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Apesar de aquecido

Ânimo varia entre fornecedores de equipamentos de habitação a bordo, mas  dificuldade frente a estrangeiros é unânime

Os desafios que o setor de navipeças sempre enfrenta são os mesmos que os fornecedores de equipamentos de habitação a bordo são submetidos: deficiências de infraestrutura, pesada carga tributária, ausência de mão de obra qualificada, falta de apoio governamental, câmbio, juros altos e sobretudo uma acirrada concorrência estrangeira. Para muitos empresários, a falta de incentivo do governo brasileiro está sendo muito profícua em gerar riquezas e empregos, mas para fora do país. A indústria nacional, no entanto, que teve seu momento mais auspicioso na década de 70, tenta com esforço e bem lentamente retomar seu dinamismo.

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Antonio Carlos Brasil, diretor da Cobrama-Fibraform, está bastante desanimado. Segundo ele, o fato de ter que competir com fornecedores externos, que possuem tecnologia, tradição e poder econômico, coloca os brasileiros em desvantagem. “Além disso, não temos nenhum apoio do setor público, temos que desenvolver equipamentos com recursos próprios e contar com a boa vontade de alguns clientes que tem se mostrado parceiros, como a Navegação Aliança, do grupo Trevisa, do Rio Grande do Sul”, destaca Brasil. O faturamento da empresa em 2010 foi ainda menor que o de 2009 e a perspectiva para este ano ainda é fraca, devendo melhorar só em 2012. “A crise mundial atrasou quase todos os setores em desenvolvimento e a retomada das atividades está sendo muito lenta. Há muito discurso e pouca ação efetiva”, critica o executivo. A Fibraform é especializada em tratamento de efluentes.

Outro empresário que está sem esperanças é Cidnei Barbosa dos Santos, gerente comercial da Otam Ventiladores Industriais. Para ele, não há perspectivas de vendas para o segmento e não há como medir a competitividade do setor. A Otam não tem participado de concorrências para esse segmento. “Apenas ouvimos dizer que os preços do mercado asiático, especialmente os da China, são muito inferiores aos nossos”, observou. E protestou: “No dia 23 de fevereiro de 2010, participamos de uma reunião no Rio de Janeiro organizada pela Transpetro com estaleiros e 70 empresas consideradas aptas a formar um grupo de navipeças para fornecer à indústria naval. Na ocasião, tivemos oportunidade de conhecer os estaleiros que estavam recebendo pedidos da Transpetro. A Transpetro estava encomendando 48 navios petroleiros e seu presidente, José Sérgio de Oliveira Machado, exigiu que os estaleiros comprassem pelo menos 70% no mercado nacional para possibilitar a competitividade das indústrias nacionais. Ele nomeou uma comissão de trabalho que prestaria auxílio tecnológico, fiscal e financeiro. Mas, até hoje, nada aconteceu.” De acordo com Santos, desde 2009 não há registros de vendas de qualquer equipamento para instalação em navios. “Nossa participação resume-se na substituição de alguns componentes destinados à manutenção de equipamentos existentes”, informou.

Para César Prata, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos para a Indústria Naval e de Offshore, da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (CSEN-Abimaq), um dos maiores problemas reside na questão do câmbio e dos juros, além das deficiências da infraestrutura, que tornam o ambiente desinteressante quando comparado ao das navipeças estrangeiras, sem falar dos regimes tributários especiais concedidos pela União ao setor, que facilitam e induzem a busca de fornecedores fora do Brasil.

É bom lembrar também que vários estados brasileiros não concedem isenção do ICMS aos fabricantes locais mas isentam os importados. “Um dos casos críticos é o de Santa Catarina, que abriga importantes fabricantes de máquinas do setor e tarifa os produtos que saem para os estaleiros de outros estado, privilegiando indiretamente o que vem de fora”, destaca Prata. Para o presidente da CSEN, neste momento, o governo “nos aponta tendências de desindustrialização e repressão à plena atividade econômica. Há, entre nós, um movimento preocupante de fabricantes se mudando para outros países com tributos e burocracias menores”, alerta. E vai mais longe. Segundo Prata, por não haver ambiente econômico que viabilize ou incentive a indústria local, os grandes investimentos e esforços do governo poderão gerar “mais empregos e riquezas em outros países”, provocou.

