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ANP acusa Chevron de negligência e cassa licença para operar no país

Depois de perfurar 14 poços em águas profundas e 15 dias depois do acidente no campo de Frade, a americana Chevron teve cassada sua autorização para perfurar no Brasil sob alegação de negligência. Quarta maior produtora de petróleo do mundo entre as companhias privadas (atrás apenas da ExxonMobil, BP e Shell), a Chevron opera no Brasil desde 1915 como Texaco, empresa com a qual se fundiu no ano 2000. Desde 9 de novembro, quando surgiram os primeiros sinais do vazamento de óleo em Frade, as ações da petroleira caíram 13,20% em Nova York.

O presidente da Chevron no Brasil, George Buck, foi informado da cassação durante audiência pública na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, da Câmara dos Deputados. Na reunião de sua diretoria colegiada, ontem, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) proibiu a empresa de perfurar qualquer poço no campo de Frade "até que sejam identificadas as causas e os responsáveis pelo vazamento de petróleo e restabelecidas as condições de segurança na área".

A agência reguladora também rejeitou pedido da americana para perfurar novo poço em uma zona mais profunda daquela área com o objetivo de atingir o pré-sal. Ao justificar a medida a ANP afirmou que "a perfuração de reservatórios no pré-sal implicaria riscos de natureza idêntica aos ocorridos no poço que originou o vazamento, maiores e agravados pela maior profundidade".

Segundo a agência, a decisão foi baseada em análises e observações técnicas "que evidenciam negligência por parte da concessionária na apuração de dado fundamental para a perfuração de poços e na elaboração e execução de cronograma de abandono, além de falta de maior atenção às melhores práticas da indústria".

À noite, a Chevron afirmou em nota que vai suspender todas as suas operações de perfuração e informou que a medida não terá impacto sobre a produção no campo Frade ou em outras operações nesse campo.

Curiosamente, a Chevron foi uma das maiores defensoras da indústria petroleira americana quando o presidente Barack Obama declarou uma moratória de seis meses na perfuração em águas profundas no Golfo do México depois do acidente da BP. Na ocasião, o CEO da Chevron Corp, John Watson, disse ao "Wall Street Journal" que "nem todas as petroleiras devem ser consideradas outra BP". Agora enfrenta situação similar no Brasil.

Ontem, diante a audiência na audiência pública, George Buck se comprometeu a apresentar o resultado detalhado da investigação conduzida pela companhia sobre o vazamento de petróleo no campo de Frade assim que o trabalho for concluído. "Nós vamos investigar esse incidente detalhadamente e vamos apresentar os resultados ao povo brasileiro para que não se repita aqui e nenhum lugar do mundo", afirmou.

O executivo voltou a assumir total responsabilidade pelo acidente, posição que pode custar caro do ponto de vista legal se os sócios usarem esse argumento para não dividir os custos. "Estamos conscientes da gravidade e assumimos a responsabilidade", afirmou.

Quando a Chevron perfurava o décimo quinto poço na concessão de Frade aconteceu o acidente que provocou o vazamento. Frade entrou em produção em 2009 e em setembro foram extraídos diariamente uma média de 80.425 barris de óleo equivalente, sendo 74,768 mil barris de óleo e 899,35 mil metros cúbicos de gás.

A partir de 2008 a companhia começou a se desfazer de ativos no país, começando pela venda do negócio de distribuição de combustíveis para o grupo Ultra. A empresa teve participação no bloco BM-S-10, onde a Petrobras descobriu o reservatório Parati, no pré-sal da bacia de Santos, mas vendeu sua parte para os sócios no início da década. Em setembro deste ano vendeu para a Barra Energia os 20% que detinha nos campos Atlanta e Oliva, operados pela Shell. Atualmente a Chevron emprega 420 funcionários no país. Além de operar o campo de Frade tem participação de 37,5% no campo de Papa-Terra e de 30% em Maromba, ambos operados pela Petrobras na bacia de Campos.

A decisão da ANP de suspender a autorização da Chevron foi anunciada no mesmo dia em que representantes da indústria petroleira se esforçaram para acalmar os ânimos, em um seminário promovido pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) para discutir a situação atual e perspectivas do setor, no Rio de Janeiro.

De manhã, o secretário de Desenvolvimento do Estado, Júlio Bueno, chegou a minimizar as consequências do acidente da petroleira na bacia de Campos. Segundo ele, quando comparado a outros acidentes ocorridos no mundo, o da Chevron "não pode ser considerado um grande acidente".

Guillermo Quintero, presidente da BP Energia do Brasil, disse que 2010 foi "um ano muito triste" se referindo ao acidente de Macondo, no Golfo do México. Para ele, acidentes devem servir como lição de como aumentar a colaboração e cooperação entre as companhias.

Jorge Camargo, ex-diretor da Petrobras e hoje assessor da presidência da Statoil, acrescentou que a indústria aprendeu muito com os acidentes que aconteceram nos últimos anos, tanto que o número de desastres diminuiu quando se considera a grande exposição a riscos e acidentes. "A indústria aprendeu muito", disse Camargo. Mas Renato Bertani, da Barra Energia, alertou que alcançar a "meta zero de acidentes" é impossível.

E Flávio Rodrigues, gerente de assuntos regulatórios e relações externas da Shell disse que o momento é "de cooperação, reflexão e tranquilidade".

Fonte: Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner, Juliana Ennes, Rafael Rosas e Rafael Bitencourt | Do Rio e de Brasília






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