A economia de Pernambuco está mudando. A instalação do Estaleiro Atlântico Sul e da Refinaria Abreu e Lima iniciou o desenvolvimento dos polos naval e petroquímico no estado e abriu espaço para a chegada de mais empresas. Outras também sonham em fazer parte desta mudança, tornando-se fornecedoras de produtos e serviços. Muitas delas são pequenas. Todas precisam se enquadrar às exigências do mercado. É difícil? Ninguém diz que não é. Mas é possível. Na Noruega, os setores naval e de óleo e gás têm exemplos de sobra de que os pequenos também podem brilhar. Os empreendedores pernambucanos podem (e devem) aprender com as histórias deles, contadas no terceiro dia da série Lições vikings.
Bergen e Ålesund - Sonda, microfone subaquático, guindaste, equipamento para armazenar boia de contenção. Definitivamente, não são produtos que a gente encontra no dia a dia. Alimentam a indústria naval e de petróleo e gás da Noruega. Podem ser fabricados por grandes companhias. Ou então por menores. Elas não são menos capazes que as gigantes. Mas podem ser mais criativas. E são. Por isso, seus equipamentos e serviços estão presentes em navios, plataformas e no fundo do mar.
Na ClampOn, com sede em Bergen, o visitante que pergunta como a empresa começou é apresentado à fotografia de um banheiro entupido. "O encanador pediu US$ 500 (R$ 880) e nós não tínhamos. Fomos em frente assim mesmo", conta o gerente de vendas da companhia, Jarl Gill. O início da empresa foi em 1994. Eram sete empregados, um pequeno galpão e muita vontade de acertar. Acertaram. A empresa desenvolve sensores ultrassônicos que acompanham tudo o que acontece no fundo do mar.
O primeiro grande contrato, dois anos depois, foi com a Texaco. Hoje, a empresa fornece para as principais companhias do setor, entre elas a nossa Petrobras, que começou a usar os produtos da ClampOn em 1998. "Vamos ao Brasil de quatro a oito vezes por ano para fazer marketing dos nossos sensores", diz Gill. Em 16 anos de mercado, a empresa já conta com mais de 8 mil unidades instaladas pelos sete mares. Além da sede em Bergen, tem uma filial em Houston (EUA) e representação em 26 países.
O desenvolvimento de um produto focado em um nicho e o marketing constante são dois conselhos que o gerente dá para as empresas pernambucanas interessadas em fornecer para a refinaria, o estaleiro ou outro grande empreendimento em implantação em Pernambuco. E fora do estado também. "Estamos sempre desenvolvendo nossos produtos", reforça. Os sete empregados se transformaram em 75. A empresa que não tinha US$ 500 para pagar o encanador hoje fatura US$ 15 milhões (R$ 26 milhões) por ano - 85% desse valor vêm das exportações.
"Hoje somos uma empresa de porte médio", comemora Jarl Gill, que sabe falar português. Língua que Jens Abrahamsen não entende nem em sonhos. Mas, como o pessoal ClampOn, ele entende de ouvir o fundo do mar. A empresa dele, Naxys, também produz sensores. O sistema é composto por microfones, que são montados em grupos dentro de uma gaiola e colocados próximo ao local que se deseja inspecionar. É capaz de detectar um vazamento de óleo por um orifício minúsculo, do tamanho do bico de uma caneta. O equipamento está mercado há três anos. Com sucesso.
Navios - Os produtos desenvolvidos pela Evomec, fundada em 2006, ficam acima da água. Nos navios. Tanto naqueles que dão suporte às plataformas de petróleo quanto nos que transportam carga. Um desses produtos, chamado de Modex, é um deck extra para ser "acoplado" acima do deck principal do navio. Faz a embarcação "crescer". Com o aumento, o navio torna-se capaz de levar uma quantidade até 25% maior de contêineres. "O Modex pode ser usado, por exemplo, para separar os contêineres de comida dos de combustíveis nos navios", explica Ove Sandnes, gerente de marketing da Evomec. Eram quatro profissionais no início. Hoje são 28 pessoas trabalhando.
"Toda nossa equipe tem 20, 30 anos de experiência no setor naval", diz Sandnes, que visitou o Brasil duas vezes. A fábrica fica na vila de Tjørvåg, região de Ålesund. Apenas nos dois primeiros anos de trabalho, a Evomec saltou de um faturamento de 4,6 milhões para 84,4 milhões de coroas norueguesas. Traduzindo para dinheiro brasileiro, o crescimento foi de R$ 1,27 milhão para R$ 23,3 milhões. A meta da empresa agora é conseguir todas as certificações e virar fornecedora da Petrobras. De olho, claro, nas maravilhas do Pré-sal. "O mercado brasileiro vive um boom comparado aos outros. Temos que aproveitar", confirma Sandnes. Já podemos nos preparar para a invasão viking.
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Fonte: Diário de Pernambuco/Tatiana Nascimento