Apesar do bom desempenho no campo, agricultores reclamam da falta de infraestrutura
A região médio-norte de Mato Grosso é responsável por 40% da produção do grão no Estado. São mais de 7,3 milhões de toneladas, volume superior ao produzido em Estados como Mato Grosso do Sul e Goiás. Apesar do bom desempenho no campo, os agricultores reclamam de um grave problema: a falta de infraestrutura.
— Infraestrutura é rodovia, ferrovia, hidrovia e armazéns — explica o produtor rural Adilson Jacinto da Silva.
Na última safra, o custo para transportar uma saca de soja de Sinop até o porto de Paranaguá, no Paraná, foi de aproximadamente R$ 13, cerca de um terço do valor bruto alcançado com a comercialização do produto.
É uma conta cara que Silva paga todas as safras para levar a soja de caminhão até o Porto de Santos, que fica a mais de 2,2 mil quilômetros de distância da propriedade. A lavoura, de 4,5 mil hectares, fica em União do Sul, município onde o frete é considerado um dos caros do Brasil. Porém, o agricultor não perde as esperanças e acha que os próximos governantes podem mudar essa realidade.
— Acreditamos que o país vá melhorar neste aspecto. É uma responsabilidade do Estado. Todo produtor tem consciência do que é preciso fazer para avançar a produção. Mas é preciso que o governo dê condições para isso. Isso aqui pode ser o centro de produção de toda a América do Sul, é um centro de produção, mas precisa destes fatores para resolver isso — diz Adilson da Silva.
Segundo os especialistas, um dos motivos da falta de infraestrutura e logística para o setor é a concentração em apenas um modal de escoamento. No país, 58% do transporte de cargas é feito pelas rodovias, índice muito acima do considerado ideal, que é de 30%.
— Temos logística deficiente, precisamos mudar este modelo. Optamos pelo modelo mais caro, que é o rodoviário. Teríamos alternativas mais viáveis, como o fluvial, o ferroviário que seria mais barato muito embora o implantado hoje, a 600km daqui, ainda não nos dá o retorno esperado. Mas se houvesse uma diversificação nos ajudaria muito. Esperamos que haja redução dos custos de transporte e incremento da receita do produtor, levando, talvez, a um ganho de R$ 1 a R$ 2 por saca, podendo chegar a US$ 2 por saca. Outra alternativa, enquanto for malha rodoviária, a conclusão da BR-163, que reduzira em 1,1 mil quilômetros a nossa distância até os portos, reduzindo também nossos custos — explica o presidente do Sindicato Rural de Sorriso (MT), Elso Pozzobon.
As mudanças, segundo os produtores, precisam acontecer imediatamente. O aumento da demanda mundial pode tornar o Brasil a maior referência do planeta em produção de alimentos. Mas este lugar de destaque exige preparo. Investir em infraestrutura e logística, diversificando por exemplo, os modais de transporte pode trazer um resultado fundamental: o produto brasileiro se torna mais competitivo.
— Muito se fez, as coisas vêm evoluindo, mas o que se percebe é que as condições são muito precárias. Mesmo o custo do modal rodoviário sendo comparado com o modal rodoviário na Argentina e nos EUA, o modal brasileiro chega a ser até 70% a 90% mais caro. E isso é reflexo automaticamente da péssima qualidade das rodovias.
A condição de ter o maior frete do mundo é resultado da precariedade das nossas estradas e rodovias. Outro fator é relação ao modal rodoviário, que é o modal mais caro que existe para transportar cargas. Além de melhorar as rodovias, precisamos ter alternativas de outros modais. No Brasil central temos grande potencial para implantarmos hidrovias. Precisamos fazer migração e isso precisa começar já. Se queremos pensar em mudanças concretizadas para os próximos 10 ou 15 anos, este governo que entrará já precisa começar a realizar isso — defende o diretor-executivo da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Seneri Paludo.
Fonte: CANAL RURAL/Luiz Patroni | Sorriso (MT)
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