A eventual instalação de um novo governo na Venezuela, aberto à receber capitais privados, demandará tempo para reestruturar o setor petrolífero a ponto de tornar o país um "competidor" para o Brasil em termos de atração de investimentos externos na área, de acordo com a opinião de especialistas ouvidos pelo Valor. Estima-se que, para retomar a produção petrolífera venezuelana para o patamar de 2,7 milhões de barris ao dia, observada entre 2011 e 2015, serão necessários investimentos de US$ 20 bilhões por ano, a maioria privados, durante cinco a dez anos.
Para Raul Gallegos, diretor da consultoria Control Risks, é praticamente impossível traçar um cenário político para a Venezuela para além de seis meses. A principal aposta, no entanto, é que o governo de Nicolás Maduro se mantenha até o fim deste ano - o que agravará as condições de produção petrolífera venezuelana e, evidentemente, da economia local.
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"Nosso caso base hoje é que será muito difícil para retirar Maduro do poder apenas com pressão mundial e sanções, porque a oposição local está fraca. Ela tem apoio dos Estados Unidos, mas é uma oposição muito pacífica ante um governo muito inescrupuloso. Nessas circunstâncias, é muito difícil imaginar que Maduro vai cair e a oposição vai controlar as coisas", afirmou Gallegos, autor do livro "Crude Nation", de 2016, que mostra como historicamente a Venezuela foi incapaz de criar um mecanismo para poupar recursos com a riqueza petrolífera.
Para ele, o segundo cenário mais provável seria Rússia, China, Cuba e EUA negociarem uma solução com a Venezuela. O terceiro cenário, menos provável, seria o próprio chavismo retirar Maduro e colocar outra pessoa em seu lugar. "Este é o cenário mais perigoso, porque você não sabe quem pode assumir o poder", afirmou.
Segundo uma fonte que acompanhou os últimos processos eleitorais da Venezuela e falou sob condição de anonimato, o país precisará de um "Plano Marshall" (plano de reconstrução da Europa após a 2ª Guerra Mundial). Para ele, a melhor saída é a realização de novas eleições após uma eventual queda de Maduro. Mas seria necessário, no mínimo, um período entre seis a oito meses para preparar uma eleição séria no país,.
Questionado sobre a possibilidade de uma intervenção militar na Venezuela, a fonte disse ser pouco provável. Ela, no entanto, destacou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fará o que for necessário para buscar a reeleição em 2020. Nesse caso, não está descartada uma ação na Venezuela, com objetivo eleitoral. "Se algo for necessário para vencer as eleições, Trump irá fazer", disse.
Outro ponto importante será o papel da China e Rússia, que juntas têm a receber mais de US$ 30 bilhões da Venezuela. Na opinião de especialistas, os dois países acompanham de perto a situação, mas sem previsão de ação. Para os dois países, mais importante que a dívida da Venezuela, é manter a influência em um país com o maior volume de reservas petrolíferas do mundo, de 300 bilhões de barris, e situado no continente americano.
De olho no potencial das reservas, algumas empresas mantêm atividades no país, para estarem bem posicionados numa eventual reabertura do setor. Caso da Chevron. Outras, como a ExxonMobil, interromperam as atividades.
Fonte: Valor