Na opinião de Prata, mesmo com a exigência de conteúdo nacional nos navios e plataformas em construção, não existe estímulo suficiente para os fabricantes buscarem parceiros locais. No caso dos navios, o único incentivo no momento são os juros diferenciados no financiamento da parte nacional, que tem gerado algum interesse em mais conteúdo local por parte dos armadores de embarcações de apoio marítimo.

“Vivemos hoje um clima ruim e estamos perdendo negócios para estrangeiros. As concorrências em curso são decorrentes de leilões de concessão de exploração, ainda com baixa exigência de conteúdo local ou sem certificação de conteúdo. Em um futuro não muito próximo, acreditamos que a 11ª rodada da Agência Nacional do Petróleo (ANP) estimule mais conteúdo local naqueles empreendimentos que ainda estão por vir e que resultarão em encomendas aos fornecedores dentro de três a sete anos. Neste caso, nosso desafio será sobreviver até lá e esperar que nada mude nas regras”, pondera Prata.

Mesmo com tantos entraves, o empresário brasileiro não está acostumado a desistir fácil e prevê, para os próximos 10 anos, um crescimento vigoroso no setor. “Temos ótimas expectativas para o futuro, bem como já tivemos alguns excelentes projetos desde a retomada dos negócios em 2009. O cenário futuro é muito promissor e o momento é de aportar novos produtos e tecnologia, estar em linha com a demanda deste mercado”, ressalta Carlos Funes, gerente de vendas da Alfa Laval, especializada no fornecimento de condensadores para refrigeração; destiladores para geração de água potável; sistema para tratamento de água de lastro, entre outros.

Na Supply Marine Serviços, mesmo com o seu core business sendo a prestação de serviços de refrigeração e ar condicionado naval, devido ao potencial da área de equipamentos a empresa acaba de firmar parceria com a Bronswerk Marine Inc. Este parceiro atua em países como EUA, China, Índia, Alemanha e França. “Dessa maneira poderemos desenvolver o segmento de equipamentos sem que tenhamos a necessidade de perder o nosso principal foco, o de serviços”, diz o sócio da Supply, Heleno Palmieri Moreira. Segundo ele, no ano passado houve aumento no faturamento bruto de aproximadamente 23,5%. “Pretendemos manter esse nível, obtendo assim um crescimento sustentável ao longo dos anos”, comemora Moreira.

Outro empresário que vê com muito otimismo o setor é Pedro Guimarães, da Macnor Marine – Maritime Cluster of Norway. Apesar de ser uma empresa de representações e serviços na área naval e offshore, que agencia empresas norueguesas fornecedoras de equipamentos, para Guimarães a competitividade com as companhias estrangeiras é altamente salutar. “A competitividade está cada vez mais acirrada. Com o incentivo dado pela Petrobras por conteúdo nacional, aos poucos, alguns equipamentos europeus estarão perdendo mercado. Como são muito conservadores e resistentes a grandes mudanças estratégicas, como criar uma linha de montagem e fabricação no Brasil, ou até adquirir uma empresa existente, eles terão que se adequar no futuro, ou seja, transferir tecnologia para cá e fazer parcerias. Essa é uma tendência real no Brasil, hoje. Para alguns equipamentos será necessário pelo menos 10 anos para começar a ser fabricado por aqui, por exigir um determinado nível tecnológico, mas acho que 50% do navio, contando com o aço, podem sim ser fabricados aqui num futuro próximo”, opina o executivo da Macnor, que hoje viaja constantemente para trazer ao Brasil equipamentos para copa, cozinha e lavanderia, em acomodações, sistemas de sanitários a vácuo e planta de tratamento de esgotos, móveis em MDF e projetos de engenharia que fornecem e instalam pacotes de interiores para todos os sistemas de tetos e pisos, revestimento de convés, mobília e cortinas.

