Após reduzir a estimativa de produção de um de seus campos, as ações da petrolífera foram duramente atingidas, caindo 40,5% na última semana. Quais lições a se aprender com o episódio?
A administração da OGX informou na última terça, 26 de junho, que os dois primeiros poços do campo de Tubarão Azul terão uma produção de 5 mil barris por dia, 57% inferior à estimativa anterior entre 10 mil e 13 mil barris diários.
Como reflexo, as ações ordinárias de OGX (OGXP3) caíram 25% na quarta (27/06) e mais 19% na quinta (28/06).
A comunicação da companhia com o mercado traz para discussão alguns temas relevantes:
1) IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) de companhia pré-operacionais ? O post ?A análise das empresas de Eike pelo fluxo de caixa descontado?, de 20/01/12, mostra a dificuldade para se avaliar companhias em estágio pré-operacional. Métricas usuais como múltiplos (P/L- preço por lucro - ou FV/Ebitda) não funcionam, pois as empresa não apresentam resultados operacionais consistentes no curto prazo. Logo, os indicadores são muito elevados, o que impede uma comparação com seus competidores que já são operacionais. Assim, sobra a utilização do fluxo de caixa descontado, no qual a geração de caixa dos próximos anos é trazida a valor presente a uma determinada taxa de desconto. Como os resultados dos primeiros anos são incipientes, grande parte do valor das companhias pré-operacionais se encontra no futuro. Desnecessário dizer que o investimento nessas companhias apresenta maior risco, porque quanto mais distante, mais imprecisas são as projeções. Além disso, como não há um histórico de resultados, as premissas e estratégias fornecidas pela administração e pelos sócios ganham maior relevância. Daí a forte queda das ações da OGX após o desapontamento com as revisões de estimativas.
Outro ponto a ser discutido é se a bolsa de valores é o ambiente mais apropriado para a negociação das ações das companhias pré-operacionais. Embora questionável, o ?modus operandi? dos analistas de mercado é baseado em análises de curto prazo: os resultados trimestrais e o acompanhamento das notícias. Como essas empresas podem atender a essa demanda dos profissionais de mercado se ainda não produzem resultados?
Embora a discussão comporte vários enfoques, em minha opinião essas companhias não deveriam ter acessado a bolsa de forma tão prematura. Reproduzo parte do meu post ?O fracasso dos IPOs das cias pré-operacionais?, de 11/01/12: ?Essas companhias pularam etapas. Os investidores mais apropriados teriam sido os fundos de participação (?private equities?).
O momento mais adequado para virem a mercado teria sido quando os resultados se tornassem mais consistentes. Sem esses, os analistas concentram suas avaliações em aspectos subjetivos ? a capacidade da administração de entregar o prometido ou as perspectivas do setor em questão. Fazendo uma analogia com a crítica teatral, seria mais ou menos como se os analistas estivessem observando os ensaios e não a peça.
2) Investimento na área de relação com investidores (RI) ? a maior parte das companhias vê o departamento como centro de custos e não de geração de resultados. Prova disso é que na maior parte das vezes o diretor de finanças acumula a função de diretor de RI. Essa configuração faz sentido em empresas de menor porte, mas não nas grandes corporações. O departamento de RI é a porta de entrada para os investidores. É o primeiro contato com a companhia. Os profissionais da área devem entender o linguajar do mercado de capitais, de preferência tendo já atuado nele. As informações operacionais devem ser ?traduzidas? para a linguagem dos analistas e gestores. As expectativas e projeções do mercado devem ser monitoradas de perto pelo RI. Ele deve ter uma postura proativa. É fundamental que o diretor da área esteja concentrado em sua atividade. Um comentário mal colocado pode ter efeito nefasto sobre o preço da ação. E, aí, de que valeu a economia na montagem do departamento?
3) Estimativas oficiais das companhias (?guidance?) ? O administrador deve ser conservador em suas projeções, sejam elas quais forem ? produção, receita, Ebitda ou margem operacional. A partir do momento em que um ?guidance? é informado ao mercado, este passa a ser o mínimo a ser aceito pelos investidores. Após a apresentação de um resultado inferior, as explicações, mesmo que bem intencionadas, não costumam ser suficientes para estancar os efeitos negativos sobre os preços das ações na bolsa de valores.
André Rocha é analista certificado pela Apimec e atua há 20 anos como especialista na avaliação de companhias listadas na bolsa
As opiniões contidas neste espaço refletem a visão do analista sobre as companhias, e não a do Valor Econômico. O Valor e o autor não se responsabilizam por prejuízos decorrentes do uso dessas informações (Veja os termos de uso completos em www.valor.com.br/valor-investe/o-estrategista)
Fonte: Valor Econômico.
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