Depois do pior desempenho para um mês de abril em uma década, o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda) revelou que as vendas de aços planos pela rede associada se encaminham para cair em 2016 mais do que se esperava. Por outro lado, com o terceiro reajuste de preço em três meses, as usinas podem aproveitar o período para recompor margens.
Hoje, a previsão oficial da entidade é de um recuo em 5% no ano. Mas para Carlos Loureiro, presidente do instituto, com os números do primeiro quadrimestre a baixa já parece mais próxima a 7%. Os cálculos podem ser revistos no mês que vem.
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"Vamos esperar para ver se o novo governo que foi composto traz algum ânimo", declarou o executivo. Por enquanto, de janeiro a abril, a queda acumulada nas vendas é de 11,9%, para 1,02 milhão de toneladas. O consumo aparente, que inclui também importados, recuou 32,1%, para 2,56 milhões de toneladas.
Caso, de fato, recue 7%, o volume de vendas das distribuidoras ficaria próximo a 2,95 milhões de toneladas em 2016. Para efeito de comparação, há pouco tempo, em 2013 - melhor ano da série histórica para a rede do Inda - esse número foi de 4,54 milhões de toneladas, disse Loureiro.
Considerando apenas abril, as vendas das distribuidoras chegaram a 246,2 mil toneladas. Em relação ao mesmo mês do ano passado, a queda foi de 8,4%, e ante março, de 15,5%. O volume médio diário (apenas dias úteis) atingiu 12,3 toneladas, o pior nível para abril desde 2006.
Também no mês passado, as compras das distribuidoras foram de 242,3 mil toneladas, 11,1% a menos em comparação anual e uma retração de 17% de março para abril. As importações totalizaram apenas 46,1 mil toneladas, recuos de 68,6% e 8,6%, respectivamente.
Em maio, o instituto acredita que tanto as vendas como as compras das distribuidoras fiquem estáveis em relação a abril.
Para recompor margens, CSN, ArcelorMittal e Usiminas vão promover o terceiro reajuste em junho de 10% nos preços
Enquanto isso, para recompor margens nesse momento pior de consumo, as produtoras de aços planos já alertaram as distribuidoras sobre um aumento dos preços para o mês que vem. A partir da primeira semana de junho, ArcelorMittal Tubarão, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Usiminas vão aplicar um reajuste médio de 10%.
Loureiro disse que há muito tempo não se reajustavam os preços em três meses consecutivos. Em abril e em maio o aço plano brasileiro já encareceu também em cerca de 10% em cada mês. Para o presidente do Inda, a fraca competição do importado é o principal motivo para a decisão das usinas.
Até o fim do ano, todavia, será necessário observar o comportamento do câmbio e o preço do aço lá fora para saber se o reajuste é sustentável. A bobina a quente, por exemplo, após bater quase US$ 480 a tonelada neste ano na China, já voltou a ser vendida a US$ 380. O banco britânico Barclays alerta para o aumento da oferta de aço mundial por conta dos preços mais altos - o que pode pressionar de volta a cotação.
"Como o mercado está sendo impulsionado pelo lado da oferta, olhamos uso de capacidade e tendências importação para saber até onde os preços vão", escreve o analista Matthew Korn em relatório divulgado ontem.
Mesmo assim, Loureiro explica que a competição com o importado não representa uma ameaça atualmente. Com poucos recursos, as compradoras de aço estrangeiro associadas ao Inda necessitam de crédito para realizar as importações, o que está "bem difícil" no momento.
No segmento de aços longos, o executivo disse que a Gerdau já anunciou um reajuste de 8% para este mês. Mas nessa área, acrescentou, os aumentos de preços estão mais difíceis, já que novas empresas entraram no mercado - casos de CSN e da mexicana Simec.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás | De São Paulo