Uma das empresas que está investindo em conteúdo nacional é a já tradicional Lacca, conhecida no mercado de móveis residênciais, mas que resolveu estender seus negócios e criou a Lacca Marine. De acordo com o diretor Renato Cacciola, com o crescimento da indústria naval muitas empresas que há pouco tempo dominavam o segmento sozinhas se depararam com clientes mais exigentes e projetos cada vez mais técnicos. Diante desse novo cenário, decidiram entrar no mercado trazendo seu know how para um setor que era atendido por pequenas marcenarias sem grande infraestrutura. “Hoje em dia encontramos muitas empresas produzindo móveis navais, mas apenas três ou quatro em condições de assumirem grandes projetos”, diz Cacciola, que está animado com os resultados da sua empresa. Em 2010, registrou crescimento de 43% comparado a 2009.  A expectativa é dobrar a capacidade produtiva a partir deste ano. “Com o pré-sal a tendência é que o mercado precise de mais navios, maiores e melhores, com mais autonomia, capacidade de carga e maior tripulação. Com isto, as encomendas devem aumentar e a exigência por melhores acomodações também”, prevê.

De acordo com Cesar Prata, da Abimaq, é preciso reconhecer o empenho de alguns players interessados no desenvolvimento do setor. “Recentemente, em reunião com o presidente da Abimaq,  Luiz Aubert Neto, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli — nosso principal cliente —  se comprometeu a debater ideias e soluções para os problemas do segmento. Estamos otimistas com esta nova fase de entendimento acenada pela Petrobras”, destacou Prata.

Mesmo que o caminho para o progresso seja lento, os empresários acreditam não ser possível ficar esperando que o cenário melhore. Por isso, as empresas têm tentado sobreviver e reagir, investindo em tecnologias, por exemplo. A Alfa Laval, que fabrica condensadores para refrigeração e destiladores para geração de água potável, tem uma linha de produtos com destaque para os dessalinizadores (modelo Aqua), além do  ‘PureBallast’, para o tratamento de lastro.

Já a Otam Ventiladores inova na melhoria dos sistemas com filtragem de ar. Fabrica ventiladores industriais para vários segmentos de mercado, tais como área de conforto, siderurgia, metalurgia, mineração e desempoeiramento. Produz também exaustores para extração de fumaça em caso de incêndios, com testes de resistência a 400ºC, realizados pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, de São Paulo.

A Cobrama-Fibraform, por sua vez, está desenvolvendo um sistema com tratamento com lodos ativado e procurando simplificar ao máximo os equipamentos a fim de oferecer um preço viável para o mercado nacional.

Paralelamente aos avanços tecnológicos e esforços de inovação com o propósito de aumentar a competitividade no setor, os órgãos fiscalizadores do meio ambiente estão sempre monitorando esses fabricantes a fim de saber se estão cumprindo as exigências ambientais. A Petrobras também obriga a todos os fornecedores a se adequarem a diversas regras para que possam tornar-se parceiros comerciais. Certificações como a ISO 9001 e ISO 14001, além de em alguns casos, o manual de Gestão em Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde, são cobrados.

No entanto, há controvérsias até quando o assunto é meio ambiente. Na opinião de Cesar Prata, as velhas, as novas e as futuras exigências ambientais deveriam ser, acima de tudo, isonômicas, também aplicadas nas importações. “O Brasil é um país verde. Nós, empresários da indústria, sempre fomos monitorados por órgãos ambientais muito dedicados e rigorosos. O Brasil é o único país onde crime ambiental é inafiançável. Se peixes aparecerem boiando em um rio próximo de nossas fábricas, isto será notícia de primeira página dos jornais, no dia seguinte. Isso evidencia o quanto a nossa sociedade se preocupa com o meio ambiente e quer o bem do planeta”, finaliza.



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