São bastante conhecidos os benefícios do polo naval em Rio Grande, onde foi concluída a P-53 e começa a ser preparada a montagem da P-55. À medida que o segmento da indústria naval se consolida no Estado, a geração de emprego e renda alcança outras latitudes. Ao menos duas cidades gaúchas, Erechim e Marau, já começaram a produção para a nova plataforma de berço gaúcho, que será montada pelo consório Quip, o mesmo da P-53.
A diferença, desta vez, será a estreia do dique seco, agora na reta final de construção.
Em Erechim, foi numa indústria de fabricação e montagem mecânica e elétrica, a Intecnial, que começou a ser produzida a tubulação destinada à montagem da P-55. Aglair José da Silva comanda trabalhadores, que, como ele, fazem parte de um grupo de mão de obra qualificada. São 65 funcionários contratados especialmente para essa tarefa, que se iniciou em novembro passado e deve chegar ao pico em abril próximo, exigindo então uma centena de trabalhadores.
Aos 62 anos de idade e 40 de trabalho, Aglair já teve endereço profissional em pelo menos cinco Estados. Trabalhando em montagem de refinarias de petróleo, cruzou o Brasil enquanto a família mantém residência em Florianópolis. Vai onde sua mão de obra especializada é requisitada.
Dentro da indústria, o calor é forte, e os equipamentos de proteção e solda intensificam a sensação no pavilhão. Os tubos, de todos os tamanhos e com diâmetros de duas a 24 polegadas parecem trabalho bruto. Ao contrário, exigem habilidade e perícia de um ourives. A solda que os une tem de ser perfeita, sem um único poro, para evitar vazamentos. Tudo o que é feito durante o dia é testado à noite, quando os imensos canos passam por uma inspeção radiográfica.
– Tecnicamente é um trabalho muito delicado – testemunha Aglair.
No final do trabalho, serão mais de mil toneladas de tubulação, transportadas em cerca de 150 caminhões para o Porto de Rio Grande. O mesmo trabalho poderia ter sido feito próximo ao porto, eliminando o transporte, mas com a estrutura montada em Erechim, a Intecnial consegue realizar o trabalho com maior qualidade e segurança. Equipamentos como elevadores e esteiras, que pesam toneladas, tornam mais fácil e segura a atividade dos funcionários.
Os cuidados durante a fabricação da tubulação são grandes. Os tubos são feitos em aço carbono, aço inox e aços-liga. As peças de aço-liga não podem ter contaminação de aço carbono, o que exige uma área especial para o serviço. Toda a matéria-prima usada é certificada quando chega à indústria, e os tubos já prontos não deixam a área sem uma nova certificação.
– Todas essas exigências, somadas ao trabalho complexo, tornam ainda maior a necessidade de mão de obra qualificada, que nem sempre encontramos no Interior – salienta o engenheiro de projetos da Intecnial, Luciano Carlos Zis.
Metade dos funcionários que trabalham no projeto da P-55 na Intecnial são da região norte do Estado, e tem ganhado experiência com o trabalho. Mas os outros 50% vêm de todas as partes do Brasil. Há baianos, paranaenses, catarinenses, cearenses e outros gaúchos vindos da região metropolitana de Porto Alegre para executar o serviço.
Na cidade, os trabalhadores “importados” ficam em hotéis ou casas alugadas para grupos, onde a convivência ajuda a dar a sensação de estar em casa. Afinal, a cada obra desse tipo, eles passam muitos meses longe da família. A produção da encomenda para a P-55 na Intecnial deve durar um ano.(Fonte: Zero Hora/MARIELISE FERREIRA | Correspondente/Erechim)
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