Um ciclo agora já rotineiro se repetiu na segunda-feira, após o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ter dito que os maiores produtores de petróleo do mundo estavam próximos de um acordo para limitar a produção: os preços do petróleo subiram mais de 1% no início do dia e, então, recuaram rapidamente, registrando queda na terça-feira.
Foi mais uma das recentes previsões otimistas sobre um possível acordo entre os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Mas negociantes de petróleo e analistas do setor cada vez mais consideram tais declarações como estratégia da Opep para elevar os preços no curto prazo.
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"Você tem que levar a sério quando grandes produtores falam de cortes na produção, então é por isso que os preços sobem inicialmente", diz Rob Thummel, gerente de portfólio da Tortoise Capital Advisors, que administra US$ 15 bilhões em ativos de petróleo. "Mas os investidores percebem rapidamente que isso é só conversa sem nenhuma ação e essas altas acabam rapidamente."
Poucos analistas e investidores acreditam que a Opep fechará um acordo significativo em Argel, onde o grupo terá conversas informais na quarta-feira, às margens do Fórum Internacional de Energia, o IEF15, que será realizado na capital argelina entre os dias 26 e 28. Algumas autoridades da Opep dizem que Maduro e outros estão fazendo declarações só para segurar os preços, que chegaram a despencar para menos de US$ 28 por barril neste ano e permanecem obstinadamente abaixo de US$ 50.
"A Opep tem que fazer isso para garantir que os preços não caiam até um certo nível ou subam para um certo nível de que eles não gostem e, recentemente, temos visto muito isso", disse uma autoridade sênior da Opep que acredita que o órgão vai acabar chegando a um acordo. "A Opep tem que falar e falar."
A estratégia de fazer os preços subirem com declarações é supostamente o último recurso disponível para a organização. O grupo outrora tinha o poder de ditar o preço do petróleo e fazer o mercado oscilar para cima ou para baixo ao regular sua própria produção conforme a demanda global. Mas o boom do petróleo extraído de formações de xisto nos Estados Unidos tornou a produção da Opep menos relevante para a definição dos preços. Além disso, alguns membros do grupo, como a Arábia Saudita, estão defendendo aguerridamente sua participação no mercado global e produzindo a todo vapor.
Rusgas internas, como disputa geopolítica por poder no Oriente Médio entre a Arábia Saudita e o Irã, têm dificultado um consenso. O cartel não conseguiu adotar qualquer medida para fortalecer o mercado de petróleo nas três reuniões formais que realizou desde que os preços começaram a cair, em meados de 2014. Uma tentativa de implementar um congelamento na produção em conjunto com a Rússia (que não pertence à Opep) também desmoronou, em abril, quando a Arábia Saudita abandonou as negociações depois que o Irã se recusou a participar.
Sem a capacidade de influenciar o lado da oferta física no mercado, a Opep tem poucas opções para impulsionar os estagnados preços do petróleo, que estão muito abaixo dos US$ 100 por barril que muitos de seus membros, como a Venezuela, precisam para equilibrar seus orçamentos.
Altas temporárias nos preços da commodity são uma injeção de capital de curto prazo para os membros da Opep, e as declarações de seus líderes sobre acordos para limitar a produção mostram a seus cidadãos que eles estão tentando fazer algo sobre os preços.
A cotação do barril de petróleo caiu abaixo de US$ 42 no início de agosto, atingindo uma mínima de quatro meses, quando surgiram relatos de que os membros da Opep estavam mantendo novas negociações sobre um congelamento na produção, que seria discutido no fim de setembro, em Argel. Os preços saltaram imediatamente e ultrapassaram a barreira dos US$ 50 no mês passado.
Desde então, eles voltaram a cair, com o petróleo do tipo Brent, a referência internacional, sendo negociado a US$ 47,65 ontem. Alguns membros da Opep disseram que, mesmo se não houvesse um acordo, suas palavras já tinham produzido efeito.
"Os preços subiram US$ 5 por barril depois das notícias das discussões da Argélia", disse um membro de uma das delegações que planeja participar das negociações na Argélia. "Então, já está tendo um impacto positivo."
A repetição contínua do recurso, porém, já esfacelou a credibilidade da organização para alguns participantes do mercado.
"Fico surpreso que as pessoas ainda levam essas declarações a sério", diz Tom Pugh, analista de commodities da firma de pesquisa Capital Economics. "Nunca há nenhum detalhe, nenhuma confirmação e são sempre os mesmos personagens."
Fonte: Valor / Por Georgi Kantchev, Summer Said e Benoit Faucon | The Wall Street Journal, de Londres