Fundador da HRT e hoje acionista com 1,7% da companhia, Marcio Rocha Mello se diz cansado de brigar. Diz que pretende ficar de fora da empresa e nega que esteja associado à JG Petrochem Participações, do empresário Nélson Tanure, que já tem 9,62% da petroleira. "Só estive com Tanure duas vezes e, na primeira, a pedido do Milton Franke", disse Mello ao Valor, referindo-se ao presidente da HRT.
Mello ainda é membro do conselho de administração, mas isso mudará quando for realizada nova eleição, marcada para 19 de março. A chapa proposta pelo conselho não traz seu nome, mas traz dois executivos ligados ao novo acionista Tanure: Ronaldo Carvalho, que trabalhou com ele na Docas Investimentos, e Pedro Grossi, ex-diretor do "Jornal do Brasil", adquirido por Tanure.
O conselho, hoje formado por quatro membros, entre Mello e pessoas aliadas a ele, recomenda aos acionistas que votem nos sete nomes da chapa, conforme a ata divulgada. Isso evidencia que os nomes indicados por Tanure têm o apoio de Mello, apesar de o empresário negar associação à JG.
Entre os indicados também estão Haroldo Lima, ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e Hélio Costa, que foi ministro das Comunicações de 2005 a 2010. Ao explicar porque quer ficar fora da empresa que fundou, Mello diz que quer "abrir espaço" para novos investidores e acionistas. "Resolvi sair para deixar a empresa ter gente nova, ter oxigênio. Sempre vou trabalhar para a HRT ser uma grande companhia de petróleo, mas vou ficar fora do conselho para que os novos controladores e acionistas possam conduzir a empresa com liberdade", afirmou.
Entre os acionistas bem-vindos não está o fundo americano Discovery, desde o início de 2013 acionista relevante da HRT. O fundo elegeu em abril do ano passado três conselheiros e, desde então, a desarmonia reina na petroleira, que deve ter fechado 2013 com R$ 200 milhões em caixa e recentemente começou a ter direito a 60% da produção de petróleo no campo de Polvo, adquirido da BP.
Os novos conselheiros forçaram uma redução de custos que resultou em demissões e venda de ativos. Mello declara que voltará a comprar ações assim que terminar seu período de impedimento como conselheiro.
O ápice do desentendimento dos acionistas ocorreu em dezembro, quando, numa reunião de conselho convocada às pressas, quatro conselheiros do grupo de Mello decidiram suspender dois dos conselheiros indicados pelo Discovery e todo o conselho fiscal. O motivo: conflito de interesses por não terem divulgado aos acionistas que trabalhavam em empresas concorrentes da HRT no momento da eleição.
A medida foi considerada arbitrária por outros conselheiros e seis deles renunciaram. A reunião decidiu adiar a assembleia de acionistas de 15 de janeiro, remarcada para 19 de março. Nesse processo, saiu da pauta a proposta de retirar do estatuto da HRT uma "pílula de veneno", que estabelece que qualquer acionista que alcançar 20% da empresa precisa lançar uma oferta por toda a companhia, acrescida de um prêmio.
Também não foi incluída na pauta a avaliação de um pacote de remuneração pago a Mello e outros executivos, cujos termos não foram claramente divulgados aos acionistas. A inclusão desse tema para o debate na assembleia havia sido pedida pelos conselheiros fiscais que, dias depois, foram afastados. Márcio Mello entrou com pedido de arbitragem para decidir se tem que devolver parte dos R$ 9 milhões que recebeu.
Foi no fim de 2013 que o mercado soube que a JG, de Tanure, também estava entre os atores dessa disputa societária. Em 27 de dezembro, ela declarou ter 2,7% da HRT, mas a fatia já subiu para 9,62%. Há dez dias, a JG notificou o Discovery afirmando que o fundo não tem os 17,7% que declara na companhia, mas já superou 20% de participação, o que o obriga a fazer a oferta por toda a empresa. Para sustentar essa informação, a JG cita informações do boletim "Relatório Reservado", que, em novembro, noticiou que o Discovery teria 35% da HRT. A JG não traz nenhuma outra evidência ou informação, mas avalia que, além da participação direta, o Discovery tem papéis da empresa através de "opções, mandatos e/ou swaps". O Discovery não deu entrevista.
A JG também acusa o fundo de ter comprado ações da HRT de forma irregular, com base em informações privilegiadas transmitidas por dois conselheiros que elegeu, Oscar Prieto e François Moreau. Prieto não deu entrevista. Moreau informou que Mello fez uma queixa semelhante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em que falava que os conselheiros estavam em conluio para que certos acionistas tomassem o controle da HRT. Na resposta CVM, Moreau repudiou qualquer conluio. "O que há, em realidade, é uma percepção de conselheiros, investidores e acionistas de que os desmandos do reclamante [Marcio Mello ] e daqueles que ainda controlam a gestão da companhia estão incessantemente destruindo o seu valor de mercado. Nada há além dessa realidade, nua e crua", disse.
Procurado pelo Valor, Tanure não deu entrevista. Por meio de nota informou que "a HRT é uma empresa brasileira de petróleo e gás com enorme potencial".
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner e Ana Paula Ragazzi | Do Rio
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