Entidades do estado montam comitê com participação do banco de fomento para aproveitar a onda do pré-sal
Ainda falta muito para que micro e pequenas empresas paranaenses consigam embarcar no bilionário “trem de investimentos” da indústria de petróleo e gás – mas pelo menos elas já começaram a reunir tijolos para construir uma estação de embarque no estado. É o que se pode concluir da primeira reunião da recém-instalada Câmara de Petróleo e Gás do Paraná, realizada na manhã de ontem. Além de empresas e organizações que já trabalhavam no desenvolvimento de um polo local de fornecedores, como Sebrae, Senai, Redepetro e Petrobras, também fazem parte da câmara a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A participação do banco estatal de fomento, aliás, pode ser decisiva para acabar com a apatia do Paraná frente ao bilionário orçamento de investimentos do setor – somente a Petrobras planeja investir US$ 220 bilhões no período de 2010 a 2014. Enfático, o engenheiro Rogério Boeira, do Departamento de Gás e Petróleo do BNDES, enumerou uma série de informações das quais o banco vai precisar para, em 2011 ou 2012, conseguir liberar financiamentos para empresas do estado – algo que hoje é impossível porque pouco se sabe sobre de que e de quanto os possíveis fornecedores paranaenses do setor precisam.
“Não se cria um programa de um dia para o outro, há um trabalho muito extenso a ser feito sobre o possível retorno que ele vai dar. É importante levantar o maior número de dados e oferecer à diretoria [do BNDES] o melhor mapeamento possível, para que, assim, ela aceite mais rápido.”
O trabalho que Boeira vai conduzir deve durar, no mínimo, seis meses. Consiste em reunir, num único documento, uma pilha de informações que hoje estão dispersas ou indisponíveis ao público, ou mesmo que jamais foram levantadas. O BNDES tem de conhecer, disse ele, quais são as demandas mais específicas da refinaria de Araucária, a Repar, em suas obras de modernização, bem como as necessidades de infraestrutura no estado para os eventuais fornecedores. Também precisa discutir, com o governo estadual, a questão dos tributos cobrados do setor e, principalmente, a agilização dos licenciamentos ambientais. Mas a tarefa mais importante, como Boeira salientou várias vezes, cabe aos empresários.
Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo / “É importante levantar o maior número de dados e oferecer à diretoria [do BNDES] o melhor mapeamento possível, para que, assim, ela aceite mais rápido.” Rogério Boeira, engenheiro do Departamento de Gás e Petróleo do BNDES Ampliar imagem
“É importante levantar o maior número de dados e oferecer à diretoria [do BNDES] o melhor mapeamento possível, para que, assim, ela aceite mais rápido.” Rogério Boeira, engenheiro do Departamento de Gás e Petróleo do BNDES
Pré-sal
No Senado, só um projeto tem relatório
Dos quatro projetos em tramitação no Senado que tratam sobre a exploração do petróleo na camada pré-sal, apenas um teve o relatório entregue até agora. O senador Paulo Duque, do PMDB do Rio de Janeiro, relator do projeto que cria a estatal Petro-Sal apresentou seu parecer na Comissão de Infraestrutura na última quarta-feira. No texto, Duque pede a aprovação do projeto e defende que a “Petro-Sal é imprescindível para o sucesso do marco regulatório”.
A Comissão de Infraestrutura, porém, é apenas uma das três comissões pela qual o projeto tramita. E nenhuma das comissões marcou data para a votação dos respectivos relatórios. O senador Gim Argello (PTB-DF) é relator do texto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) cumpre a função na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Como foi o primeiro dos quatro projetos do pré-sal a ser aprovado pela Câmara dos Deputados, foi também o primeiro a receber o caráter de urgência no Senado. Por isso, o texto já foi incluído na pauta do plenário, onde passará a ter prioridade no dia 18. Se até lá não tiver sido aprovado pelas comissões, o relatório pode ser feito em plenário, descartando a obrigação de ser analisado pelos colegiados temáticos.
Agência Estado
“Temos de levantar quem são, exatamente, os possíveis fornecedores. Sem isso, não posso saber o que propor à diretoria do BNDES. Precisamos saber quais as necessidades de funding [financiamento] da indústria do Paraná, em termos de capital de giro, de investimento e de pesquisa e desenvolvimento. Para eu convencer a diretoria a destinar R$ 5 bilhões à área de pesquisa e desenvolvimento do Paraná, tenho que justificar por quê. Não tenho como apresentar dados ao meu diretor se cada um de vocês não enviá-los”, explicou.
