Mesmo em um trimestre sem grandes baixas contábeis para registrar, a Petrobras voltou a fechar no vermelho. O prejuízo no período de janeiro a março deste ano foi de R$ 1,25 bilhão.
A principal razão desta vez foi o resultado financeiro negativo em R$ 8,7 bilhões, valor 54% maior do que o do mesmo período de 2015, que consumiu todo o lucro operacional do trimestre e é explicado principalmente por duplo efeito da variação cambial na dívida.
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O primeiro deles é que os juros passam a incidir sobre um endividamento maior em reais, o que eleva a despesa financeira nominal. O segundo efeito decorre do impacto defasado da alta do dólar sobre o principal da dívida.
Por conta do uso da contabilidade de hedge esse segundo efeito vinha sendo "represado" e registrado numa conta do patrimônio líquido, adiando o impacto na demonstração de resultados. Conforme a empresa vai realizando suas exportações, esse estoque é paulatinamente reclassificado e aparece como despesa no balanço, reduzindo o lucro líquido.
O petróleo em baixa, gastos maiores com paradas não programadas e ociosidade de sondas - que subiu de R$ 941 milhões para R$ 2,05 bilhões - e perdas adicionais de R$ 544 milhões com recebíveis do setor elétrico foram outros fatores que penalizaram o resultado no primeiro trimestre.
A área de exploração e produção (E&P), a mais importante da empresa, chegou a ter prejuízo de janeiro a março, de R$ 609 milhões, mesmo sem baixas contábeis relevantes.
Em coletiva de imprensa realizada ontem, a diretora de E&P da companhia, Solange Guedes, disse que os custos com sondas ociosas, que somaram R$ 1,7 bilhão no trimestre, vão se repetir ao longo do ano, até 2017. "Existe uma frota que estamos planejando equacionar. Um número de 30 a 35 sondas flutuantes atende a demanda atual da Petrobras", disse ela.
Os destaques positivos ficaram por conta do lucro da área de refino e de uma leve redução no índice de endividamento em reais. A área de abastecimento fechou o trimestre com lucro de R$ 7,976 bilhões, alta de 29% na comparação anual. Segundo a petroleira, o avanço do lucro foi consequência dos menores custos com aquisição e transferência de petróleo devido à redução das cotações de óleo importado na carga processada.
A redução de 22% na importação de óleo e derivados no período também ajudou, refletindo o aumento da participação do petróleo nacional no mix da companhia.
De acordo com Jorge Celestino, diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, o aumento da rentabilidade dos produtos de seu parque de refino tem sido possível devido ao conjunto de investimentos que melhoraram os resultados das vendas dos produtos da companhia. "Reduções de produtos de menor rentabilidade estão sendo feitas de forma significativa."
A Petrobras terminou o primeiro trimestre com R$ 80,5 bilhões em caixa, ante R$ 68,2 bilhões no mesmo período de 2015. A geração de caixa operacional somou R$ 17,3 bilhões, alta de 5,3%, ficando acima dos desembolsos com investimentos, de R$ 14,5 bilhões.
"Se não tivéssemos feito a revisão do plano [de negócios], a Petrobras hoje não teria caixa", disse na coletiva de imprensa Ivan Monteiro, diretor financeiro e de relações com investidores da estatal. A sua gestão reduziu a previsão de investimentos para 2015 de US$ 45 bilhões para US$ 23 bilhões. "A diferença [entre os US$ 45 bilhões e os US$ 23 bilhões] é exatamente o que a empresa tem em caixa hoje, US$ 22,5 bilhões", disse Monteiro.
Em relação à captações, Monteiro destacou que a empresa acompanha "todas as variáveis do mercado" e disse que "os dados operacionais da companhia já começam a se refletir no diálogo que o mercado tem tido conosco".
O compromisso da diretoria, diz Monteiro, é entregar o prometido. "O foco é com relação ao seu desempenho", completou.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner, Rodrigo Polito, André Ramalho, Camila Maia e Fernando Torres | Do Rio e de São Paulo