Foram quatro dias no escuro. Somente na quarta-feira o diretor da filial da WEG em Santiago conseguiu encontrar um gerador para alugar. A rotina ainda não voltou totalmente ao normal desde o terremoto de sábado e pode levar semanas até que isso aconteça. Mas assim como muitas empresas em Santiago afetadas pelo tremor, a unidade comercial da fabricante brasileira de motores elétricos vai adaptando suas operações à falta energia, de telefonia e às estradas danificadas que praticamente paralisaram as entregas aos clientes no sul do país.
A WEG Chile mantém um armazém e escritórios numa área industrial na zona leste da capital chilena. São 42 funcionários, sendo três deles brasileiros. Na madrugada de sábado, quando o chão tremeu, não havia ninguém na empresa. Horas depois, Juan Andres Elias, diretor comercial da unidade, encontrou a desordem previsível nas instalações. Motores armazenados em grandes prateleiras estavam no chão, alguns deles quebrados. Vidros das janelas foram estilhaçados e alguns telhas caídas. Ontem alguns itens ainda estavam em locais improvisados; foi preciso alugar uma empilhadeira adicional para remover as peças do chão. O armazém, feito com estrutura de ferro, não sofreu danos sérios. As mercadorias estão seguradas; o prédio, alugado, não. Mas o maior problema para a empresa, são os danos à infraestrutura do país.
"Até agora não tem energia elétrica aqui. Estamos funcionando com um gerador a diesel, que só encontramos ontem [quarta-feira] às 11h. Há uma corrida por geradores desde sábado", relatou ontem Elias ao Valor, por telefone.
Sem luz, a empresa também ficou sem comunicação porque possui uma central telefônica que precisa de energia elétrica para funcionar. Só na quarta, às 13h, os telefones voltaram, graças ao gerador. "Até então estávamos usando celulares e BlackBerry para falar com os clientes e com o Brasil. Algumas pessoas, cuja internet já tinha voltado a funcionar em casa, ficaram trabalhando de lá."
Não por falta de luz, mas por falhas nas linhas telefônicas, algumas chamadas para cidades do sul do país, região mais afetada pelo terremoto, não são completadas senão após muita insistência.
A comunicação terrestre com as cidades de Concepción e outras ao sul de Santiago está ainda pior. Um percurso que normalmente leva cinco horas de caminhão exige agora dez horas, por causa dos desvios obrigatórios e dos buracos.
A WEG tinha encomendas a serem entregues esta semana a clientes ao sul do país, mas que tiveram de ser adiadas. "Há duas estradas que levam ao sul, e em vários pontos há interrupções feitas por rachaduras; algumas pontes caíram", diz Elias. "Acredito que ainda serão necessários mais uns dez dias para que o transporte por via terrestre melhore".
Na quarta, a WEG Chile começou a fazer entregas, todas para clientes localizados em Santiago e arredores. "Fazemos muitas vezes 20 a 30 entregas por semana. Mas até hoje [quinta-feira] foram dez. Muitas estão pendentes."
Elias se conforta com a expectativa de que as mesmas dificuldades de cumprir compromissos nestes dias estão sendo enfrentadas pelos seus concorrentes e portanto, acredita ele, a WEG Chile não corre o risco de perder clientes. Entre os compradores de motores elétricos, relés, controladores e outros equipamentos da marca brasileira estão fabricantes de bombas, de compressores, de redutores, além da indústria de mineração e celulose. As peças vêm todas do Brasil. Ontem mesmo, um contêiner, com peças brasileiras chegava à filial.
Fundada em 1961, a empresa com sede em Jaraguá do Sul (SC), é hoje a maior fabricante de motores elétricos da América Latina e uma das maiores do mundo. Está entre as principais multinacionais brasileiras, com oito fábricas no Brasil e sete no exterior (Argentina, México, Portugal e China).
A WEG no Chile tem um faturamento de US$ 30 milhões por ano. "O terremoto deverá ser um ponto negativo nos negócios deste ano, mas não vai prejudicar nosso desempenho", acredita Elias. Pode até aquecer as vendas, diz. "É possível que empresas no país tenham de substituir e recuperar equipamentos que fornecemos.(Fonte: Valor Econômico/Marcos de Moura e Souza, de São Paulo)
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