Empresas
A dificuldade mais comum das empresas de pequeno porte, reiterada por vários empresários que se manifestaram na reunião, é conseguir entrar para o cadastro de fornecedores da Petrobras, o que exige o cumprimento de uma série de normas técnicas, de saúde, segurança do trabalho e meio ambiente. Mas a reunião evidenciou que também há desconhecimento sobre aspectos aparentemente triviais. “Muitas dificuldades das empresas que nos procuram estão baseadas na falta de informação”, disse o economista Wellington Pereira, da gerência de Planejamento do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), um dos principais repassadores de recursos do BNDES.
Pesquisa divulgada em dezembro passado pelo projeto Cadeia do Petróleo, uma parceria entre Sebrae e Petrobras, mostrou que 76% das 260 pequenas empresas consultadas no estado tinham interesse em fornecer à estatal, mas que apenas 24% tinham procurado informações sobre como fazer isso. Dias antes, durante evento promovido pela Gazeta do Povo, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, chegou a afirmar que o estado “dorme” diante das oportunidades do petróleo, referindo-se à falta de mobilização para conquistar contratos da estatal e de seus fornecedores.
Empresários apontam dificuldades
O empresário Wilson Sugiura é fornecedor da cadeia de petróleo e gás há vários anos. Habilitada no seleto cadastro de fornecedores da Petrobras, sua empresa – a Suguiura Indústria Mecânica, de Pinhais – fabrica peças e máquinas para companhias como a Aker Solutions, multinacional instalada em Curitiba que produz equipamentos para a exploração submarina de petróleo. Mesmo com toda essa experiência, o empresário reclamou ontem que as pequenas empresas, como a dele, ainda têm grande dificuldade em participar de licitações da refinaria de Araucária.
“Estamos vendo a composição passar à nossa frente, mas não conseguimos embarcar. Há uma grande dificuldade em conhecer a demanda da Repar e, quando nos damos conta, a licitação já foi feita, os fornecedores já estão contratados. Temos que construir uma estação aqui, para podermos embarcar nessa composição”, disse Sugiura.
O gerente de implantação de empreendimentos da Repar, José Paulo Assis, justificou mantendo a analogia ferroviária. “O plano de modernização da refinaria começou em 2003. Nada do que ocorre agora, em 2010, é por acaso. Tudo tem um ciclo, que não é curto. Não é o trem que cria a estação, são seus usuários. Então os usuários, as empresas locais, têm que dar um motivo para haver uma estação aqui, construindo um plano de longo prazo. Quero crer que é isso o que estamos começando hoje.”
Financiamento
O maior obstáculo para a curitibana Orpec, que fabrica e aluga andaimes e estruturas tubulares, está no financiamento, explicou o diretor industrial Fábio Szezesniak. “Nosso limite é a capacidade financeira. Como fabricamos andaimes para depois alugá-los, por questões técnicas o dinheiro que precisamos para ampliar nossa produção não é considerado investimento, mas sim capital de giro. E o BNDES não tem uma linha acessível para capital de giro.”
Mão de obra
Entre tantos pontos em que deixa a desejar, a região metropolitana de Curitiba pode se orgulhar de estar desenvolvendo um grande contingente de profissionais qualificados para a cadeia de petróleo e gás. Segundo o gerente do Senai de Araucária, Gilson Kostrzepa, 31 mil alunos foram formados pela instituição nos últimos dois anos, e 25 mil devem ser capacitados em 2010, dos quais 80% com formação voltada a essa cadeia produtiva. Pelo programa Prominp, foram qualificadas outras 4,5 mil pessoas até agora. O desafio, disse Gilson, é manter tais profissionais por aqui.
Essa tarefa já está ficando ingrata, segundo Osmar Zaninelli, presidente da Redepetro, grupo que reúne aproximadamente 50 fornecedoras e potenciais fornecedoras da Grande Curitiba. “Profissionais formados a muito custo por micro e pequenas empresas estão tendo seu passe comprado por companhias maiores. Precisamos de recursos para formar profissionais, mas também para mantê-los em nossa firma.”
Fonte: Gazeta do Povo/Fernando Jasper
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