Mesmo enfrentando um ano complicado para o setor eólico com alta de preços das commodities e problemas no transporte internacional, a fabricante de aerogeradores Vestas fechou 2021 com um dos melhores anos da história. Agora os planos de longo prazo incluem uma nova fábrica de equipamentos para eólicas de alto-mar (offshore) e hidrogênio verde.
O presidente da companhia na América Latina, Eduardo Ricotta, acredita que a região terá protagonismo nas futuras soluções eólicas em alto-mar (“offshore”) e para o mercado de hidrogênio verde.
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Em conversa com o Valor, o executivo disse que a empresa já visualiza uma nova frente de negócios com a possibilidade de uma unidade focada no segmento. “Estamos fazendo estudos de fabricação local mapeando onde teremos os melhores recursos para saber exatamente o local da fábrica, pois os equipamentos são grandes e a fabricação precisa ser próxima do local onde serão as instalações”, afirma.
Para ele, o decreto do governo federal 10.946/2022, com as principais diretrizes para exploração de eólicas em alto-mar no Brasil, sinaliza que o projeto de novas instalações pode sair do papel, porém este será um mercado de longo prazo. Agentes do mercado falam em leilões A-7, ou seja, que poderão fornecer energia em sete anos após o certame.
O executivo avalia que é preciso haver um arcabouço regulatório mais maduro e menos burocrático para que a empresa concretize seus planos. “Hoje, é preciso passar por muitas áreas para obter as licenças. Se tivéssemos um ambiente com tudo concentrado em um local, que é o que vemos em outros países, ajudaria bastante a desenvolver o ‘offshore’ no Brasil”, diz.
A fabricante dinamarquesa se interessa também por hidrogênio verde. Neste contexto, Ricotta é categórico ao afirmar que o Brasil terá o custo mais barato para produzir hidrogênio verde no mundo pela qualidade dos ventos alísios que sopram no Nordeste brasileiro. “O Brasil pode se tornar o maior hub de exportação de hidrogênio do mundo. Além disso, o Nordeste está bem localizado em relação aos principais mercados mundiais”.
Só em dezembro de 2021 a Vestas fechou contratos com a Renova Energia, Elera Renováveis, 2W, Alstom, entre outras. “O ano de 2021 foi recorde da Vestas no Brasil com a implantação de 2 gigawatt (GW) de entregas e instalação de turbinas, a maior entrega da companhia no mundo para um único país. Isso tudo com pandemia e oscilações.”
A empresa sozinha adicionou 50% da capacidade eólica no Brasil em 2020 e 2021, o plano agora é expandir as fronteiras para outros mercados. Com menos de um ano no cargo, Ricotta tem a missão de comandar uma nova estrutura operacional na América Latina inaugurada no início de janeiro de 2022. O objetivo é melhorar o foco e a proximidade com os clientes.
Ricotta alerta que 2022 será um ano tão desafiador quanto foi em 2021. O executivo não abre os números de investimentos, mas diz que a empresa trabalha com a duplicação de fornecedores em áreas mais sensíveis, contratos de longo prazo e capacidade fixa para evitar que atrasos voltem a ocorrer.
Há outras barreiras a serem superadas. O Brasil e o Chile são mercados consolidados, mas o México tem oferecido barreiras para a expansão das renováveis. A Colômbia começa a dar os primeiros passos no setor, mas o Peru ainda engatinha. Por fim, a Argentina que, após um período de estagnação, voltou recentemente a desenvolver sua indústria eólica.
“Já operamos em 20 países da América Latina. Temos muitos desafios, já que cada país tem sua moeda e regras (...). O importante a destacar é o potencial da região. Cerca de 6% de toda energia gerada aqui vem de eólicas e na Europa é o dobro. Temos o potencial de dobrar este número e o nosso vento é muito melhor”, afirma.
O trauma do setor elétrico com a crise hídrica que o Brasil atravessou ano passado pode inclusive puxar uma demanda de aerogeradores, já que grandes geradoras hidráulicas estiveram pressionadas durante o período seco e algumas precisaram comprar energia no mercado de curto prazo para honrar os contratos. Neste contexto, importantes companhias colocam metas de diversificação da matriz para outras fontes renováveis.
“Vemos também uma migração para autoprodução das empresas dentro de seus planos de redução de custos, além da agenda ESG [sigla em inglês que significa ambiental, social e de governança] que mostra que a produção de fontes renováveis terá cada vez mais valor para os consumidores. Não tenho dúvida que a crise hídrica foi uma grande oportunidade, sim, pela importância de ter outras fontes de energia”, afirmou.
Fonte: Valor