A Vale espera uma recuperação dos preços do minério de ferro no último trimestre do ano para algo entre US$ 110 a US$ 120 a tonelada, ante os US$ 90 atuais, o que deve acontecer caso a demanda na China não se retraia até o fim do ano. A previsão é do diretor-executivo de Ferrosos e Estratégia da companhia, José Carlos Martins. O executivo viaja nos próximos dias para o país asiático em visita a clientes e poderá avaliar "in loco" a situação da economia local, que, nas previsões do governo chinês, deve crescer 7,5% este ano.
Em entrevista ao Valor, Martins apontou dois fatores capazes de sustentar a retomada do preço no curto prazo. Primeiro, a produção de aço na China não está caindo, tendo crescido 3% até julho. E, sem egundo, o nível atual de preços de US$ 90 a tonelada no spot pode levar boa parte das mineradoras chinesas de alto custo a suspender operações, o que abre espaço para novos negócios no mercado transoceânico, onde a Vale atua.
"O processo de parada já começou e interessa aos produtores chineses forçar a volta do preço a patamares de US$ 120 para voltarem ao mercado", adianta o executivo. Segundo Martins, num raciocínio hipotético, se todas as mineradoras de alto custo do país asiático suspendessem as atividades se criaria um gap de 200 milhões de toneladas no mercado global da commodity. A China responde por 30% da produção mundial de minério de 1,5 bilhão de toneladas.
Martins reconhece que não esperava uma redução tão forte do preço do minério neste terceiro trimestre. Sua expectativa era que o preço ia se estabilizar na faixa de US$ 110 a US$ 120. A descida até US$ 90 o surpreendeu. "O mercado extrapolou", diz.
De julho até ontem, o minério de ferro caiu 35%, declinando de US$ 138 no início de julho para US$ 90. Ontem chegou a US$ 89, voltando a cair, o que não é um bom sinalizador. Segundo os cálculos do executivo, até agora a média do trimestre está em US$ 118, mas se permanecer pelo menos em US$ 90 até setembro, a média baixa para US$ 108. O valor médio do ano está em US$ 138 a tonelada, ante US$ 150 no ano passado (queda de 8%).
Ele não crê, porém, que os US$ 90 sejam sustentáveis por um prazo maior. "A menos que realmente a produção de aço na China caia". Segundo Martins, se o cenário for de oferta maior e queda na produção de aço chinês aí o nível de sustentação de preço será outro. "Mas não trabalho com esta hipótese, embora ela seja possível e não dê para descartar", afirma.
Mas até agora, o executivo atribui a grande queda do minério a um aumento inusitado da oferta no mercado da China. Houve um aumento da produção dos australianos e a própria Vale deslocou produto dos mercados do Brasil e da Europa para a China, por conta da crise, reconhece. "Não tem outra explicação para a descida", afirma, alegando que a China não diminuiu o apetite por minério. "Não é correto dizer isso, porque as importações chinesas do produto subiram até julho 9% e a participação da Vale, nessas compras, já é de 50%, acima do ano passado."
O impacto da baixa vai se refletir na receita de exportações brasileiras de minério de ferro, este ano, admite. "Pelo menos com os números até agora, sem dúvida", concorda Martins. Mas evita projetar números sobre as vendas da Vale. Em volume, informa que a empresa deve exportar 270 milhões de toneladas, quase 90% da sua produção. Outros 40 milhões serão embarcados por mineradoras como CSN, Namisa e MMX. "Todos nós estamos sofrendo com a descida do preço."
Martins não crê que o ciclo de alta das commodities tenha se esgotado. Ele perdeu a exuberância. "Não temos uma visão negativa do mercado de commodities. Acreditamos que há uma mudança estrutural no mercado mundial, com o centro de gravidade se deslocando para a Ásia. Por isso acreditamos na perspectiva de escassez das commodities no longo prazo, garantindo que a demanda vai continuar a crescer", afirmou.
Fonte: Valor / Vera Saavedra Durão
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