O executivo-chefe da Akzo Nobel, Ton Büchner, vai detalhar amanhã sua estratégia para tentar defender o grupo químico holandês das investidas indesejadas da PPG Industries, uma rival dos Estados Unidos de maior escala.
Pode ser a última cartada de Büchner, que vai discursar amanhã em uma assembleia de investidores considerada crucial para manter o controle da empresa de 225 anos, cujas raízes se estendem até o inventor sueco Alfred Nobel.
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Büchner vai precisar convencer os acionistas de que sua equipe administrativa pode oferecer mais do que eles poderiam ganhar com a oferta da PPG Industries. A Akzo Nobel rejeitou duas propostas - a mais recente de € 22,4 bilhões - em uma disputa que vem se tornando cada vez mais intensa.
A oferta mais recente equivale a € 88,72 por ação e representa ágio de 35% sobre a cotação da Akzo Nobel, quando as ações ainda estavam estáveis. Os papéis da empresa holandesa nunca chegaram ao valor oferecido pela PPG.
O analista Jeremy Redenius, da firma de análise de investimentos Bernstein Research, disse que Büchner "tem um imenso desafio a sua frente". "Vai ser difícil chegar a um valor [da cotação] próximo à oferta da PPG", disse.
A Akzo Nobel argumenta que as propostas da PPG subestimam o valor da empresa assim como suas perspectivas de crescimento e que resultariam em grandes cortes de emprego. Também destaca que as possíveis exigências reguladoras para vender parte das operações por questões de concorrência tornariam qualquer negócio incerto e que há uma "diferença de cultura" entre as duas empresas.
Ainda assim, ao recusar as ofertas, a Akzo Nobel tenta nadar contra a corrente das fusões do setor químico, sintetizada pela união entre Dow e DuPont, de US$ 145 bilhões. A combinação entre Akzo Nobel e PPG criaria uma empresa dominante no mercado de tintas e revestimentos, onde ganhar escala pode ajudar a elevar os lucros.
Na Holanda, há oposição política ao acordo. A firmeza da rejeição de Büchner em ouvir a PPG, no entanto, alimentou dissidências entre seus próprios investidores. O fundo hedge ativista Elliott Advisors levou um grupo de acionistas - representando cerca de 17% das ações - a pedir que a Akzo Nobel se "entenda" com o outro lado.
Na Holanda, há oposição política ao acordo de uma possível compra da holandesa Akzo pela concorrente americana
"Acho que [Büchner] se encurralou em um canto bem pequeno", disse um dos 20 maiores acionistas, que pediu para não ser identificado. "Agora ele depositou todo seu futuro e sua carreira em passar a mensagem, em 19 de abril [amanhã], de que ele pode gerar mais valor do que a alternativa [oferta da PPG]."
Famoso por suas campanhas agressivas para influenciar diretorias de empresas, a Elliott Advisors também pediu a convocação de uma assembleia especial para propor a demissão do presidente do conselho de administração da Akzo Nobel, Antony Burgmans.
A Akzo Nobel, vem apoiando Burgmans e descarta fazer qualquer tipo de avaliação ou comparação com a oferta da PPG quando a nova estratégia for anunciada.
A seu favor, Büchner tem a vantagem de ser reconhecido como o executivo que tornou a Akzo Nobel mais ágil e lucrativa durante seus cinco anos no comando. Também há planos em andamento para lidar com o "buraco negro" das dívidas com pensões herdadas após a aquisição da rival britânica ICI.
Elevar a receita, porém, vem se mostrando uma tarefa mais difícil e o valor relativo das ações está abaixo do exibido por muitas concorrentes, algo que segundo muitos analistas provavelmente contribuiu para a investida da PPG.
Os acionistas vão estar na expectativa de ouvir mais sobre os planos da Akzo Nobel para desmembrar-se de sua unidade de especialidades químicas, que produz desde substâncias alvejantes até sal.
A empresa avalia que a separação vai ser um divisor de águas, pois permitiria destravar um aumento significativo no valor das ações dos investidores e elevar a relação entre preço e lucro das ações de uma firma que passaria ser exclusivamente de tintas e revestimentos, segundo uma fonte que participou de conversas com a diretoria da Akzo Nobel.
Uma opção que poderia ser bastante rápida seria o desmembramento direto, em que os acionistas ganhariam ações da nova empresa separada. Um investidor, entretanto, descreveu a possibilidade como "desastrosa", já que poderia levar a um aumento geral nas despesas indiretas com a nova firma independente.
Outra opção seria uma oferta pública inicial de ações. As aberturas de capital nessas situações, no entanto, normalmente envolvem a venda de participações minoritárias e, além disso, as recentes ofertas iniciais da área química chegaram ao mercado com descontos nos valores, segundo escreveram analistas do Morgan Stanley em março.
Fonte: Valor