A Vale descartou ontem se envolver em potencial conflito entre o grupo BSG Resources (BSGR), sócio da mineradora no projeto africano de Simandou, na Guiné, e o BTG Pactual e seu sócio na B&A Mineração, o empresário Roger Agnelli, ex-CEO da companhia. Através de sua assessoria, a Vale informou que não pretende entrar como coautora em eventual processo que o BSGR venha a mover contra o banco e Agnelli, conforme notícia veiculada pelo jornal "Estado de São Paulo", no domingo.
A assessoria da BSG Resources no Brasil reafirmou ao Valor a notícia de que o grupo internacional de mineração, com sede no Reino Unido, "planeja e está contratando um escritório de advocacia" para tomar medidas legais contra o BTG Pactual e Agnelli por causa de negociações entre o governo da Guiné, presidido por Alpha Condé, e o banco com vistas a um contrato de apoio financeiro a um projeto logístico que envolve o complexo de Simandou de construção de ferrovia e porto para o escoamento do minério.
Na visão do BSG Resources, quem controla a logística, controla também a produção. A acusação que o grupo faz ao BTG Pactual e a Agnelli é de interferência ilegal nos negócios da VBG, a joint-venture formada entre a BSG Resources e a Vale. A concessão da VBG prevê a construção da infraestrutura do projeto.
As minas de Simandou, com reservas de 7,7 bilhões de minério de ferro, só superadas pelas de Carajás, no Brasil, tem como investidores a mineradora australiana Rio Tinto e a chinesa Chalco sócias nas jazidas dos blocos 3 e 4 de Simandou, enquanto Vale e BSG Resources têm uma joint venture nas minas de Zogota (Simandou Sul) e nos blocos 1 e 2 (Simandou Norte).
Guilherme Paes, sócio diretor da área de Investment Banking do BTG Pactual, disse ao Valor que a ameaça do BSG Resources "está fora de contexto". Segundo Paes, "o objetivo da proposta que enviamos ao governo da Guiné não tem nada a ver com a Vale. Não faríamos nenhum ato hostil contra a Vale, empresa que é importante para o banco", declarou o executivo. A proposta enviada ao governo da Guiné, explicou ele, é para financiar a logística de ferrovia e porto da área explorada pela Rio Tinto. O governo da Guiné quer levantar capital num empreendimento que vai custar ao todo US$ 8 bilhões e no qual terá 51% de participação".
O diretor adiantou que o interesse do BTG Pactual na África é grande e o banco estuda criar um FIP (fundo de private equity) para capitalizar investimentos naquele continente.
O acordo entre o governo da Guiné e o BTG Pactual ainda não foi assinado, informou Paes. A última minuta foi enviada à Condé em julho, mas está ainda em análise. Há duas semanas, o BTG conversou com o filho de Condé, Alpha Mouhamed Condé, que integrou delegação guineense em visita ao Brasil.
A notícia da ameaça do BSGRrepercutiu junto ao governo da Guiné. Em nota divulgada no site Guinee7.com, o ministro das Minas da Guiné, M. Lamine Fofana, chamou de "insultantes, fantásticas e contraditórias" as alegações da BSG Resources. Segundo ele, "as negociações que movem atualmente o Estado da Guiné com seus potenciais parceiros [BTG e B&A)] se desenvolvem dentro de um quadro perfeitamente legal, aberto e transparente". E adiantou que os detalhes do acordo com BTG "será levado a público depois da conclusão de um acerto preliminar". Fofana destacou que são falsas as alegações de que o governo da Guiné quer ver a Vale "sozinha" em Simandou.
Fonte: Valor Econômico / Vera Saavedra Durão
PUBLICIDADE