O objetivo da Groenlândia de ganhar independência plena da Dinamarca está mais próximo de se concretizar, uma vez que a alta dos preços do petróleo e o derretimento do gelo provocado pelo aquecimento global despertam o interesse nos combustíveis fósseis que o país tem, da parte de companhias como a Royal Dutch Shelle a Statoil.
"As descobertas recentes de possíveis jazidas de petróleo aumentaram a discussão sobre a questão da independência", disse em uma entrevista na segunda-feira, em Oslo, o primeiro-ministro da Groenlândia, Kuupik Kleist, depois de um encontro com o ministro das Relações Exteriores da Noruega, Jonas Gahr Stoere. "Esse é um objetivo que temos e a cada dia chegamos mais perto dele."
A Groenlândia está apostando que o desenvolvimento de suas reservas de petróleo vai ajudá-la a encerrar quase 300 anos de domínio dinamarquês.
A ilha, no extremo norte do planeta, está despertando "um enorme interesse" na indústria petrolífera para as rodadas de licenciamento de exploração previstas para 2012 e 2013, segundo informação de sua agência de energia, e recebeu um recorde de 17 inscrições de 12 companhias no processo de apresentação de propostas para a Baía de Baffin no ano passado, que incluíram, entre outras, a Cairn Energy, Statoil, Royal Dutch Shell e A.P. Moeller-Maersk.
"Não é um mecanismo automático o de se tornar economicamente autossuficiente e ser um Estado soberano. São duas questões diferentes", afirmou Kleist. "Mas é claro que, se você for economicamente autossuficiente, isso ajuda muito."
O nordeste da Groenlândia tem reservas equivalentes a 31,4 bilhões de barris de petróleo, enquanto que outros 17 bilhões de barris podem estar sob o leito do mar entre a Groenlândia e o Canadá, segundo a United States Geological Survey, uma agência do governo americano.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) produziu 29,2 milhões de barris de petróleo por dia em dezembro, segundo estimativas da Bloomberg. Cairn começou a perfurar petróleo ao largo da costa da Groenlândia no ano passado e informou que encontrou petróleo em um de seus poços.
"Se tudo ocorrer conforme desejamos, entre 5 e 10 anos provavelmente será o cronograma" para o início da produção de petróleo, disse Kleist. Após uma série de tentativas fracassadas de exploradores de encontrar petróleo comercialmente viável na Groenlândia nos últimos 30 anos, companhias de petróleo estão agora voltando ao país porque o aquecimento global está tornando a exploração no Ártico mais viável, levando-se em conta também que as reservas em outras partes do mundo estão se esgotando.
Com os preços do petróleo atingindo o maior nível em 27 meses - chegou a US$ 92,58 o barril na semana passada - e com a legislação mais dura no Golfo do México ameaçando dificultar a exploração na região, as companhias de petróleo estão se voltando para regiões menos hospitaleiras. A Groenlândia concedeu sete licenças no ano passado para oito companhias, que incluíram a Statoil, Royal Dutch Shell e Maersk.
A Dinamarca concede à Groenlândia um subsídio anual de cerca de US$ 608 milhões, ou US$ 10.700 por habitante. A ilha na região ártica, com uma população de 57 mil habitantes, conseguiu autonomia em 1979 e um aumento dos poderes locais em 2009. Segundo a agência de estatísticas da Groenlândia, cerca de metade da economia de US$ 2 bilhões da ilha depende das exportações de camarão.
Kleist não quis comentar sobre quanta receita de petróleo a ilha precisaria para não depender mais dos subsídios da Dinamarca, mas ele disse que a região precisa "urgentemente" ampliar suas fontes de receita. "Estamos tentando desenvolver uma economia mais diversificada, estamos olhando para o turismo, para os recursos minerais e é claro, continuamos olhando para o desenvolvimento dos recursos vivos", disse Kleist. "Da maneira como estamos hoje, estamos muito vulneráveis."
Kleist, que lidera o partido socialista Inuit Ataqatigiit da Groenlândia (que compõe o governo junto com os partidos Demokraatit e Kattusseqatigiit desde junho de 2009), encontrou-se com o ministro do Exterior da Noruega para discutir "questões árticas", incluindo a administração dos recursos naturais, as mudanças climáticas e a cooperação energética, segundo disse Gahr Stoere em uma entrevista.
Fonte: valor Econômico/Marianne Stigset | Bloomberg
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