Ponte do Limoeiro abriga carpinteiros que fabricam suas próprias embarcações
“Não sou eu quem me navega. Quem me navega é o mar”, já diz Paulinho da Viola. Porém, deixando de lado o mundo abstrato da música, a garantia de uma boa navegação é dada pelos grandes estaleiros. Aqui em Pernambuco, ganha destaque o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), mas outros estão chegando para fortalecer um cluster naval. Além desses grandes navios, a segurança numa boa navegação também pode ser fruto de trabalho dedicado dos carpinteiros em estaleiros artesanais. Um olhar atento do fotógrafo da Folha de Pernambuco Marcos Pastich e a procura da reportagem por esses personagens faz chegar ao leitor a forma como atua a Associação dos Pescadores da Ponte do Limoeiro.
A pequena comunidade fica “alojada” debaixo da ponte, no trecho em que é unido o bairro do Brum ao de Santo Amaro, em frente à Prefeitura do Recife. O personagem desta matéria, José Rogério de Nascimento, o Zezinho, tem 49 anos e mais de 20 dedicados à atividade de confecção de barcos para a pesca. Atualmente, ele comemora a finalização do trabalho da embarcação chamada Um Real. “Era meu aniversário e os amigos foram fazer uma vaquinha para comprar alguma coisa, caiu uma moeda de R$ 1 no barco, num local onde não conseguimos recuperá-la”, recorda, dizendo que o coronel da Polícia Militar que fez a encomenda soube da história e teve a ideia de pôr o título baseado no episódio.
Zezinho reside em Brasília Teimosa. Só que ele contabiliza 10 anos na Ponte do Limoeiro e uns 15 barcos construídos - são necessários 90 dias para a construção de um destes com 8,80 metros de proa a popa. Ademais, perdeu as contas de quantos foram reformados. Cobra-se R$ 5 mil por cada um. Todavia, o motor é o que termina encarecendo o orçamento, variando entre R$ 5 mil e R$ 6 mil quando é usado. O novo pode resultar em despesas de mais de R$ 20 mil. No total, os gastos para ter um barco vão de R$ 12 mil a R$ 40 mil. Pequenos empresários e donos de peixaria é que costumam fazer esse tipo de encomenda. Por mês, a média financeira é de R$ 1 mil para o carpinteiro.
“Para colocar o barco na água, a gente pega tábuas velhas e põe na trilha do mar para que haja o deslizamento. Esperamos a maré encher. Mesmo assim, são necessários de dez a 15 homens para empurrá-lo”, relata Zezinho. São usados 20 quilos de prego e dois metros cúbicos de tábua na confecção da embarcação. Comparar com o gigante petroleiro Suezmax do EAS é algo quase inimaginável: mais de R$ 200 milhões no navio e três mil empregados, além de 272,4 metros de comprimento. As encomendas vêm diretamente de megaempresas ou de subsidiárias, a exemplo da Transpetro (vinculada à Petrobras).
Alheio a todo esse nível de investimento, o pescador José Matias Ferreira da Silva, 48 anos, está acostumado com o alto mar. Da Ponte do Limoeiro, onde trabalha desde os 10 anos, ele foi parar em Fernando de Noronha e até em outro continente, a África, para pescar. “O meu trabalho é esse porque é o que sei fazer”, confessa, deixando pistas quanto ao cansaço que é estar nas águas e receber entre R$ 80 e R$ 340 a depender da semana.
Fonte: Folha de Pernambuco/PAULO MARINHO
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