O "boom" da construção naval no Brasil, no rastro dos investimentos bilionários da Petrobras, acelerou um acordo firmado pela finlandesa Wärtsilä com a Nuclep para formação de uma "joint venture" no país. A Wärtsilä quer construir motores navais no Brasil usando as instalações da estatal brasileira a partir do segundo trimestre de 2012.
A empresa está participando da licitação para fornecer equipamentos para as sete sondas de perfuração que serão construídas pelo estaleiro Atlântico Sul para a Petrobras. Robson Campos, que acumula a presidência da empresa no Brasil com a diretoria de serviços, explica que está concorrendo nessa licitação - o lote de sete sondas vai custar US$ 4,637 bilhões - com proposta integrada para fornecimento dos motores, grupo gerador, hélice de propulsão e automação elétrica. Apenas o sistema de posicionamento dinâmico será fornecido por outra empresa que ainda não foi escolhida. A expectativa da multinacional é de que o resultado da licitação seja anunciado pelo Atlântico Sul dentro de três meses.
O Brasil responde por 8% das vendas mundiais da empresa no mundo. É um pouco menos do que a China, que tem a maior fatia, de 10%, mas significa que o país já é um dos mercado mais importantes, junto com a Coreia do Sul e a Índia. "A indústria brasileira offshore vai passar por período de desenvolvimento muito rápido e queremos ser parte disso", afirma Ole Johansson, presidente da Wärtsilä.
O executivo frisa que a atual situação das economias consideradas centrais obriga a Wärtsilä a buscar mercados onde exista boa perspectiva de crescimento. Johansson ressalta que, nos 21 anos em que a companhia está no Brasil, é a primeira vez que se vê projeção tão clara de desenvolvimento sustentável para o país.
"Nunca houve desenvolvimento sustentável como vemos agora. As pessoas estão muito otimistas em relação ao Brasil", diz Johansson, em referência à visão que se tem do país no exterior. Para ele essas expectativas são positivas também para os demais países do Bric (Rússia, China e Índia).
O investimento na Nuclep deve consumir uma parte dos € 20 milhões que a finlandesa vai aportar no Brasil no período 2011-2012. Para quem acha pouco considerando a intensidade de capital dessa indústria, Johansson diz que o valor está em linha com investimentos feitos na Coreia do Sul, por exemplo, onde a finlandesa opera em parceria com a Hyundai. Na Ásia ela se associou China Shipping Group (CSG) e hoje opera sozinha na Índia, onde entrou há 25 anos.
"Produtos dessa natureza não requerem grande capital. A questão é o conhecimento, a habilidade, a tecnologia. É realmente o capital intelectual que é o mais importante", ponderou o executivo.
Jaime Wallwitz Cardoso, presidente da Nuclep, explica que o acordo no Brasil, que começou com um memorando de entendimento e evoluiu para a joint-venture que será assinada hoje, prevê a constituição de uma sociedade de propósito específico (SPE) que terá controle finlandês para evitar que a empresa seja mais uma estatal.
Os investimentos já feitos pela Nuclep serão integralizados no capital da SPE. Com a injeção de capital e a tecnologia da Wärtsilä, a Nuclep vai competir para fornecer equipamentos que serão necessários para desenvolver a produção de petróleo e gás no pré-sal. Jaime Cardoso diz que o tema animou a presidente Dilma Rousseff quando era ministra de Minas e Energia, já que o Brasil precisa recuperar a competência na construção de motores navais que perdeu há 20 anos. "Agora vamos juntar a experiência da Wärtsilä com a nossa impetuosidade", diz Cardoso.
A unidade brasileira da Wärtsilä tem cerca de 600 funcionários e faturou R$ 700 milhões no ano passado. Além de motores navais a empresa também tem forte presença na geração de energia elétrica. No mundo, a companhia faturou, em 2009, € 4,6 bilhões.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner e Rafael Rosas | Do Rio
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