Três notícias negativas pesaram sobre as ações da OGX nos últimos pregões - o atraso nas negociações para a venda de ativos na Bacia de Campos, testes "inconclusivos" no poço Vesúvio e a saída da dinamarquesa Maersk Oil de um bloco na Bacia de Santos.
O alvoroço que as informações causaram no mercado nos últimos pregões, e que levou a empresa a se pronunciar sobre o assunto, seria o reflexo de um momento de transição que a companhia vive, segundo observou o analista Frank McGann, do Bank Of America Merrill Lynch.
"Nos próximos 12 meses, vemos a OGX passando da fase de exploração, muito focada na prospecção de baixo risco na Bacia de Campos, para uma empresa em fase de produção e exploração em áreas de maior risco em Santos, Espírito Santo e Pará-Maranhão", escreveu o analista.
Diante das notícias recentes, que colocam na berlinda prazos de execução e quantidade de reservas, McGann apontou que a companhia pode levar tempo maior para avaliar e desenvolver seus campos e que os volumes produzidos podem não alcançar as metas ambiciosas dadas pela sua administração.
Se os dois riscos se confirmarem, a OGX continuará a ser uma das maiores companhias de petróleo do Brasil. Ao mesmo tempo, a confirmação de qualquer um deles também provocará um importante efeito no cálculo do valor da companhia.
Em novembro, os papéis da empresa recuaram 11%. No começo deste mês, voltaram a sofrer com vendas que - algo que chamou a atenção do mercado - coincidiram com o aumento da negociação e a forte alta dos papéis da novata HRT Participações, que conta em seus quadros com ex-funcionários da Petrobras.
As ações da HRT chegaram à bolsa em 25 de outubro e, no início de dezembro, Credit Suisse e Banco do Brasil divulgaram relatórios de início de cobertura da companhia, sugerindo compra. Em cinco pregões de dezembro, os papéis acumulam alta de 18 %.
Alguns gestores apostam que o setor passa por uma reacomodação, com investidores embolsando um pouco dos ganhos com OGX, que no ano sobe 16%, e olhando, agora, tanto para a HRT como para a Petrobras que ainda acumula, no ano, perda de 29% nas preferenciais.
Foi em meados de novembro que o cenário de mais curto prazo pareceu ficar mais nebuloso para a OGX. No dia 12, a companhia informava a decisão da dinamarquesa Maersk Oil de ceder para a OGX os 35% que detinha no bloco BM-S-29 na Bacia de Santos - da qual era operadora tendo como sócia a brasileira - sem receber por isso, o que aumentou as dúvidas no mercado sobre as descobertas noticiadas pela petroleira de Eike Batista.
A Maersk confirma que repassou a área sem receber nenhum dinheiro, já que a decisão foi de devolver a área para a Agência Nacional do Petróleo (ANP). No mercado a avaliação foi de que essa decisão indica que os resultados obtidos até agora não são promissores ou, no mínimo, que há um enorme conflito de avaliação entre os geólogos das duas companhias.
Não é comum que se devolva uma área sem esperar para vender a participação (fazendo um "farm out", no jargão do setor) que permita ao menos recuperar os custos. Ainda mais depois de noticiada uma descoberta, como é o caso dessa área.
A primeira notificação de uma descoberta no bloco BM-S-29 foi feita em outubro de 2009. Em março deste ano a OGX informava que "na sequência da conclusão da perfuração, o operador Maersk Oil protocolou um Plano de Avaliação de Descoberta" na ANP. Na segunda-feira a petroleira de Eike Batista confirmou notícia publicada no Valor sobre o adiamento para o primeiro trimestre da venda de participação acionária dos blocos na Bacia de Campos, onde a OGX negocia uma fatia de 20% a 30%. A empresa informou que dará andamento ao processo durante 2011, mas não tem data prevista para conclusão do negócio, apesar de haver expectativas no mercado de que ele saísse ainda este ano.
O Valor apurou que entre as companhias que tiveram acesso aos dados da área estão as americanas Exxon e Chevron, a norueguesa Statoil, a francesa Total, a indiana ONGC e as chinesas China Petrochemical Corp. (Sinopec) e a China National Offshore Oil Corp. (Cnooc), que poderiam entrar juntas em um segundo momento.
A Sinopec teria sido a que demonstrou maior apetite mas as conversas esbarraram, segundo o Valor apurou, no preço a pagar pelas reservas, devido às incertezas que ainda cercam as áreas da OGX na Bacia de Campos. A Sinopec chegou a um teto de US$ 8,5 enquanto a OGX acredita que, esperando um pouco mais de tempo e com mais informações, consegue fazer a venda a partir de US$ 12 ou US$ 13, neste momento.
Se o negócio fosse fechado por esses valores, o valor da venda poderia variar entre US$ 10,5 bilhões a US$ 16 bilhões, levando-se em conta a estimativa de recursos prospectivos existentes na área, segundo relatório da consultoria DeGolyer & MacNaughton realizado em setembro de 2009.
Para reduzir a incerteza e aumentar o valor do negócio a OGX decidiu contratar a consultora DeGolyer & MacNaughton para uma nova avaliação de recursos riscados e recursos contingentes para as Bacias de Campos e Parnaíba, com conclusão prevista para o início de 2011.
A OGX tem se notabilizado por divulgar qualquer descoberta de hidrocarbonetos por meio de comunicados ao mercado antes da realização de mais testes. Para alguns analistas, a estratégia é entendida como uma necessidade de gerar notícias positivas, mas como ressaltou um deles, que pede para não ser identificado, o sucesso da companhia ainda depende de uma série de variáveis importantes, como a comprovação da viabilidade econômica das áreas e a comprovação de que será capaz de desenvolver a produção em termos viáveis economicamente.
Fonte: Valor Econômico/Por Cláudia Schüffner e Ana Paula Ragazzi | Do Rio e de São Paulo
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