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A ver navios

Faz pouco mais de uma década que se instalou em Pernambuco a iniciativa pela indústria naval em um esforço combinado entre os setores públicos e privados para quebrar a dependência brasileira na oferta de grandes embarcações. Dentro deste esforço o setor privado entrava com know-how, o setor público entrava com o financiamento e a Petrobrás entrava com a demanda. Dez anos se passaram, vários navios foram entregues, mas o cenário está longe de ser confortável e, em verdade, a depender da disposição do atual governo em voltar a abrir o mercado a iniciativa corre sério risco de ter um fim abrupto e desolador.

Iniciativas como esta não são casos raros em nossa economia, muito pelo contrário, foram a ordem do dia durante muito tempo, notadamente no governo milita. Substituir importações através da criação de mercado interno era o lema, e isto alterou a cara de nossa economia. Funcionou? Este é um ponto controverso. Muitos dirão que sim, que nos tornamos um país industrializado, saindo do modelo agroexportador que o açúcar e o café nos tornaram da gênese de nossa república. Outros dirão que não, que crescemos baseados em incentivos artificias e que ante a retirada destes incentivos à economia se mostra frágil e sensível a todo tipo de tormento no mercado doméstico e internacional. Ademais, dizem os críticos, ainda mantemos nossa competitividade concentrada no setor agroexportador, como antes.


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E nossos navios vêm do velho modelo de substituição de importações? Sim, eles vêm. A política naval posta em prática pelo governo Dilma é uma política de conteúdo nacional, ou seja, de substituição de equipamento importado por nacional mesmo que para isso seja necessário criar toda a cadeia de fornecimento. Isto do parafuso até o navio inteiro. E eles estavam vindo de onde? O principal player do setor naval hoje é a Coréia do Sul, que investiu pesado nos anos 70 para criar uma indústria naval voltada para o mercado externo e deu muito certo com a Samsung e a Hyundai.

Mas espere, se na Coréia o governo pegou uma indústria de eletrônicos e outra de construção civil e criou os maiores estaleiros do mundo, porque não podemos fazer o mesmo? Infelizmente transladar casos de sucesso está longe de ser coisa simples, porém algumas coisas são bem evidentes. A principal diferença entre as experiências é o foco do negócio, que enquanto lá era crescer para entregar no mercado externo a preço competitivo aqui foi entregar a Petrobrás em preço de mercado doméstico. É claro que com a curva de aprendizado nosso produto ficou mais competitivo, mas estimativas recentes do setor mostram que após uma década e muitos bilhões ele ainda precisa de duas vezes mais horas de trabalho que o coreano.

Como visto antes em inúmeras experiências (como em informática, automotivo e eletrônicos) bastou se aventar a abertura de mercado e o setor em polvorosa. Não é para menos, sem a proteção da legislação o setor não vai sobreviver e ficaremos a ver navios, coreanos. E não basta mudar o foco? Aceitar que o equívoco sem perder o investimento já feito, reorientando as prioridades? Simples de dizer e difícil de fazer. Visar no mercado externo necessita mais que somente vontade, precisa mudar a cultura e esquecer o paradigma do mercado local e as pessoas resistem fortemente a isto.

O que fazer então? Trata-se de uma decisão política visto que o dispêndio já foi feito. Pode-se manter a proteção, e ter de pagar mais caro pelo produto, ou retirar a proteção e compensar a perda do investimento com a compra mais barata do produto. Em última análise pode-se mudar o foco e mirar no mercado externo e, se isto ocorrer, veremos por aqui um estaleiro comandado por Nórdicos, com engenheiros americanos e muitos operários asiáticos. Globalização é isto, você entra de cabeça ou fica com as migalhas.

Fonte: Diário de Pernambuco






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