Apesar do cenário desfavorável para as commodities minerais e metálicas, a Vale continua a fazer "o dever de casa", cortando custos e focando a produção em minas mais competitivas para compensar a perda de receita com preços menores no minério de ferro. No terceiro trimestre do ano, a mineradora alcançou um custo de produção da commodity de US$ 12,70 por tonelada, base porto (FOB), o menor da indústria mineradora mundial. Esse número poderá ficar abaixo de US$ 10 por tonelada em todos os sistemas de produção da Vale a curto prazo, cálculo que considera desvalorização ainda maior do real em relação ao dólar.
Os esforços de redução de custos no minério de ferro, em um ambiente mais fraco de preços, foram reconhecidos pelo mercado ontem, quando a Vale divulgou os números do terceiro trimestre. Entre julho e setembro, a empresa registrou receita líquida de R$ 23,3 bilhões, 117% acima de igual período de 2014, influenciado pela desvalorização do real frente ao dólar. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ficou em R$ 6,8 bilhões, estável, e fechou o período com prejuízo de R$ 6,6 bilhões - quase o dobro da perda de R$ 3,381 bilhões no terceiro trimestre de 2014 -, efeito do câmbio sobre a dívida em dólar. De janeiro a setembro, a receita soma R$ 62,8 bilhões, o Ebitda está R$ 18,2 bilhões e o prejuízo alcança os R$ 11 bilhões.
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A surpresa negativa, na visão dos investidores, ficou com o desempenho da área de metais cuja contribuição para o Ebitda consolidado da Vale foi inferior à ajuda dada pela divisão de fertilizantes, que continuou a mostrar melhorias nos resultados. A ação preferencial da Vale fechou a R$ 14,83, com 0,61% de alta. Já a ação ordinária terminou o dia a R$ 18,51, alta de 2,32%. No ano, a ação PNA caía até ontem 18,34% e a ON tinha perda acumulada de 11,40%. A contribuição mais baixa dos metais para o resultado da Vale foi resultado direto dos baixos preços do cobre e do níquel. O preço médio de vendas realizado pela Vale no níquel, no terceiro trimestre, foi de US$ 10,8 mil por tonelada, queda de 40% sobre igual período de 2014. No cobre, o preço realizado pela Vale de julho a setembro foi de US$ 3,89 mil por tonelada, queda de 34% sobre o ano passado.
O presidente da Vale, Murilo Ferreira, disse que a redução de custos obtida pela empresa resulta de três variáveis principais: câmbio, volumes crescentes de produção e aumento de produtividade. Uma questão que surge é se os ganhos obtidos com o corte de custos reduzem as exigências da Vale de vender ativos para garantir caixa adicional, necessário para fazer frente aos investimentos da empresa. Só este ano a Vale arrecadou US$ 3 bilhões com a venda de ativos, disse o diretor-executivo de finanças, Luciano Siani Pires.
Ferreira afirmou que os desinvestimentos feitos nos últimos anos se relacionaram com a estratégia da empresa. A Vale decidiu focar em minério de ferro, cobre, níquel, carvão e fertilizantes e vender ativos não prioritários fora desses segmentos. Mas as vendas de ativos também tiveram, segundo ele, "aderência" às necessidades de caixa da Vale, em especial no S11D, maior projeto de minério de ferro da história da companhia, hoje em fase final de implantação. A Vale precisou ainda fazer caixa para desenvolver o projeto Itabiritos, em Minas Gerais, e o projeto de carvão em Moçambique.
Siani afirmou que a redução da dívida líquida da companhia em US$ 2,3 bilhões no terceiro trimestre em relação ao segundo trimestre deste ano dá uma folga extra. "Se faltar recurso equivalente [aos US$ 2,3 bilhões] no ano que vem posso aumentar a dívida no patamar em que estava há três meses", afirmou. Portanto, disse Siani, a conclusão do S11D é "inevitável". O projeto deve ser concluído com um balanço saudável porque a Vale abriu espaço na sua contabilidade mediante redução de dívida, afirmou. O mercado continua, porém, a avaliar como negativo o aumento da alavancagem da companhia. A relação entre dívida líquida e Ebitda passou de 2,9 vezes em junho para 3,1 vezes em setembro.
Em relação à venda de ativos, Siani disse ainda que a Vale não está sob pressão para executar qualquer transação de venda que não seja capaz de criar valor para a companhia. "Temos flexibilidade de fazer só aquilo que nos interessa", disse. Ontem, os investidores questionaram a diretoria da Vale sobre a data da entrada em operação do S11D. Mas essa informação só será divulgada no "Vale Day", encontro da mineradora com os investidores na Bolsa de Nova York marcado para 1º dezembro. Outra informação que será confirmada no evento é a meta de produção de minério de ferro da empresa para 2016. Em 2015, a Vale deve produzir 340 milhões de toneladas da commodity e está revisando os números para o ano que vem. O Credit Suisse acredita que a meta da Vale para 2016 poderá ser fixada em 355 milhões de toneladas. A Vale tem dito que vai privilegiar margens ao invés de volumes.
Peter Poppinga, diretor de ferrosos da Vale, disse que a empresa já produziu no terceiro trimestre a um custo de US$ 10 por tonelada em Carajás, no Pará, e no Sistema Sudeste, em Minas Gerais, tomando por base uma taxa de câmbio de R$ 3,50 por dólar. O próximo passo, segundo ele, é "otimizar" o sistema sul, também em Minas Gerais. A entrada em operação do S11D, a partir do ano que vem, vai contribuir para reduzir ainda mais os custos. Poppinga disse que a conta de US$ 10 por tonelada, incluindo mina, beneficiamento e logística até o porto, é um cálculo "conservador" que não considera ganhos de produtividade que podem ser obtidos com o aumento da automação e a substituição de caminhões por correias nas minas.
A Vale garantiu, entre julho e setembro, preço médio realizado para o minério de ferro de US$ 46,48 por tonelada, quase 32% abaixo do preço médio realizado pela companhia no terceiro trimestre de 2014, de US$ 68,02 por tonelada.
Fonte: Valor Econômico/Francisco Góes, Rafael Rosas e Alessandra Saraiva | Do Rio