução no consumo de recursos naturais e combustíveis fósseis. A expectativa é de que haja redução de 93% no consumo de água, de 77% no consumo de combustível e de 50% nas emissões de gases de efeito estufa.
A expectativa da diretora-executiva de Sustentabilidade é que as licenças de instalação e de operação do projeto sejam aprovadas pelo Ibama dentro de seis meses há um ano. O cronograma, segundo a Vale, prevê a obtenção da licença de instalação no primeiro semestre de 2013, quando começariam as obras de construção da usina de beneficiamento do minério. Numa próxima etapa, no segundo semestre de 2016, seriam concluídos os trabalhos de implantação com início das operações tanto da mina, quanto da usina.
Dos R$ 40 bilhões de investimentos citados por Ferreira, R$ 16,5 bilhões serão destinados a mina e a usina de beneficiamento e R$ 23,5 bilhões para logística, incluindo ferrovia e porto. Os recursos a serem aplicados no projeto, segundo ele, virão da geração de caixa da Vale e de linhas de financiamento a serem tomadas junto ao BNDES, ao Japan Bank for Internacional Cooperation (JBIC) e de captação via emissão de bônus da companhia no mercado global, seguindo programação da diretoria financeira até 2016.
Galib Chaim, diretor-executivo de implantação de projetos de capital, informou que Serra Sul está com quase 80% da engenharia pronta, 30% dos suprimentos estão definidos, incluindo os principais pacotes e os maiores fornecedores. "Estamos utilizando uma metodologia de construção nova com base em módulos, o que vai acelerar a implantação do projeto sem dano ao meio ambiente". Segundo ele, os módulos estão sendo montados em um acampamento da Vale no Sudeste do Pará e serão transportador por rodovia numa extensão de 42 quilômetros até o local da usina. Na fase de implantação, o projeto vai absorver 30 mil trabalhadores, dos quais 24 mil na ampliação da Estrada de Ferro Carajás e cerca de 6 mil na mina e na usina. Na operação, o projeto empregará três mil pessoas.
Fonte: Valor Econômico/Por Vera Saavedra Durão e Francisco Góes | Do Rio
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